Este desenlace levantou as maiores suspeitas e levou Frericks a recorrer a um laboratório de Munique, para averiguar da antiguidade do vinho. O elemento procurado foi o trítio, um isótopo do hidrogénio que só passou a existir em concentrações significativas na atmosfera após a explosão da primeira bomba atómica. A concentração de trítio encontrada no vinho era típica dos anos de 1962 ou 1965, pelo que o vinho só podia ser desta altura. Ou seja, era quase 200 anos mais novo do que constava na garrafa.
Mas Frericks não foi o único a ser enganado. Marvin Shanken, director da Wine Spectator, também comprou uma garrafa com as iniciais de Thomas Jefferson noutro leilão da Christie`s e, em 1988, o magnata americano Bill Koch comprou a intermediários quatro garrafas de Lafite 1787 e 1784 por 500 mil dólares. Esta compra viria a ser fatal para Rodenstock. Porém, nos anos seguintes, o coleccionador alemão ainda viveu tempos de glória, promovendo exclusivas degustações de vinhos raros dos principais chateaux franceses, para as quais toda a gente com nome e interesse no vinho queria ser convidado.
Entre 1994 e 1996, Jancis Robinson e Robert Parker, dois dos mais reputados e influentes críticos de vinhos, participaram em algumas dessas degustações realizadas por Rodenstock e, além de lhe tecerem rasgados elogios, escreveram notas fantásticas sobre alguns dos vinhos provados. A alguns deles, como o Margaux 1900, Parker atribuiu mesmo 100 pontos, a máxima pontuação possível. Os escritos de Robinson e Parker foram um bálsamo para Rodenstock, sobretudo depois de o Tribunal de Munique ter concluído em 1992 que o coleccionador alemão havia vendido ao seu compatriota Frericks vinho falsificado.
A sentença passou despercebida, mas ganhou relevância a partir de 2005, quando Bill Kock decidiu investigar Rodenstock, depois de a Fundação Thomas Jefferson não ter reconhecido as quatro garrafas compradas pelo magnata como havendo pertencido ao antigo presidente dos Estados Unidos. Com recurso a detectives privados, alguns ligados ao FBI, Koch foi somando evidências de que Rodenstock era um impostor e que as garrafas gravadas com as iniciais "Th.J" eram uma fraude, acabando por apresentar uma queixa contra ele no tribunal de Nova Iorque. Ao que se sabe, a acção continua por produzir efeitos legais.
As suspeitas estenderam-se a muitos outros vinhos antigos que o coleccionador alemão havia vendido ou dado a provar nas suas exclusivas degustações, como uma que fez em Munique em 1996, na qual deu a provar durante sete dias 125 garrafas de Château d`Yquem, desde os anos de 1784 a 1991. Eram tantas as evidências e as contradições que até aqueles que sempre defenderem Rodenstock começaram a retratar-se ou a testar uma saída para o seu embaraço. "Talvez eu devesse ter desconfiado de que havia alguma coisa errada", escreveu Jancis Robinson. "Os vinhos que provei eram excelentes, quer fossem autênticos ou falsificados", insistiu Parker.