Fugas - dicas dos leitores

Óbidos ou a fábrica do chocolate

Por José Alberto Santos

Nasci e cresci num tempo em que falar do mercado de chocolate português era falar da Regina.

O que havia à venda nas mercearias de então eram essencialmente pequeninas tabletes, bombons, um ou outro fruto seco e as emblemáticas Fantasias de Natal da marca Regina. Não havia alternativas. Ou melhor, havia. Só que eram todas Regina.

Desde as sombrinhas de chocolate que comia (quando comia!) na escola, passando por aquelas máquinas de furinhos que havia em feiras e cafés: furava-se um buraco num cartão, com uma esferográfica, e saía depois uma bolinha colorida que correspondia a determinado chocolate como prémio. Era uma época de inocência a tempo inteiro.

Um dia quis mostrar à Ana e à Andreia o que era o chocolate e a indústria na qual ele hoje se transformou. Foi assim que, mesmo sem recebermos os bilhetes dourados do candymaker Willie Wonka para visitarmos a sua fábrica de chocolate, num belo dia marçagão nos pusemos a caminho do Oeste lusitano à procura da nossa fábrica de chocolate. Querem vir?

7 de Março de 2009. Apesar de ser sábado, o despertador grita a alvorada às 6h30. Abro as portadas da janela do meu quarto. Espero ver lá fora um céu azul impossível preenchido por um enorme e dourado disco solar. Mas debalde. O céu está nublado e preenchido de laivos metálicos em tons cinza escuro, prometendo grossas bátegas de chuva. Por volta das 7h45 saímos de casa, ainda com tempo para uma ida até ao Feijó, para apanhar o Vasco. Agora sim: saiam da frente que aí vamos nós.

8h e 1,35 € depois, fica para trás a Praça da Portagem da Ponte 25 de Abril. Sempre acompanhados de nuvens e céu cinzento entramos em Lisboa, a porta atlântica da Europa, onde mais adiante embicamos pelo Eixo Norte-Sul para seguirmos em direcção ao Oeste, tomando a A8. Montachique é de seguida, de acordo com as tabuletas. À nossa esquerda, em plena serra, o vento agita as gigantescas pás das hélices do parque eólico, capazes de fazer inveja a qualquer moinho de Cervantes. Pelas 8h48 e 72,5Km já percorridos, passamos pelo viaduto de Alcabrichel. A barriga já dá horas. Paramos para degustar um glamoroso farnel caseiro que a Ana trouxe de casa. São servidos? Leite com café, bolos de arroz, sandes de queijo e fiambre, mais umas fatias de pão-de-ló caseiro e umas bolachinhas gulosas.

Pelas 9h21 chegamos ao Bombarral, onde, por 4,3o€, deixamos para trás a A8. Finalmente o IC1. Olho lá para fora e à minha esquerda, numa colina, aparece-nos uma vila a que os nossos antepassados romanos apelidaram de Eburobrittium, nos nossos dias mais conhecida como Vila de Óbidos. A primeira imagem que nos invade é a de uma vila tipicamente medieval, anelada por uma muralha, albergando no seu interior histórias e memórias de um tempo em que havia reis, rainhas e castelos. Estacionamos o carro. Um bocadinho a pé e um bocadinho andando e um par de minutos depois chega-se à bilheteira. Aí, de bom grado, cada um de nós dá 5€ pelas simpáticas pulseirinhas que nos irão habilitar ao verdadeiro motivo que nos trouxe aqui: o VII Festival Internacional do Chocolate de Óbidos. Esta é a nossa Fábrica do Chocolate.

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