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Miguel Madeira

Jericoacoara: As lagoas são a verdadeira estrela

Por Maria João Guimarães

Chega-se com as expectativas altas afinal, Jericoacoara traz a etiqueta de ser "a praia mais bonita do mundo" e não se sai defraudado. Mas onde vale mesmo a pena passar o tempo é nas lagoas do parque natural, de água morna e cristalina.

O nome é difícil Jericoacoara por isso, lá, toda a gente diz Jeri. E o nome tem, como muitos da região do Ceará, origem na herança índia do local. Jericoacoara vem dos índios tupi. Mas quase ninguém se dá ao trabalho de usar o nome todo.

Jericoacoara está a cerca de 300 quilómetros de Fortaleza, uma viagem que pode ser feita em algumas horas, um dia, ou mesmo dois dias de viagem: dois dias é o mais aconselhado para ir de jipe pela costa, muitas vezes mesmo à beira do mar, passando por lagoas, por cursos de água onde pode ser preciso passar em balsas, alguns restaurantes à beira da praia. E depois chegar a Jeri, onde a vida é fácil, tão fácil como o nome abreviado.

Quem não quiser usar o jipe, pode optar por uma viagem mais rápida mas muito menos interessante, indo de autocarro até um certo ponto; depois troca-se o conforto do ar condicionado do autocarro pelos solavancos de uma mais pitoresca jardineira, uma espécie de camioneta com bancos corridos (originalmente bancos de jardim, daí o nome), onde se passarão os últimos quinze quilómetros: tem de ser assim porque não há estrada, já que se entra numa área protegida.

No percurso pode-se parar em vários restaurantes se se optar pela camioneta, ela parará provavelmente na Taverna do Paulo, onde uma faixa informa orgulhosamente: "Não fechamos mais às segundas-feiras por respeito aos nossos fregueses e amigos". Ainda bem, dizemos nós, porque a comida vale a pena.

Águas azuis, paradisíacas

Jeri é sobretudo uma rua de areia mais duas ou três paralelas, onde se cruzam depois mais umas perpendiculares com lojas, restaurantes, stands de aluguer de buggies (lá diz-se "bugui", como boogie em inglês). E tudo desemboca na praia.

A praia é muito bonita em 2004, Jericoacoara foi classificada como a melhor praia do mundo pelo Lonely Planet mas o melhor do local são mesmo as lagoas e as dunas do parque natural de Jeri.

Assim, os buggies são essenciais. Não só pelos passeios nas dunas (com e sem emoção, conforme o espírito de aventura), mas sobretudo porque são necessários para visitas às lagoas em volta e ao parque natural. Na época alta (de Junho a Janeiro) há cerca de 150 buggies a fazer os percursos pelas dunas; custam cerca de 220 reais (à volta de 91 reais) por seis horas de passeio por buggy (e condutor). Na época baixa já é mais barato alugar o buggy durante algumas horas.

A lagoa Azul e a lagoa do Paraíso são claramente divididas mas fazem parte da mesma lagoa, a Jijoca de Jericoacoara. Ambas têm águas límpidas e uma gradação de cor que vai do verde-claro da margem para um verde mais profundo e por fim azul. Mas vamos por partes.

A lagoa Azul é mais simples há um pequeno bar que vende cocos gelados, refrescos ou petiscos, uma espécie de pranchas/bancos de madeira que podem servir para saltar para a água ou apanhar sol, e ainda algumas cadeiras de plástico que podem estar dentro ou fora de água. É isto. Por seu turno, a lagoa do Paraíso é mais upscale. É preciso apanhar um barco que nos leva da margem para uma língua de areia com palmeiras, cadeiras e redes mesmo em cima da água (algumas feitas para que o corpo deitado fique meio dentro da água quente).

Noutras dunas há mais distracções como a duna de Lagoinha, onde o grande sucesso é o "skibunda", que tem duas modalidades: pode-se ir sentado na prancha sozinho e correr o risco de não chegar ao final da duna, ou ir com a ajuda de um dos "operadores" do "skibunda", que conduzem a prancha até mesmo dentro de água.

No Parque Nacional de Jericoacoara, a paisagem é sobretudo areia, uma areia que reflecte a luz. Mas há também, de vez em quando, lagoas cheias ainda da água da chuva do Inverno.

Algumas dunas têm ziguezagues de areia mais clara ou mais escura, perfeitamente desenhados "por causa do sereno", há-de explicar o condutor do buggy: "sereno" é uma chuvada tropical, não muito forte, que cai e pára logo. Parte da areia fica molhada e mais escura, a outra mantém-se clara, num desenho que parece ter sido feito a régua e esquadro.


Pôr e nascer do sol na praia

Finalmente, de volta para Jeri, começa a notar-se um lento êxodo. A duna que fica em frente à praia começa a encher-se de pegadas das pessoas que a pouco e pouco a vão subindo para ver o pôr do sol. A localização de Jericoacoara permite que seja um dos poucos pontos do Brasil em que é possível ver o sol nascer e pôr-se no mar.

E o final de tarde na duna (que se chama, de modo muito apropriado, duna do pôr do sol) é especialmente apetecido. Uma hora antes já há pessoas a subir a duna, vagarosamente, procurando um bom lugar para se sentar na areia. Sobem em grupo, sozinhas, com cães, que ficam especialmente deleitados com o vento que se sente no cimo da duna em Jeri faz vento durante todo o ano (o que, aliás, faz com que seja apetecível para desportos como kitesurf).

Ao chegar ao topo da duna, as pessoas ficam sentadas, a conversar, a olhar a paisagem ou de olhos fechados, a ouvir música no leitor de mp3. Um carrinho com limas, cachaça e gelo chega finalmente lá acima: há caipirinhas para quem quiser. Acabado o pôr-do-sol, há que descer a duna: a pé ou de "ski" uns miúdos "alugam" uma espécie de pranchas para escorregar em pé pela duna mas... depois há que trazer a prancha novamente cá acima.

Lá em baixo começa lentamente a surgir nova vida em Jeri no luscofusco. Há cavalos para passear pela praia e todos os dias há um treino de capoeira na areia que rapidamente atrai as atenções.


À luz do petróleo ou das estrelas

Quando cai a noite, a Rua Principal (chama-se mesmo assim) enche-se de stands improvisados com luzes fortes de candeeiros a petróleo as ruas não têm iluminação pública. Nestes stands há dezenas de garrafas, fruta, latas de leite de coco ou leite condensado, de onde saem muitas combinações diferentes de bebidas com grande concentração tanto de álcool como de açúcar, desde o coco louco (o nome já diz com quê) ao capeta (com chocolate). É pegar nos copos e espreitar as redondezas pelas ruas de areia, procurar um bar, provavelmente o Forró de Jeri, na Rua do Forró, ou ficar simplesmente na praia a ouvir o mar.

E depois regressar ao hotel a oferta de alojamento em Jeri é grande: há hotéis de charme, várias pousadas, entre as quais uma "pousada da juventude familiar", mais longe há ainda uma espécie de resort ecológico.

E amanhã é outro dia: pode-se tirar uns minutos para compras nas lojas que ladeiam as ruas, do pequeno supermercado e farmácia às mais repetidas lojas de surf com todas as marcas ocidentais e biquínis brasileiros, antes de mais um passeio pelas lagoas. Enfim, não é difícil uma pessoa habituar-se à vida simples de Jeri.

Até há pouco tempo Jericoacoara era uma pequena aldeia piscatória. Agora desenvolveu-se para o turismo. O local ainda mantém um encanto, mas vai desenvolver-se muito mais com um aeroporto previsto a poucas dezenas de quilómetros. A longa viagem é ainda o desafio para que os turistas cheguem em massa a Jeri. Talvez seja bom visitar Jericoacoara antes que isso aconteça.


Fortaleza: O que há para fazer na capital do Ceará

Para chegar a Jericoacoara é sempre provável que se passe um ou dois dias em Fortaleza, a capital do Ceará o nome vem dos exploradores portugueses que acharam que estavam numa espécie de deserto do Sara.

Fortaleza é uma cidade enorme, com zonas muito pobres e outras zonas ricas. A maioria dos hotéis estão junto ao mar, mas naquele mar não é possível nadar. Nas redondezas, o melhor é fazer a curta viagem até à Praia do Futuro (no entanto, com a proximidade das favelas, os guias locais aconselham a que se escolha uma barraca de praia e se permaneça nela ou seja, que não se passeie pela praia ou pelo calçadão). Outras opções, um pouco mais longe, são as praias de Canoa Quebrada ou do Cumbuco (aqui novamente há possibilidade de fazer passeios de buggy com ou sem emoção o que quer dizer com ou sem descidas vertiginosas pelas dunas).

É possível ainda fazer uma viagem até ao Beach Park, o maior parque aquático da América Latina, com os seus "toboáguas" (water slides/escorregas de água) como o "insano", onde se atinge uma velocidade de 106 quilómetros horas com uma sensação de quase queda livre, de uma altura de um prédio de 14 andares. É um "brinquedo religioso", brinca o nosso guia, Marcos, ao apresentar o "insano". "Você se desprende das coisas materiais e dá mais valor à vida", brinca. Há vários outros "brinquedos" de "toboágua": o sarcófago ou a moreia negra, por exemplo. Para quem não gostar de tanta emoção, há piscina com ondas, e para quem não sofrer o suficiente com o calor cá fora há até uma sauna com paredes de vidro.

Em Fortaleza há ainda muita animação: o Centro Cultural Dragão do Mar é um dos locais a ir e quem estiver na cidade a uma segunda-feira pode aproveitar para espreitar "a segunda-feira mais louca do mundo", no Bar O Pirata: no YouTube ha vídeos que dão para ter um cheirinho da actuação da banda do bar a pôr uma multidão a vibrar com axé e forró, e ainda dos dançarinos do Pirata, homens musculados que parecem strippers e são.

Finalmente, Fortaleza é um bom sítio para compras. Redes de descanso, caju simples ou com variações de cobertura (o caju é o produto-estrela da região), goiabada cascão (um tipo de goiabada em que é usada a casca do fruto) e, como no resto do Brasil, vernizes de unhas (os vernizes Risqué ou Colorama custam até um quarto do preço habitual em Portugal), sandálias Havaianas (também muito mais baratas) e, claro, os inevitáveis biquínis.

Para serial shoppers, há quem jure que a melhor rua é a Avenida Monsenhor Tabosa, que sai do mercado central, mas, apesar de ter sido lá que foram encontrados os vernizes mais baratos, para os biquínis é preciso bastante paciência. Há ainda em Fortaleza dois centros comerciais: o Aldeota, que tem a vantagem de estar perto de parte dos hotéis do calçadão (é possível ir a pé) mas é mais pequeno; e o Iguatemi, que tem todas as marcas como a Osklen. Quer no Aldeota quer no Iguatemi existem Lojas Americanas, as lojas que têm de tudo e onde se pode encontrar música brasileira a preços baixos.


INFORMAÇÕES

Dicas
Jericoacoara não tem máquinas multibanco uma vez lá, não há maneira de levantar ou trocar dinheiro. Muitas lojas, a farmácia local, ou restaurantes anunciam que é possível pagar com Visa mas o sistema às vezes funciona, outras vezes não. O melhor é levar dinheiro.

Onde ficar

Pousada Mosquito Blue
É a pousada mais perto do mar de Jeri toma-se o pequeno-almoço praticamente na praia, na areia, embora haja uma fronteira invisível: é onde acaba o toldo de palha que protege da sombra e onde param as mulheres com vestidos nos braços que tentam vender apenas com o olhar. Tem ainda duas piscinas entre relva, flores e alguma sombra de árvores d um espaço tipo lounge ao ar livre com camas para relaxar.
http://www.mosquitoblue.com.br
Preços: desde 220 reais por noite (cerca de 98 euros), quarto standard, época baixa.

Onde comer
Restaurante Carcará
Rua do Forró
Há entradas italianas (beringela à parmiggiana, por exemplo), camarão com manga, caipirinhas, claro. Tudo muito bom.

O que comprar
Em Jericoacoara há muitas lojas com marcas de surf a preços de "produto importado", ou seja, não especialmente barato, mas também com algumas marcas brasileiras engraçadas, como Santa Maria.
Tudo o resto é melhor comprar em Fortaleza, mas ainda assim há alguma escolha para os produtos mais populares do Brasil, os biquínis e também os muito mais baratos vernizes de unhas.

O que fazer
Passear de buggy nas dunas do parque natural, visitar a lagoa do Paraíso e a lagoa Azul (que fazem jus ao nome), dançar no Forró de Jeri, fazer kitesurf.


A Fugas viajou a convite da Entremares

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