O chef italiano Augusto Gemelli anunciou o encerramento do seu restaurante, o Gemelli, aberto há 13 anos em Lisboa, à rua de São Bento. Num texto publicado na sua página no Facebook escreve: "Sem querer alegar desculpas, quero só dizer que a pressão exercida desde 2008 sobre a indústria da restauração e o mundo do turismo em geral chegou a um ponto limite insuportável e o reflexo disso é a autêntica razia que está a levar ao encerramento de tantos restaurantes de bom nível em todo o país".
Gemelli garante nesse texto que "quando o negócio começou a entrar em crise" tentou introduzir alterações no seu restaurante, mas não foi suficiente para evitar o encerramento agora anunciado. O chef nascido em Milão diz que continua "com vontade de viver em Portugal", mas isso dependerá do "bom desenvolvimento de novos projectos". Para já, mantém as aulas de cozinha que já dava e afirma estar a trabalhar "em novas ideias relacionadas com jantares temáticos" e "serviços de catering personalizados". Abrir um novo restaurante não está nos seus planos imediatos mas é uma hipótese que não exclui num futuro mais distante.
Já há um ano, na última edição do festival Peixe em Lisboa, Gemelli tinha dado sinais de cansaço com a situação no mundo da restauração em Portugal. "O mercado é complicado [...], o Governo nunca ajudou e até nos cai em cima com impostos cada vez mais fortes [...] não sei quanto tempo vou aguentar", desabafou na altura.
A notícia do encerramento do Gemelli surge poucas semanas depois de outro chef, desta vez o português José Júlio Vintém, ter também anunciado que ia fechar o seu restaurante, o Tomba Lobos, aberto há dez anos em Portalegre. Ao contrário de Gemelli, Vintém não ficará por agora em Portugal - irá para o Brasil para abrir um espaço no Recife. Também ele explica no Facebook que tentou conciliar os dois projectos, mantendo o Tomba Lobos em funcionamento, mas, escreve, "neste momento, com as regras do jogo que estão definidas em Portugal, acho mais sensato hibernar o Lobo...".
Sublinha, contudo, que não está a "voltar costas" ao país, e que, apesar de se instalar no Brasil com a família, virá a Portugal regularmente, e está "mais do que disponível" para continuar a colaborar com a gastronomia nacional. No Brasil irá trabalhar para divulgar os produtos portugueses e a gastronomia alentejana, garante este defensor de uma "cozinha regional de autor".
O chef revelou a Duarte Calvão, no blogue de gastronomia Mesa Marcada, que o seu novo restaurante chamar-se-á precisamente "Vintém" e que deverá abrir as portas durante o primeiro semestre deste ano. "Estou farto de andar a trabalhar para o Estado, sem apoios, nem sequer do poder local", disse. E acrescentou: "Só tenho pena de sermos tão maltratados em Portugal pelos poderes públicos, como se fossemos nós os responsáveis pela economia paralela, como se andássemos todos a praticar fraudes...Talvez um dia o Estado português perceba a importância para o país de ter bons restaurantes".