Fugas - dicas dos leitores

Verona para além de Romeu e Julieta

Por Alfredo Magalhães

Não sou de dar importância a lendas ou efabulações fantasiosas. Por isso, tinha passado por diversas vezes junto a Verona em viagens pelo Norte de Itália e nunca sentira a atracção de a visitar, julgando erradamente que se resumia à varanda da casa da Julieta.

Mas desta vez, como precisava de fazer horas para apanhar o avião de madrugada de regresso a Portugal, resolvemos parar em Verona. E a cidade encantou-nos. Ficou já em agenda para uma visita mais demorada e detalhada num futuro breve.

À entrada já nos impressionou a robusta ponte muralhada Scaligero, mas não parámos. Entrámos pela enorme e bem reconstruída muralha medieval e fomos estacionar bem perto da Ponte de Pedra e não longe da Catedral de Santa Maria Matricolare. Mas o meu desejo principal era chegar depressa ao verdadeiro centro histórico de Verona, que é a Piazza delle Erbe, antigo fórum romano e onde na Idade Média se fazia um mercado de ervas.

Antes de chegar junto do enorme edifício romano da Arena, ao estilo do Coliseu de Roma, passámos em frente dum elegante e grande edifício neoclássico que soubemos depois que era a câmara municipal. Entre os dois edifícios e o casario fica a Piazza Brà, cheia de bares e sempre animada. Naquele fim de tarde havia muitas pessoas paradas por ali.

Seguimos por uma das ruas que nos levava ao centro, sempre acompanhados por enorme massa humana.

Chegámos finalmente à Piazza delle Erbe. É uma praça impressionante. Tem uma série de edifícios antigos, renascentistas ou medievais. Dois deles chamaram-nos mais a atenção: a Torre dos Lambertos e a Casa do Mercador. O primeiro é uma construção do século XV com uma torre altaneira a abrilhantar um bonito palácio. Do alto da torre, a panorâmica que se tem sobre a cidade é fantástica, mas não tínhamos tempo. Aproveitámos os escassos minutos para admirar a vistosa Casa do Mercador, uma casa apalaçada de um abastado comerciante medieval. Não longe da Torre dos Lambertos fica uma elegante fonte romana, reconstruída na Idade Média, que se chama Fonte da Senhora Verona. A fonte fica quase defronte de um elegantíssimo palácio renascentista, Palácio Mattei, e por detrás dele há uma passagem para o verdadeiro centro do poder antigo — Piazza dei Signori.

Ficou por ver em detalhe tudo isto, como ficou por ver a bonita Basílica de S. Zeno e o Castelo Velho.

Antes de regressarmos, e seguindo a corrente enorme de pessoas, fomos espreitar a Casa da Julieta. Fica perto da Piazza delle Erbe e num beco sem saída. À entrada as paredes estavam inteiramente escrevinhadas em diversas cores e diversas línguas, imagino que mensagens de presença amorosa em tal sítio. A casa parece ser tal e qual o relato de um escritor alemão do século XIX: um albergue miserável e sem qualquer interesse. É uma casa medieval sem grande beleza e com uma varanda elevada à qual se pode subir pagando bilhete.

É incrível que numa cidade como Verona, com tantos monumentos de uma beleza ímpar, seja uma casa onde a lenda situa uma fábula aquela que atraia mais pessoas. Para cúmulo, quase todos acham que foi Shakespeare que inventou tal história. Mas o dramaturgo inglês limitou-se a traduzir e a transpor para teatro um conto de Luigi da Porto, um militar de carreira que nos tempos livres se dedicava à escrita.

 

--%>