O presidente da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Mário Pereira Gonçalves adianta ao PÚBLICO que haverá muitos casos em que o aumento de custos não vai ser repercutido no consumidor final mas que, por outro lado, "haverá empresários que vão subir os preços porque não têm como suportar todos os custos extraordinários". Os empresários que decidirem não aumentar os preços terão de encontrar alternativas, o que pode incluir ementas com "preços muito mais económicos, tentando reduzir custos nas compras de matérias-primas" e promoções mais agressivas ou reduzir a estrutura de pessoal. Um estudo da associação, divulgado em Dezembro, referia que estão em risco cerca de 21 mil estabelecimentos.
O PÚBLICO percorreu diversos restaurantes pelo país, nesta segunda-feira de manhã, para tomar o pulso ao que está a acontecer.
Lisboa
Cafés e restaurantes aguardam pelo comportamento da concorrência para decidir o que fazer. Apenas o café, o galão e outras bebidas semelhantes tiveram um pequeno aumento, na maioria dos casos de cinco cêntimos, ainda assim em poucos sítios.
Em pleno Chiado, João Silva, gerente da emblemática Brasileira, explica que, por agora, os preços estão todos iguais e que ainda ao longo do dia de hoje pensarão numa nova tabela, mas que ainda não se sabe o que afectará. O café será certamente um dos alvos, sendo que neste momento o mais barato (longe da estátua de Fernando Pessoa) é de 0,70 cêntimos. Mais abaixo, João Oliveira, do Café Benard, descreve um cenário semelhante: "O ano começou agora mas ainda estamos a avaliar. Mas os preços vão ter de subir, isso é certo."
Na mesma rua, já a casa de saladas e sandes Vitaminas, tem a vida facilitada por pertencer a uma rede comercial. "As facturas já saem todas a dizer que o preço inclui um IVA à taxa de 23% mas não vamos mexer nos preços para o cliente. Tivemos aumentos há três meses e agora fica tudo na mesma", diz o sub-gerente João Silva. Na ligação com os fornecedores é que têm surgidos alguns constrangimentos logísticos, com muitas facturas a terem de ser passadas à mão.
Na Praça da Figueira, uma empregada do Café Nicola, que prefere não dizer o nome, explica que ainda não receberam indicações sobre alterações de preços nem sabe quando tal acontecerá. Por seu lado, Bentolino Simões, um dos responsáveis da Pastelaria Suíça, adiantou que o estabelecimento vai manter tudo como está durante o primeiro mês. "Vamos assumir os custos durante o primeiro mês e depois avaliaremos. Mas no nosso caso uma subida não afectará muito o cliente português, visto que 90% do nosso movimento é de turistas", disse, enquanto mostrava que no menu apenas tinha sido colado um autocolante a dizer que os preços incluem o IVA de 23%, tal como acontece nas facturas.
Na mais despercebida Calçada do Carmo, Eduardo Martins, dono do café e restaurante Painel da Baixa, já subiu hoje o preço do café de 0,55 para 0,60 cêntimos, assim como o do galão. "No resto não mexi. Os almoços estão ao mesmo preço. Fiz apenas pequenas mudanças. Não quero ser o primeiro. Já temos cada vez menos clientes, por isso espero que seja a concorrência a dar o primeiro passo."
Na Avenida da Liberdade os preços também ficaram em geral em 2011 e ainda não passaram de ano. No restaurante Taverna Imperial o café subiu exactamente o mesmo (de 0,55 para 0,60) e o sócio-gerente do estabelecimento, Fernando Ferraz, diz que "vai esperar para ver" e palpar terreno junto dos clientes, mas que perante a perda de clientes no último ano "não gostaria de levar mais gente a trazer comida de casa". Um medo que não existe no restaurante Quebra-Mar, exactamente na mesma avenida. Júlio Videira, dono do estabelecimento, assegura que "só por falta de tempo" é que ainda não actualizaram a tabela, mas que serão os clientes a suportar o aumento. Quanto a medo de perder clientes, encolhe os ombros e diz que o aumento é inevitável e que não acredita que afaste muita gente. "Ainda é o primeiro dia e não temos as coisas preparadas, mas vamos mudar. Não vamos certamente conseguir suportar a subida de 10%."
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Aumentos nos restaurantes? Para já, não