Tem entre 3500 e 5 mil euros para gastar numa semana no Douro, desfrutando do mesmo luxo em que a rainha de Inglaterra viajou no Tamisa? Então é provável que esta notícia lhe interesse particularmente: esta sexta-feira chegou ao Porto, ao Cais da Ribeira, a barcaça real Spirit of Chartwell, que, após ter estado ao serviço das comemorações do Jubileu de Isabel II, no desfile fluvial do dia 3 de Junho, foi adquirido pelo empresário Mário Ferreira e vai, a partir de agora, efectuar cruzeiros turísticos a partir do Porto, inaugurando o novo serviço da Douro Azul. A primeira viagem do Spirit of Chartwell no Douro está marcada para o próximo dia 22, mas a embarcação só deve passar a operar regularmente a partir de Março.
"As barcaças de luxo são um produto que actualmente só existe em França e nós vamos aproveitar a publicidade gratuita que a compra do barco da rainha está a ter nos media ingleses", disse Mário Ferreira ao PÚBLICO, aludindo ao facto de a venda do Spirit of Chartwell estar a provocar alguma polémica do outro lado do canal da Mancha. Os ingleses, sempre zelosos dos símbolos reais, não gostaram de saber que a embarcação foi vendida "com prejuízo" pelo seu proprietário e a notícia chegou aos principais jornais. "Se os ingleses estão com saudades do barco, então podem vir fazer um cruzeiro no Douro", ironiza Ferreira.
O Spirit of Chartwell, decorado em púrpura e dourado, tem 64 metros de comprimento e conta com 14 cabinas de luxo e uma suíte real. Segundo Mário Ferreira, nem chegou a estar à venda. "Assim que vi as imagens da barcaça, e porque já tinha a ideia deste novo negócio, tirei uma manhã para descobrir a quem pertencia. Percebi que o dono era o Philip Morrell, que conheço há vinte anos. Fiz o contacto e fechei o negócio ainda em Junho. Agora não faltam pretendentes ao barco, mas, naquela altura, foi uma sorte ter feito a proposta no timing certo".
Pela leitura dos jornais ingleses, percebe-se o resto do enredo que ajudou a trazer a barcaça real para o Douro. A Magna Carta Steamship Company, anterior proprietária, tentou obter licença para que o barco pudesse efectuar percursos turístico entre Londres e Richmond, mas viu essa pretensão ser-lhe negada pelas autoridades, devido à passagem sob uma ponte. Como se este desaire não fosse suficiente, o barco perdeu ainda o lugar no cais no centro de Londres que a organização dos Jogos Olímpicos precisou de ocupar. "Foi a última gota. Decidi que o barco não era viável", explicou Philip Morrell ao The Telegraph.
Mário Ferreira entrou em cena e, segundo Morrell, comprou o Spirit of Chartwell por metade do preço que tinha custado. O montante do negócio está, porém, abrangido por uma cláusula de confidencialidade. "O que interessa é que o barco está comprado e pago", diz.
Notícias de Maio nos jornais ingleses, porém, apontavam para que a aquisição e transformação do barco, de 1997, tenha custado mais de 8 milhões de libras (10 milhões de euros) a Morrel, que há três anos tinha descoberto em Roterdão - em mau estado e arrestada por um banco - esta embarcação que também operou no rio Reno sob o nome de Van Gogh.
Após a consumação do negócio, Mário Ferreira ainda teve que esperar pelo final dos Jogos Olímpicos para tomar posse da barcaça real, que esteve ao serviço da Nike até 12 de Agosto. Na semana passada, o barco iniciou, no cais de Ramsgate, em Kent, a sua viagem rumo ao Douro, tendo sido rebocado pelo Atlântico até ao Porto. A cerimónia oficial de recepção está marcada para as 19h desta sexta-feira, sendo certo que o barco vai continuar a navegar com o pavilhão britânico, estando já licenciado pelas autoridades competentes. "Aqui não tivemos problema nenhum", garante o empresário, cuja anterior aquisição, o Douro Spirit, tem 80 metros de cumprimento e passa sem problemas nas eclusas das barragens.
Para quem vê a crise passar ao largo
Com a chegada do Spirit of Chartwell, a Douro Azul vai, segundo Mário Ferreira, extinguir os cruzeiros de um dia no Douro, apostando fortemente no segmento de luxo. As duas embarcações que têm estado dedicadas às viagens mais curtas vão, entretanto, ser transformadas também em barcaças de luxo. O custo da operação ainda não está completamente fechado, mas o empresário adiantou que o novo produto turístico contará com um percurso diferente, pretendendo ser uma espécie de montra para o vinho do Porto. Por um preço entre os 3500 e os 5 mil euros, os clientes pagam a pensão completa em alojamentos luxuosos e, acrescenta Mário Ferreira, "a possibilidade de provarem todos os vinhos que quiserem".
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O Douro é a nova casa da barcaça real que os ingleses não queriam perder