Fugas - hotéis

Mariana Correia Pinto

Aqui sabe bem acordar

Por Sandra Silva Costa

Até dormimos bem, numa cama alta, charmosa e confortável, mas há aqui qualquer coisa que não bate certo. Que estranha vontade teve Sandra Silva Costa de saltar para fora do seu quarto, na Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, num ápice? É o Douro, senhores!
O melhor é o acordar e quase sempre o acordar é custoso. Aqui sabe muito bem despertar. Até podemos estar ainda meio estremunhados, de olhos semicerrados, que basta abrir a janela para querermos saltar lá para fora num ápice. Será seguramente pelo Douro que corre sereno lá em baixo e que nos entra pelo quarto adentro sem pedir licença e ainda bem que entra. Mas será também pela extensa vinha a perder de vista, que neste final de Junho está verdinha, a tingir a terra árida que se espraia pelos montes em redor. Ou ainda pelo barulho que não se ouve e pelo trânsito que não se vê nas estradinhas ao fundo. Bom dia, bemvindo à Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo.

Íamos no acordar, portanto. E se íamos neste ponto talvez o melhor seja mesmo começar do fim para o princípio. Chegámos ontem ao final da tarde e partimos daqui a umas horas. Acordamos, tomamos banho com cheiro a produtos Caudalíe (e com o mesmo Douro numa nesga da janela) e temos pequeno-almoço à espera. Não pode dizer-se que seja um daqueles que nos fica na memória, mas na verdade está lá tudo o que precisamos para começar bem o dia: leite, café, pão fresco, bolinhos, manteiga, compotas, sumo de laranja e iogurtes. Para acordar mesmo, mesmo, uma Nespresso à mão de semear.

E agora já estamos cá fora, a sujar as sapatilhas pelo meio da vinha; a sentir o Sol quente a bater-nos nas costas; a ouvir as explicações do enólogo Francisco Montenegro, que nos guia nesta visita pela adega; a querer saltar para a piscina com vista para o rio; ou simplesmente sentados nos sofás do alpendre a tentar ligar o GPS que nos passaram para as mãos para partirmos à descoberta do tesouro a que tem direito quem supera com sucesso as provas do “winecaching”.

Passemos à noite de ontem. Jantámos também por aqui e na sala estava apenas um casal alemão. Na Quinta Nova, as refeições, que têm o aconselhamento do chefe Rui Paula, do famoso D.O.C, na Folgosa, têm de ser encomendadas. Acompanham sempre de perto as receitas antigas confeccionadas com produtos regionais e incluem também sobremesas típicas. A nós calhounos brás de frango e gelado com molho de frutos silvestres.

Passaremos a próxima meia hora sentados nas cadeiras dispostas na ramada com um copo de Porto na mão, a ouvir os sons da quinta que são apenas os sons da natureza.

Olhando em volta, o breu da noite é apenas cortado pelos faróis de um carro que circula lá ao fundo, pelo meio do monte. Estaria uma noite perfeita, não fosse a brisa que agora corre e que nos obriga a procurar refúgio no bar vínico, instalado no rés-do-chão do edifício principal da quinta. Tem uma biblioteca temática e é o local ideal para uma das várias provas de vinhos que podem fazerse na Quinta Nova. A um canto, uma mesa para jogos, que ocupamos agora para jogar Bismarck.

Deixamos a bisca para mais logo, para quando já estivermos no quarto. Instalaram-nos num dos dois quartos “premier”, aos quais acedemos depois de passar pelo jardim de Inverno da quinta, uma sala com duas frentes para o Douro, onde confortáveis poltronas convidam a momentos de leitura ou simplesmente de relaxamento. De volta ao quarto, o nosso. É o número 33 e tem duas altíssimas e confortáveis camas e mobiliário tradicional português. No andar de baixo, há mais um quarto “premier”, este com uma cama de dossel.

Para além destes, a Quinta Nova tem ainda cinco quartos “standard”, com janelas que saem directamente para o alpendre, de onde se tem uma invejável vista para o Douro.

Juntem-se-lhes os quatro de classe superior, que passam em revista as diferentes épocas de mobiliário na região, e está completa a oferta de acomodações do Hotel Rural da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo.

Aquele que foi também o primeiro hotel vínico em Portugal nasceu da reconstrução, em 2005, da antiga casa senhorial oitocentista implantada na propriedade de 120 hectares (80 dos quais com vinha).

Tem também uma loja de vinhos e de produtos gourmet (em obras quando a Fugas lá esteve) e uma sala para provas de vinhos. Dentro dos muros da quinta há ainda duas capelas (uma, pequenina, erguida pelos mareantes do Douro no século XVII, foi a que deu nome à propriedade, e fica lá em baixo, quase escondida, junto ao rio).

Em Maio, a Quinta Nova abriu a sua Wine House, na estação do Pinhão. Foi daqui mesmo que partimos, ontem à tarde: entrámos na loja, deitámos o olho aos produtos (vinhos, claro está, mas também chás, compotas, azeite e mel) e pedimos as coordenadas para chegar à Quinta Nova. “Atravessam a ponte e depois é quase sempre em frente e há indicações.” Dezoito quilómetros e umas quantas curvas e contracurvas depois, cá estamos nós junto ao portão da Quinta Nova.

O que faltava dizer era isto: fica em Covas do Douro, concelho de Sabrosa. Mas também já tínhamos avisado que íamos começar do fim para o princípio...

A Fugas esteve em Covas do Douro a convite da Quinta Nova

Como ir
Do Porto, um dos trajectos possíveis (o que fez a Fugas) é via Régua. Para isso, apanhar a A4 em direcção a Vila Real e depois o IP4. Sair para a Régua. Já na Régua, passar a ponte sobre o rio e apanhar a EN222, em direcção ao Pinhão. Uma vez no Pinhão, o mais fácil é aproveitar para visitar a Wine House e pedir indicações. São mais ou menos 18 quilómetros até chegar a Covas do Douro.


O que fazer
À primeira vista, o que mais apetece é não fazer nada dentro dos 120 hectares da Quinta Nova e ficar apenas a contemplar a paisagem numas das confortáveis espreguiçadeiras dispostas na zona da piscina. Mas são os mesmos 120 hectares que quase nos impelem a aceitar os vários desafi os que nos são propostos pelos responsáveis da quinta. Temos vários percursos pedestres aconselhados, com diferentes durações, que nos permitem descobrir todos os recantos da propriedade (o miradouro, os pomares, a capela de Nossa Senhora do Carmo, a azenha, o marco pombalino). A quinta lançou entretanto uma nova actividade: o “winecaching”, que se baseia nos mesmos princípios do “geocaching”, uma espécie de caça ao tesouro realizada a nível global por pessoas de todo o mundo, com recurso à tecnologia e aparelhos GPS. A Quinta Nova adoptou e adaptou o conceito: o “winecaching” consiste num desafi o para encontrar um conjunto de recipientes (“winecaches”) escondidos, com a ajuda de um GPS. O jogo pode ser feito individualmente ou em grupo, e leva-nos a percorrer o espaço da Quinta Nova à procura dos objectos. Quem cumprir com sucesso o desafio tem direito a prenda e tudo.


Onde comer

Pode-se comer na Quinta Nova, como já explicámos, desde que se marquem as refeições. No entanto, quem preferir arriscar outra coisa fica desde já a saber que há na região um restaurante imperdível: o D.O.C., na Folgosa. Fica a mais de meia hora da quinta, mas a viagem vale mesmo a pena. A comida é óptima (nós experimentámos chamuça de moura, como entrada, e bacalhau com broa e cabritinho como pratos principais e já não tivemos estômago para sobremesa...), a vista sobre o rio é soberba. A conta não será propriamente suave, mas a experiência é mais do que recomendável.


Hotel Rural Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo
Quinta Nova
5085-222 Covas do Douro
Telefone: 254730430 | 969860056
Email: quintanova@amorim.com
www.quintanova.com/hotel

Preços (2011)
Quartos duplos desde Standard a 126€ (ep. baixa) e 146€ (ep. alta) a Premier a 161€ (ep. baixa) e 182€ (ep. alta)

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