Sintra é um daqueles lugares que nunca diríamos ser em Portugal, por contemplar espaços que mais parecem saídos de um qualquer conto de fadas. Falo, claro, dos palácios, como o do Pena, cuja entrada pelos jardins e caminhada pela serra de Sintra acima não desilude, embora se faça a custo para quem não faz exercício físico de forma regular.
O palácio encanta já de longe pelas suas cores vibrantes, mas ainda mais ao perto, pela imponente construção. São inúmeras salas de pequenos tesouros, como um conjunto de relógio e candelabros em tons de rosa em que pequenas figuras sobressaem como se ganhassem vida. Vemos quartos de reis e rainhas e os olhos fixam-se nas camas trabalhadas e nos serviços de porcelana que muitos coleccionadores davam tudo para ter consigo.
Dentro dos jardins do Palácio da Pena há outro espaço idílico, o Chalet da Condessa d’Edla. Todos nós, pequenas a brincar com bonecas, sonhávamos um dia ser princesas e viver num sítio assim. Uma autêntica casa encantada que presta homenagem à natureza que a rodeia com ramos das árvores na própria decoração. A condessa recebe-nos à entrada, numa maquete da sua figura à escala real, e por dentro prende-nos com o detalhe dos tectos, paredes e janelas, que certamente guardam inúmeras horas neles embutidos. Dentro dos jardins da Pena, há miradouros onde podemos contemplar o imenso verde e, para os mais corajosos, nada melhor que a subida até ao topo, à Cruz Alta.
O Palácio da Pena é o postal de Sintra, mas a visita é também obrigatória ao Castelo dos Mouros, que nos remete aos tempos antigos e nos oferece uma das melhores vistas da vila; ao Palácio Nacional, em que se destacam as duas massivas chaminés e as magníficas salas dos Cisnes e dos Brasões; e à Quinta da Regaleira, em que se perde, ou melhor, se ganha uma manhã ou uma tarde inteira a descobrir cada recanto, cada flor distinta, cada estátua intrigante, além do Palácio, da Capela ou do Poço, e do delicioso bolo de laranja do café adjacente.
Mas falar de Sintra sem falar do Palácio de Monserrate seria quase pecado. Subindo a Regaleira e passando o Palácio de Seteais, hoje transformado num hotel, uma caminhada de dois quilómetros leva-nos a mais um local perfeito para uma história de amor. O jardim é agradável, com o pico na Cascata de Beckford, mas é o palácio que nos exalta os sentidos. A inspiração é claramente árabe e o nível de pormenor é soberbo. Cada patamar tem um padrão diferente, mas todos juntos formam um quadro irrepreensível, desde as paredes até aos vitrais. Os canteiros pela propriedade com flores coloridas, em contraste com a predominância do branco no interior, concedem a este palácio uma beleza fora de série.
Além de todos estes locais que se devem ver pelo menos uma vez na vida, Sintra tem um riquíssimo centro histórico, com artesanato a sair pelas lojas fora e a chamar os clientes que ficam logo vidrados pelo trabalho à mão que vale cada cêntimo. Há borboletas, andorinhas, mochos, girassóis em louças que surpreendem e nos fazem perder a cabeça e querer trazê-las todas embora. São ruas e ruelas com escadas e pessoas de sorriso no rosto que nos recebem ainda melhor se formos gema nacional. “São tantos estrangeiros que é tão bom encontrar portugueses”, diziam-nos, em tom de desabafo. Apreciavam o turismo mas a língua-mãe é a língua-mãe.