Fugas - dicas dos leitores

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No topo do mundo, de Tromso a Kirkenes, com Hurtigruten

Estamos em pleno Verão mas está vento e frio no Cabo Norte. Setenta e um graus de latitude norte é muita latitude para um latino. Há uns resquícios de neve, pouca. Camisolas e casacos nunca serão em excesso. Os locais afirmam que até se pode tomar banho no mar — se formos suficientemente loucos para isso. Este mar é para os bacalhaus e para os salmões e arenques. Peixes protegidos pela gordura do célebre ómega 3, num mar calmo a perder de vista do alto das falésias do Cabo Norte, com mais de trezentos metros de altura.

Aqui, no Inverno, a noite é eterna e as neves também. Apenas as reluzentes auroras boreais, com as suas luzes espíritas tão esverdeadas quanto irreais, perturbam de quando em quando a quietude das permanentes noites gélidas. Não há uma única árvore, a vegetação é rasteira e escassa — paraíso das renas, nos meses de Verão, pastoreadas pelos samis, povo autóctone desta região do fim do mundo.

No Inverno, as neves são permanentes e cobrem integralmente os escarpados rochedos e suas montanhas. Curiosamente, as águas do mar, inesgotáveis por entre os fiordes sem fim, não gelam. Umas correntes de águas quentes oriundas do Golfo do México permitem que o mar mantenha uma temperatura que faz com que não solidifique. Deste modo, os autóctones podem pescar, navegar, deslocarem-se utilizando os transportes marítimos existentes entre ilhas e fiordes e até deslocarem-se ao sul, a bordo do incansável e permanente Hurtigruten, que lhes fornece mantimentos e correio durante todo o ano, navegando também na escuridão invernal.

Em Kirkenes, última etapa do Hurtigruten, o pequeno avião levanta voo em direcção à cidade de Tromso. Será cerca de uma hora e meia de viagem até uma cidade conhecida como Paris do Norte, situada bastante mais a sul do que o Cabo Norte. No entanto, Tromso ainda fica a cerca de trezentos quilómetros a norte do Círculo Polar Ártico, à mesma latitude que o norte do Alasca. É a maior cidade da região polar de toda a Escandinávia. Daqui partiram inúmeras viagens de exploração do Pólo Norte, mas essa já é outra história.

 

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