Fugas - dicas dos leitores

Maurícias, umas férias repousantes

Por Manuela Santos

Era domingo, ainda a manhã se espreguiçava lentamente enquanto eu, pouco liberta do último sono, ia observando pela janela a passarada que rodopiava ao redor dos canteiros da rua.

Aproveitavam uma suave temperatura matinal e os manjares que os arbustos, em estado primaveril, lhes ofereciam. Enlevada com os seus cantos, rapidamente o meu pensamento voou e me arrastou para a recordação da viagem que fizemos às Maurícias.

Não se pode dizer que foi por acaso, já que este meu estado de tranquilidade ao observar os pardalitos e os melros foi semelhante ao que ali senti, enquanto estivemos na praia Flic-en-Flac. Por lá, logo pela manhã, o mar tranquilo e de temperatura deliciosa, 25°, convidava-me ao mergulho e a umas boas braçadas, para logo me estender ao sol junto ao jardim do resort. Uma temperatura do ar idêntica à do mar, uma vez que fomos em Julho, na estação mais fresca e seca, criaram um ambiente calmo, sem o calor  exasperante, melhor também para as aves que por ali andavam.

Era na vegetação exótica do jardim estendido até às areias da praia que pássaros até então para mim desconhecidos se mostravam exuberantemente belos. Nunca tinha tido oportunidade de me encontrar numa praia onde as aves se abeiravam de mim completamente despreocupadas. Porém, nos primeiros dias de veraneio, andei um pouco apreensiva porque descobri que repartíamos o apartamento com várias lagartixas de cores vivas em vermelhos e amarelos e que, durante a noite, faziam um ruído muito estranho. Resolvemos deixá-las em paz e acabei por me habituar à sua companhia.

Na opção de passarmos férias nas Ilhas Maurícias pesou o facto de sentirmos necessidade de férias repousantes, num hotel do tipo tudo incluído, para pôr a leitura em dia, dar uns belos mergulhos e desfrutar de uma praia paradisíaca com uma paisagem de encher o olho. Não encontrámos uma floresta densa a espraiar-se pelas areias como imaginara, mas uma praia igualmente bela, tendo como cenário uma pequena montanha em verde viçoso cuja imagem se reflectia serenamente nas águas mornas e calmas da baía.

A paisagem da ilha, pelo menos nos poucos lugares visitados, estava demasiado humanizada com o cultivo de cana-de-açúcar que substituiu a flora nativa e, também, com os vários empreendimentos hoteleiros que servem o turismo de grande impacto na economia local. Julgo, no entanto, que perdemos, algures, pontos de interesse e paisagens um pouco mais exuberantes.

Os dias iniciais permitiram-nos repousar e recuperar de uma viagem de 13 horas, saborear a belíssima gastronomia multicultural, uma combinação perfeita da cozinha crioula, francesa, indiana e também chinesa. Foi o resultado da tutela a que o território esteve sujeito, ao qual se juntou a forte influência da imigração indiana e alguma chinesa. Estas culturas vieram acrescentar um toque especial à confecção da comida, dotando-a de sabores exóticos, mas equilibrados para quem não gostar de comida demasiado picante.

Viajar num sistema de tudo incluído obriga-nos a ficar fixos num hotel, uma vez que as refeições estão pagas e qualquer saída para fora acrescenta despesas, contudo perde-se o contacto com os locais, o que é pouco interessante. Tínhamos que ir a algum lado! Decidimo-nos por um local mais a sul, para verificar se haveria um bom spot para prática de windsurf. O Luís andava entusiasmado com a modalidade e tinha lido que havia um perto de Le Morne. Apanhámos um autocarro muito velho, com um barulho de latas a bater por todo o lado e rodeados de uma população miscigenada. Negros, mulatos, indianos. Sentimo-nos contrastantes e isolados na nossa pele branca, mas todos os nossos companheiros de viagem não deram a isso a menor importância.

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