O município de Borba está a ultimar a candidatura a "cidade criativa gastronómica", enquanto promove um ritual com décadas em produto turístico. "Vamos fazer as onze" implica uma pausa às 11h, para petiscar e abrir o apetite para o almoço, e pretende chamar turistas ao município alentejano.
Beber um copo de vinho, a meio da manhã (e ao final da tarde), para acompanhar um petisco típico alentejano, por um preço fixo de 3,50 euros em dez restaurantes e cafés, já está integrado nos roteiros turísticos da região. "Contribuir para um maior dinamismo na economia local, em torno de um petisco, é um dos nossos principais objectivos", afirma o presidente da Câmara de Borba, Ângelo de Sá.
O autarca confessa que, em muitos dias da semana, cumpre esta tradição, "pois é uma forma saudável de convívio", recordando que os homens do concelho sempre que faziam uma pausa no trabalho, "faziam as onze", aproveitando para contar as amarguras da vida e falar sobre os assuntos da actualidade. "A tradição é para cumprir nos 365 dias do ano", assevera o autarca, não declinando a possibilidade de a acção ser alargada às mulheres que, desde sempre, estiveram afastadas deste costume.
José António Aires tem a cara vincada de rugas, mas as mãos têm ainda muita agilidade para abrir a navalha, que tira do bolso, para cortar um pouco de pão para acompanhar a salada de orelha de porco. Aos 86 anos, e desde que se reformou, é assíduo "a fazer as onze". "Quando comecei a trabalhar aos 15 anos no mármore, sempre que tinha dias de folga fazia sempre "as onze". Falávamos, tal como agora, sobre o que acontecia e o que se passa na cidade", lembra. Enquanto arranja a bóina que lhe cai sobre os olhos, explica que cada dia cumpre o ritual, mas em sítios diferentes. "Pergunto primeiro o que há para petiscar e depois fico na taberna ou café que mais me palpitar", avança, admitindo ser esta tradição uma das razões para "o segredo" para a sua longevidade...
Também Joaquim António Bonito, de 80 anos, não falha "às onze", porque faz parte do modo de viver da comunidade, do seu dia-a-dia: "Sobretudo agora que estamos reformados e que temos que nos entreter com alguma coisa."
Para o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, Ceia da Silva, parceira na iniciativa, "é de louvar o trabalho que a autarquia tem tido com a defesa dos produtos endógenos": "Um povo que preserva as suas tradições, dando-lhe um formato turístico está a fazer bem."
O responsável do Turismo do Alentejo avança que, agora, os turistas quando visitam Borba podem ficar a conhecer as tradições e experimentar "fazer as onze", com pratos tradicionais como pezinhos de coentrada, iscas de fígado ou moelas com tomate. A candidatura a "cidade criativa gastronómica" é promovida no âmbito de uma rede de cidades criativas da UNESCO.
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Vamos fazer as onze em Borba. Venha o vinho e o petisco