Abre-se a janela do quarto e a varanda não é muito larga. Não cabe ali uma mesa ou uma cadeira, mas, para um corpo, é espaço suficiente. Pode ficar-se ali de pé, confortavelmente, durante uns minutos. Inclinamo-nos para a esquerda: é desse lado que, a escassos metros, se ergue a Sé de Braga. Ícone maior da cidade e um dos monumentos mais antigos do país, tem deste local uma vista privilegiada. Apetece, por isso, olhar demoradamente e perceber os vários estilos arquitectónicos que se conjugam naquele templo.
Volta-se para dentro e ouve-se uma voz simpática. “Esta é vossa casa por uma noite”, diz Susana Cunha que, juntamente com o marido, gere a Sé Guest House — que, pela vista singular e proximidade em relação à catedral da cidade, lhe tomou o nome. Sem nunca perder o sorriso, Susana sublinha: “É assim que gostámos de ver este espaço, como uma casa.”
Essa preocupação percebe-se na decoração, que é sóbria e confortável, com cores quentes e detalhes aconchegantes, recorda mais um espaço doméstico do que uma unidade hoteleira. Há por ali recantos com poltronas e mantas e vários locais onde apetece parar a ler. A sala de estar — que também serve de sala de pequeno-almoço — tem um grande sofá em frente à televisão e, na cozinha, a meia-dúzia de passos, há sempre bolo, chá e café de que os hóspedes se podem servir. A estadia inclui ainda acesso à máquina de lavar roupa e aos detergentes e, no frigorífico e despensa, há sempre ingredientes básicos para poder preparar-se uma refeição. Como em casa, pois.
A pequena dimensão desta guest house bracarense, que abriu no início deste ano, também ajuda a que nos sintamos ali como em casa. O edifício tem três pisos e apenas quatro quartos, todos tratados pelo nome — que é sempre o de um monumento da cidade. Ou seja, no máximo estarão ali oito pessoas numa noite. Não haverá confusões. O próprio edifício era uma casa unifamiliar e tinha sido remodelado para habitação. A adaptação a guest house não mexeu praticamente na estrutura e o trabalho de Susana Cunha foi apenas o de pensar na sua decoração.
“Os hotéis têm todas as comodidades, mas muito formais. Isso acaba por criar um desconforto. Já a informalidade ajuda-nos a criar laços, mesmo que estejamos fora de casa”, explica a gerente da Sé Guest House. Minutos antes, tinha-nos recebido na porta do edifício, como faz com todos os hóspedes: “É importante estabelecer este contacto.”
A Sé Guest House não é a primeira aventura no mundo da hotelaria de Susana Cunha e João Fernandes. Há cinco anos, foram responsáveis pela abertura do hostel do Gerês, a primeira unidade deste género na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Em 2016, expandiram o negócio abrindo o Home Gerês Hostel, a poucos metros da primeira unidade, também na vila de Caldas do Gerês.
A sua história é comum a tantas outras no crescente universo do alojamento turístico em Portugal. Em época de crise, a vida profissional de João, que é economista, e Susana, responsável gráfica de uma estamparia têxtil, não estava a correr bem. Começaram a estudar possibilidades de abrirem um negócio próprio e o turismo, por ser uma das áreas menos afectadas pela crise económica, pareceu-lhes o melhor caminho.