Fugas - hotéis

  • Nelson Garrido
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Um pedaço de Provença no coração do Alto Minho

Por Luísa Pinto

Eles chamaram-lhe tendas e nós ficamos desconfiados. Afinal, estávamos a falar de uma unidade que mereceu o rótulo de Small Luxury Hotels of the World poucos meses depois de abrir, em Abril de 2012. Fomos tirar a prova dos nove: confirma-se que não tem nada a ver com campismo.

O convite chegou à redacção da Fugas para experimentar uma noite numa das tendas que desde o início deste ano acrescentaram mais dois quartos ao Carmo’s Boutique Hotel, uma unidade de cinco estrelas que abriu as portas ao público em 2012, o mesmo ano em que conseguiu integrar a reputada e exclusiva lista dos Small Luxury Hotels of the world.

Já sabia que, por isso, não podiam ser umas tendas quaisquer. Também já estava familiarizada com o conceito de glamping — o tal termo que aglutina as palavras anglo-saxónicas de camping com glamour – mas ainda assim ficou a curiosidade. Pode um hotel construído em betão, inserido numa quinta do Alto Minho, conviver saudavelmente com as imagens que atribuímos aos gers circulares das estepes da Mongólia? Fomos tirar a prova dos nove.

A chegada foi mesmo ao final do dia e a primeira surpresa foi desde logo a proximidade — ainda mal tinha saído da auto-estrada e o GPS já estava a avisar que tinha chegado ao destino. Foi mesmo rápido. Curva contra curva, uma rotunda e poucos minutos e lá estava o portão escancarado (fecha a partir de meia noite mas a recepção do hotel está aberta 24 horas por dia), ladeado por árvores frondosas. Na recepção somos recebidos por um Pinóquio gigante, versão marioneta, ladeado por um Pateta do mesmo tamanho. Estão pendurados no tecto, a deixarem-se cair sobre uma pilha de livros. Primeiro sorri, depois fiquei intrigada. É aqui a recepção?

Era. Chegou um sorriso para me receber e a oferta da chave do quarto ou de um flute de sangria de frutos vermelhos, ou outra coisa que eu quisesse escolher. E eu escolhi. Pensei que o quarto podia esperar, e que era ali que me apetecia estar. Devia ser aquela desorganização organizada que eu também tenho em casa que me fazia sentir bem. Quadros de pinturas e fotografias de vários tamanhos, livros e revistas a preencher prateleiras sem ordem aparente, peças decorativas a evocar viagens passadas. Nota-se que é um espaço vivido, não parece nada um hotel. Mas é aqui mesmo a recepção, no mesmo local onde, percebi depois, era a sala de refeições, a biblioteca, a garrafeira. A grande sala de estar, onde, enfim, todos gostamos de conviver – sendo certo que há recantos que bastem para quem se quiser isolar.

O flute terminou e peguei na chave à hora certa: naquele exacto momento em que o sol veste o pijaminha cor de laranja para se ir deitar (tenho um filho pequeno, deixem-me usar estas alegorias tão criativas quanto pueris). E essa é, aviso já, a imagem mais impactante que levo desta curta estadia no Carmo’s Boutique Hotel: o sol a esconder-se atrás da colina em frente, enquanto irradia aquela tonalidade quente e luminosa.

Deixei-me estar na ampla varanda, a vislumbrar os recantos que era possível perscrutar da quinta. A piscina, as camas balinesas espalhadas pelos jardins, os trilhos calcetados que nos levariam ora à adega, ora à vinha, ora aos jardins. O banho de pôr do sol, e o marasmo contemplativo quase me atrasavam para o jantar. Estava na altura de regressar ao interior da tenda e preparar-me para o repasto.

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