Ar puro, vales, montanhas e um cenário que quase parece saído de um filme. O Hotel Rural Misarela situa-se a três quilómetros do Parque Nacional da Peneda-Gerês e é um cantinho escondido, repleto de paz, de repouso e silêncio. Olha-se em volta e só se vê verde e azul, pára-se um pouco e só se consegue ouvir a natureza. A tranquilidade transporta-se para dentro do hotel, decorado por Sílvia Alves. As paredes são de um verde que confunde, mas conforta; a lareira faz lembrar a sala lá de casa; os variados quadros dão cor ao espaço; a repleta biblioteca dá-lhe luz; e as redes suspensas nas varandas dos quartos reforçam, ainda mais, a harmonia que lá se sente.
Escondido por entre os vales e as paisagens de vegetação farta, as idílicas cascatas e a agricultura entre Barroso e Montalegre, o Hotel Rural Misarela foi uma antiga pousada da EDP da serra do Gerês. Inaugurado em 2014, após duas décadas abandonado e de obras de requalificação pelo arquitecto Teotónio Santos, a antiga pousada é agora um hotel de quatro estrelas. O GPS vai ligado, as estradas são sinuosas mas, assim que chegamos, percebemos que este é o sítio ideal para quem aprecia a natureza, para quem gosta de longas caminhadas e para quem precisa de ouvir apenas o silêncio.
O dia é de chuva e o cheiro a terra molhada invade e convida a permanecer dentro de portas, mas a vontade de explorar os verdes e azuis que se vêem através das grandes janelas de vidro impede-nos de permanecer no interior. Começamos por passear pelo espaço exterior do hotel, sempre acompanhados por João Pinheiro, o proprietário. Uma piscina, um hotel canino, um pequeno trilho de passeio pelo jardim/bosque que o rodeia, espécies variadas de plantas – sobreiros, pericão, azevinho, ameixas, cedros, castanheiros, groselhas –, uma zona de estar que, por estes dias, deverá ser utilizada para retiros de reiki e ioga. O dia é de chuva, sim, mas o espaço é de cor – cinzento apenas o céu. Sem pressa, sem preocupações, este hotel proporciona a leveza necessária a quem sente o peso de uma cidade.
Dormir numa nuvem
O Hotel Rural Misarela tem três anos, mas João Oliveira já o imaginava há muito. Sentamo-nos à entrada do hotel e, com a chuva como música de fundo, ele conta-nos a sua história. Estudou no Instituto Superior de Agronomia, é da “última fornada de engenheiros silvicultores”. “Idealista, como todos os jovens, no fim da minha formação pensava num projecto megalómano, ligado à floresta e aos bens que lhe estão associados”, aos quais estaria também associado o turismo. Através de “diferentes sistemas e da aquisição de uma propriedade com cerca de 500 hectares”, João pretendia “fazer um projecto integrado, florestal e turístico”. Pesca, caça, produção de mel e de árvores de Natal – ideias não faltavam.
O plano “era possível, se não esbarrasse com um enorme problema em Portugal: a dimensão da propriedade”. Mas a vida dá muitas voltas e fez com que João se concentrasse “na área da tecnologia”. O “projecto acabou por ficar adormecido.” Percorreu todos os cantos de Portugal – “não devem existir muitas pessoas que conheçam o nosso país como eu” – e mais alguns do mundo. Viveu na Alemanha durante um ano e foi aí que percebeu que não tinha “vocação para emigrante”. Regressou então à terra que o viu crescer: Braga. Mas nunca lá trabalhou – “saía de casa à segunda, com a mala feita, e nunca sabia onde iria parar”. Foi quando chegou “ao fim desse ciclo de stress constante, com 52 anos”, que voltou a colocar a questão “Será que é desta?”. E foi. Mas nem sempre foi fácil.