Fugas - hotéis

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A Companhia das Culturas ou a celebração de um lugar

Usa a comida para despertar a curiosidade dos clientes. Faz, por exemplo, mormos de atum, julgando que isso lhes dá oportunidade de perceber que foi intensa a actividade na costa algarvia. O atum, que atravessava aquelas águas duas vezes por ano, desviou-se, a indústria definhou, mas o hábito de comer mormos ficou do tempo em que o peixe abundava e era desmanchado ali.

Está visto: a Companhia das Culturas emerge como pequena unidade de desenvolvimento local. Francisco lê, medita, apura receitas com plantas comestíveis. E Eglantina anda de um lado pra o outro, a ver se está tudo no ponto. “Eu sou a fazedora, mas isto é uma coisa muito pensada pelos dois”, diz ela. Ele está com 72 anos, ela com 59. “Nós, em determinada idade, achamos que vamos mudar o mundo. Nesta fase, já só queremos arranjar um pedacinho de ‘calçada’.” Estão a arranjá-la.

Um hammam a semear estrelas

A novidade do momento: a Companhia das Culturas, em Castro Marim, acaba de abrir um hammam. Tem um interesse económico. A antropóloga Eglantina Monteiro é a primeira a dizê-lo: “Estão na moda os spas.” Pode reforçar a marca como lugar de retiro. Mas há também uma vontade de convocar uma memória.

Pouco escapou à fúria do sismo que em 1755 foi seguido de um maremoto — e ao hábito de construir sobre o construído. De qualquer modo, não era ali que estavam os centros de poder de Al-Andalus. O Gharb al-Andalus foi uma região periférica. Não teria a arquitectura que se vê noutros lados.

Do período islâmico, no Sotavento algarvio dir-se-ia que quase só sobrevivem algumas construções cilíndricas de alvenaria, que serviriam de habitação, e ainda menos estruturas defensivas, mas não. “As marcas estão nos pormenores, no pomar, na casa, na intimidade, nas formas de estar”, observa Eglantina Monteiro. “Esta paisagem, a que muitos chamam natural, é profundamente cultural. Tem muitas heranças, inclusive a árabe, que introduziu aqui o pomar de sequeiro, com pequenas almoinhas, pequenos oásis, onde passa um pego de água.”

Numa linha de purificação do corpo, o profeta Maomé estimulou os banhos a vapor. Os árabes não se puseram a inventar, garante o arqueólogo Cláudio Torres, presidente do Campo Arqueológico de Mértola. Fizeram versões dos banhos greco-romanos. Adaptaram-se, conforme os climas e as águas.

O hammam clássico começa com um momento de relaxamento e transpiração — primeiro numa sala quente, depois noutra ainda mais quente. Entrando na sala de vapor, a pessoa deita-se numa mesa de mármore e é ensaboada e esfoliada, com luva de crina de cavalo. Segue então para a zona de arrefecimento.

Cada terra teria um número de banhos públicos ajustado à dimensão da população. Uma terra como Mértola teria só uns no largo principal da vila, exemplifica Cláudio Torres. “Temos zonas de continuidade, que ficaram sempre, mas os banhos públicos, com esta linguagem, desapareceram da arquitectura tradicional. Sofreu uma repressão com a Inquisição.”

O uso de banhos públicos e de termas era reprovado pela Igreja Católica, que os encarava como locais de preguiça e vaidade. Era muito mal visto ir a umas termas ou a um hammam. Propagou-se então a ideia de que tomar banho era mau para a saúde. Os banhos frequentes só voltaram em força à Europa quando a razão e a ciência se sobrepuseram às crenças e aos mitos.

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