Fugas - dicas dos leitores

A Normandia, um cenário de guerra

Por Graça Ribeiro

Uma viagem tão histórica quanto cinematográfica pelas praias da Normandia.

Já lá vão uns anos desde que vi o filme O Resgate do Soldado Ryan, realizado por Steven Spielberg e magnificamente interpretado por Tom Hanks. Filme notável pela intensidade brutal dos seus primeiros 20 minutos, que retratam o sangrento desembarque das tropas aliadas na praia de Omaha, na Normandia, no Dia D, a 6 de Junho de 1944, durante a Segunda Grande Guerra. Saí da sala de cinema, com todas aquelas imagens realistas, gravadas na minha mente.

Mais recentemente tive a oportunidade inesquecível de visitar a Normandia. Por todo o lado sente-se a história dessa guerra. Tudo está magnificamente preservado e "guardado".

Primeiro, a célebre ponte Pégasus Bridge, em Bénouville, a primeira a ser capturada pelas forças aliadas (...); depois, Arromanches-Les-Bains, pequena vila que foi escolhida pelos aliados para receber um dos dois portos artificiais mullberry (...); Sainte Mère Église, uma das primeiras cidades da Normandia a ser libertada pelos pára-quedistas na noite de 5 para 6 de Junho de 1944 e onde o soldado John Steele ficou pendurado pelo seu pára-quedas no campanário da igreja, ficando assim inerte, durante duas longas horas, fingindo-se morto, e onde, a evocar esse momento, ali permanece suspenso o boneco que imortaliza a imagem do heróico pára-quedista.(...).

Pisei com grande emoção aquelas praias da Normandia: Omaha, Utah, Gold, Juno e Sword, assim apelidadas durante a Operação Overlord. Já não era a sala de cinema. Ali, onde eu punha os pés, está o lado real: O "Muro do Atlântico", construído pelos alemães, criando uma barreira defensiva com peças de artilharia, bunkers, cones de betão e outras armadilhas. (...)

Quando olhei para a Praia Omaha, "a Sangrenta", a minha imaginação levou-me novamente, para aquelas cenas do filme de Spielberg, aquelas que vão passando no ecrã, em silêncio, brutais, pelo olhar de Tom Hanks, fazendo-nos sentir a angústia e o horror daqueles primeiros momentos do Dia D.

E o silêncio ali continua bem patente. Por detrás dessa praia ergue-se o cemitério onde estão sepultados os mortos em combate. Este cemitério em Colleville-sur-Mer, é considerado território americano em solo francês. Está impecavelmente cuidado, com a sua relva muito verde, onde sobressaem as cruzes de mármore branco, impecavelmente alinhadas, que marcam os locais das sepulturas (...). É um local que nos convida à meditação e à reflexão.

Ao longo desta rota do Dia D, vamos encontrando lojas, museus, cafés com imagens desses dias e, por vezes, alguns homens idosos de boné e camisa colorida, com aparência heróica e majestosa. Esses são os veteranos de guerra, a maioria norte-americanos que atravessam o Atlântico novamente para reviverem todas aquelas memórias.

No meu regresso, trouxe comigo uma parte da História dessa Segunda Grande Guerra, que nenhum compêndio da disciplina consegue narrar com tanto rigor e realismo, pela única razão de que essa "História" viveu ali.

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