Fugas - hotéis

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A Companhia das Culturas ou a celebração de um lugar

Por Ana Cristina Pereira

Primeiro, um hotel rural. Agora, um aparthotel e um hammam na fazenda de São Bartolomeu, em Castro Marim. Em qualquer caso, um lugar com todas as suas vidas, cheiros e sabores.

Um lugar único, o Algarve d’aquém e de além-mar. Quem se sentar com o poeta Francisco Palma-Dias ouvirá logo falar nas maravilhas resultantes da fusão dos climas continental, mediterrânico e atlântico e de séculos e séculos de relações entre povos, sobretudo com os do outro lado do mar.

Conheci-o, já lá vão uns anos, a discorrer sobre os coentros como marca distintiva do Sul, a fazer o elogio da laranja do Algarve, do sal de Castro Marim, da batata-doce de Aljezur, da conquilha da baía de Monte Gordo, do pão de côdea rija do alto Algarve e do Alentejo, do porco preto que cresce no montado, alimentando-se da bolota que vai caindo do sobreiro e da azinheira.

Não diz que é “o quinto império dos sabores”. Diz que ali, naquele finalzinho de Europa, há uma conjugação única que dá origem a produtos de grande qualidade, como o azeite Monterosa, produzido por Detlev von Rosen, nas quintas de Moncarapacho, em Olhão. “Afirmá-lo não é ser paranóico, não é ser nacionalista, é ver o lado em que estamos, a cultura que nos caiu em cima, dar conta do que existe”, defende.

Não sonhou com um turismo rural. Andou em muitos lados. Regressou há 21 anos. A fazenda de São Bartolomeu, em Castro Marim, tem dois núcleos e um deles estava em ruínas. Ele e a nova mulher, a antropóloga Eglantina Monteiro, começaram a pensar num modo de dar sentido àquilo tudo. São sete gerações de uma família vinda da Catalunha quando era intensa a actividade na costa algarvia — a extracção de sal, a pesca da sardinha e do atum, a indústria da conserva. “O património passa por nós, não é nosso”, costuma dizer ela. “Já cá estava e há-de cá estar.”

Demoraram dez anos a idealizar e a concretizar essa espécie de celebração do lugar que é a Companhia das Culturas. Abriram-na há sete anos como hotel rural. Agora, acrescentaram-lhe um aparthotel e um hammam.

O aparthotel era só uma forma de diversificar a oferta, mas o hammam era uma resposta ao radicalismo religioso, que há tanto fez desaparecer aqueles banhos da Península Ibérica — primeiro do lado de lá, por acção dos Reis Católicos, depois do lado de cá, como consequência da Inquisição — e que está outra vez a propagar-se, ainda que noutros moldes, como uma praga impossível de erradicar.

Francisco e Eglantina tinham-no dito. Gostam de lembrar que as relações entre os povos dos dois lados do Mediterrâneo são fortes desde a Pré-História, embora nunca o tivessem sido tanto como quando a Península Ibérica e o Magrebe estiveram sob o mesmo domínio, o chamado período islâmico. E gostam de chamar a atenção para o quanto isso influenciou o lugar.

Tinha de ir ver. Tentaria perceber o que resta do período islâmico no Sotavento Algarvio e descansaria. Várias vezes procurei e encontrei a dose certa de silêncio na fazenda de 40 hectares de pinheiro manso, sobreiro, alfarrobeira, figueira, damasqueiro, laranjeira, oliveira, a um quilómetro e meio da praia Verde, a quatro da vila de Castro Marim, a seis da ria Formosa, de que Francisco tanto gaba a amêijoa, a ostra, o lingueirão.

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