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Diário da viagem de Vasco da Gama é Património Mundial

Por Sérgio C. Andrade, Isabel Salema

A UNESCO destaca a importância que a viagem do navegador português teve no desencadear de “uma série de acontecimentos que viriam a transformar o mundo”.

Uma cópia coeva do diário da primeira viagem comandada por Vasco da Gama na descoberta do caminho marítimo para a Índia (1497-99), atribuído a Álvaro Velho, foi na terça-feira inscrito pela UNESCO na lista do património Memória do Mundo.

Este documento relevante da História dos Descobrimentos, actualmente propriedade da Biblioteca Pública Municipal do Porto (BPMP), fazia parte do conjunto de 84 pedidos de inscrição enviados à reunião que o comité da UNESCO está a realizar na cidade de Gwangju, na Coreia do Sul.

O diário da descoberta do caminho marítimo para a Índia foi um dos 54 documentos e testemunhos históricos agora classificados pela UNESCO. Sobre ele, a organização diz tratar-se de "um testemunho verdadeiro da forma como Vasco da Gama, à frente da sua frota, descobriu a rota marítima para a Índia". E acrescenta que esta foi uma aventura "sem precedentes" e "um momento determinante que mudou o curso da História". "Além de constituir uma das maiores explorações marítimas realizadas, à época, pelos europeus, a viagem de Vasco da Gama originou "uma série de acontecimentos que viriam a transformar o mundo".

"Trata-se de um dos poucos documentos sobre a viagem de Vasco da Gama que sobreviveram a calamidades e incúria e está conservado na Biblioteca Municipal do Porto", diz Francisco Bethencourt, historiador do Departamento de História do King's College de Londres e especialista em história da expansão. "É impossível reconstituir a viagem sem este relato, cópia da época, escrito por um dos participantes, muito provavelmente Álvaro Velho."

Para Bethencourt, que fez um relatório para a candidatura, a classificação da UNESCO sublinha "o carácter único deste relato sobre o momento decisivo de abertura das relações marítimas entre a Europa e a Ásia protagonizado pelos portugueses". Já as interpretações sobre as consequências da viagem divergem - "desencravamento do mundo ou abertura da caixa de Pandora dos males do colonialismo"  - "mas o papel mediador dos portugueses entre a Ásia e a Europa, o Índico e o Atlântico e mesmo entre o Índico e o Pacífico é indiscutível".

O texto do diário esteve exposto, em 2008, na Biblioteca do Barreiro - terra natal do cronista Álvaro Velho, que se crê ser o autor do documento. A BPMP disponibiliza informação sobre este seu "tesouro" no seu site. E aFaculdade de Letras da Universidade do Porto disponibiliza-o tambémonline na colecção Gâmica da Biblioteca Digital, acrescentado de uma leitura crítica do investigador José Marques.

Entre a lista dos 54 novos itens da Memória do Mundo, encontram-se os documentos que testemunham a viagem que o segundo imperador do Brasil, Pedro II (1825-1891), fez no seu país e a outros de quatro continentes diferentes durante o seu reinado. Também pedido pelo Brasil, foram classificados os arquivos de arquitectura de Oscar Niemeyer, o famoso arquitecto de Brasília falecido em Dezembro do ano passado, aos 104 anos.

Os registos audiovisuais compilados pelo documentarista e fotojornalista Max Stahl relativos ao nascimento de Timor-Leste como país independente estão igualmente na lista da Memória do Mundo; o mesmo acontecendo com os manuscritos das obras históricas de Karl Marx,Manifesto do Partido Comunista e O Capital, e com a colecção de documentos relativos à vida de Ernesto Che Guevara, incluindo o seu diário de guerrilheiro na Bolívia.

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