Lembro-me do seu principal cartão-de-visita: os densos tons brancos faiscantes do casario contrastando com as diferentes tonalidades de azuis pintalgados nas suas portas, janelas e varandas que magnetizavam a nossa atenção. E sim, como pano de fundo, o calmo e morno Mediterrâneo. Todo ele banhando aquela acentuada orla costeira composta por vários quilómetros de praias, com areias douradas, desde Marsaa Tunes.
Foi, inequivocamente, um aguçar dos sentidos que me levou ao seu encontro. E a penetrar, bem no seu coração, neste pedaço mágico do Mediterrâneo. Pelas suas ruas, sorvendo a vida, serpenteia um cordão humano de turistas onde, lado a lado, convivem muçulmanos e cristãos. Seguimos sempre na direcção contrária à deles de modo a saborearmos a pé o delicioso empedrado das ruas labirínticas da vila. Uma varanda aqui. Outra ali. Ainda uma outra com uma trepadeira colorida abraçada a si.
Refugiamo-nos do movimento das ruas para sentirmos o ar quente que delas emana. Ruas estreitas. Algumas direitas. Outras inclinadas. Vedadas ao trânsito. Todas elas. Vamos por ali. O caminho é mais fácil. Tem mais sombra. Mas em todas elas há maravilhas de preencher o olhar. Quadros. Telas. Doces. Colares. Cachimbos de água. Animais embalsamados. Chinelos. Tapetes. Espelhos. Tambores. Roupas coloridas. Tabacos adocicados. Compotas. Missangas. Especiarias. Tecidos. Mosaicos...ufa!
E chás. Um mar enorme composto por uma vasta variedade de chás. Todos eles espalhados sobre sacos com as mais díspares formas piramidais. Exalando enigmáticos e exóticos cheiros orientais. Sobretudo aqueles que flutuavam vindo do Café de Nattes. Parece que ainda hoje sinto os aromas das variadas infusões de ervas que aí amavelmente são servidas. Mas a verdadeira cereja no topo do bolo são, inevitavelmente, os perfumes. Sem palavras. Um autêntico regabofe do bom gosto da civilização fenícia e berbere. E tudo isto distribuído em tendinhas de charme, bazares, lojas e cantos com vida própria nos inebriantes souks da vila. Um autêntico hino à riqueza civilizacional dos povos do Mediterrâneo.
Para descansar escolhemos, no meio de várias esplanadas, Sidi Chebaane. Um café onde só apetece preguiçar ao sol. E, pachorrentamente, para consolar a sede, pedimos um quente e electrizante chá de menta. Com pinhões. Um bálsamo para o corpo. Uma dádiva para a mente. Sento-me e sinto-me como um califa árabe.
Do café vê-se, por entre palmeiras e pinheiros, à nossa direita e bem lá em baixo, a praia. Com o seu molhe. Iates. Barcos de pesca. E o Mediterrâneo, ali, a dois passos, com um olhar atento sobre o passado. A perder de vista até Tunes. A espreitar essa imensa mancha azul e branca da vila que repousa e flutua, como uma dobradiça entre o passado e o presente, nesse imenso horizonte mediterrânico.