Fugas - hotéis

Bairro Alto Hotel: Uma nova vida para um hotel com muita história

Por Alexandra Prado Coelho

Em 2017, o Bairro Alto Hotel irá terminar as obras que lhe permitirão ocupar todo o quarteirão e ganhar vistas para o Tejo.

Quem passou nas últimas semanas pelo Bairro Alto Hotel, na Praça Luís de Camões, junto ao Chiado, em Lisboa, notou certamente como parte do quarteirão em que se situa o hotel entrou já em obras. Está em curso uma renovação profunda, que, em 2017, significará uma nova vida para este hotel de cinco estrelas que foi considerado no ano passado Melhor Hotel Icónico da Europa e Melhor Hotel de Portugal nos prémios World Travel Awards. 

Assim, depois de em 2015 ter festejado o seu 10.º aniversário, no próximo ano o Bairro Alto Hotel vai crescer (actualmente tem 55 quartos) e alargar-se a todo o quarteirão. A entrada continuará a fazer-se pelo Largo Camões, mas a zona de recepção dos hóspedes, hoje limitada pelo espaço, alargar-se-á, ocupando a zona onde agora funciona o restaurante. É aí, no lobby, onde se destacam duas esculturas de ferro forjado preto, trabalhos de Rui Chafes, que somos recebidos com uma bebida enquanto fazemos o check-in.

De seguida somos convidados a passar pelo bar, também situado no piso térreo, para um cocktail — será, desta vez, um Silver Addiction (rum, xarope de açúcar, sumo de lima, sementes de cardamomo, ananás, manjericão e clara de ovo), criação de um dos barmen do Café Bar BA, que, de vez em quando também organizam workshops para ensinar mixologia. 

Subimos depois até ao quarto — ficamos numa das quatro suítes, a azul (um belíssimo azul acinzentado), uma das “cores de Lisboa”, explicam-nos — onde, na sala, separada do quarto por portas de correr, nos espera uma garrafa de espumante e morangos. O jantar no restaurante Flores do Bairro está marcado para daí a pouco, por isso adiamos os morangos para poder apreciar o quarto — reparar no pássaro pintado numa parede da casa de banho (cada quarto tem um pássaro diferente, todos pintados à mão) junto à banheira de pés, mas, sobretudo, apreciar o silêncio garantido pelos vidros duplos, que mantêm a nossa relação com o sempre animado Largo Camões apenas visual, como se deseja.

A suíte fica numa esquina, por isso temos vista também para a Rua do Alecrim e para o sítio onde, num passado já muito longínquo, existiu a Porta de Santa Catarina, que fazia parte da Muralha Fernandina. Nesse tempo, no local onde agora nos encontramos, erguia-se a pequena Ermida do Alecrim, que o terramoto de 1755 apagou da história — mas não do nome da rua. Depois disso, surge aqui a primeira versão de um hotel — na altura apenas uma hospedaria — inicialmente de dois andares e depois, com a inauguração do Largo Luís de Camões, em 1860, crescendo para os três e uma mansarda com águas-furtadas (hoje aproveitadas para os sete quartos amansardados do quinto piso). 

Aqui funcionou o Hotel de l’Europe, muito frequentado pelos artistas que vinham a Lisboa para se apresentar no Teatro de S. Carlos — entre os quais a famosa actriz francesa Sarah Bernhardt. O edifício conheceu depois mais uma vida quando se tornou propriedade do hoteleiro Alexandre de Almeida e, a partir de 1921, reabriu rebaptizado como Grand Hotel de l’Europe. Depois de uma época áurea, voltou a mudar de nome, para Hotel Europa, e chegou, por fim, à decadência, que levou ao encerramento em 1980. 

Mas o velho hotel não estava condenado. Em 2005, com novos proprietários, renasce com cinco estrelas e começa a conquistar uma sucessão de prémios — foi por cinco vezes consecutivas considerado o Melhor Boutique Hotel de Portugal. E o seu terraço com bar foi eleito como “a quarta melhor vista do mundo” pelo portal de viagens Trivago. 

É aí, no bar do terraço (neste momento com a vista parcialmente prejudicada pelas obras), que terminamos a noite, provando o cocktail Cariocas de Lisboa (Cachaça Janeiro, sumo de lima, mel, grão de café, canela e gengibre) e pensando como, depois de tanta história e mais de 20 anos de encerramento (entre 1980 e 2005) dentro de um ano o Bairro Alto Hotel irá começar (mais uma) nova vida. 

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