Estamos a falar de uma cenoura totalmente roxa, tal como eram muitas cenouras originalmente, antes de a selecção humana ter privilegiado as cor-de-laranja. Por isso, é também a estrela de uma feira de Castro Verde, a de São Sebastião (a 20 de Janeiro), também conhecida como a Feira do Pau Roxo).
“As pessoas aqui sempre a consumiram mais como um petisco”, explica Carlos Pedro, secretário da vereação da câmara. “É uma tradição alimentar relativamente restrita, que aparece de forma pontual na culinária. Sempre foi mais consumida como petisco nas tabernas, onde se comia crua, às rodelas, como o rábano, o marmelo, a maçã, as azeitonas. O único hábito que ficou foi o das azeitonas.”
E assim, a pouco e pouco, o pau roxo começava a desaparecer, e chegava mesmo a faltar no dia da feira. “Há quatro, cinco anos aparecia pouca gente a vender, e acabava a meio da manhã. Nos últimos dois, três anos fomos recolhendo as sementes que ainda encontrámos e fomos distribuindo, e neste momento já há produção”, conta o responsável municipal. Isso garante que a população de Castro Verde possa ir à feira e, como tradicionalmente, voltar para casa levando um pouco de pau roxo.
Mas a câmara gostaria de alargar a divulgação e fazer aumentar o consumo. Para isso, organizou para dia 20, às 18h, no Posto de Turismo, uma conversa com dois especialistas: Maria Manuel Valagão, que irá falar das características nutricionais da cenoura roxa, e José Miguel Fonseca, da associação Colher para Semear, que vai falar sobre o desaparecimento dos hortícolas tradicionais e a necessidade da sua preservação.
Maria Manuel Valagão explicou à Fugas que o legume de que aqui falamos “não é uma cenoura qualquer, é uma cenoura especial e de rituais, em torno do pau roxo há uma memória muito positiva, muito festiva”. Aliás, há um dito popular segundo o qual “não pode haver matança do porco sem a conserva do pau roxo”, ou seja, a salada tradicional feita com cenoura no Alentejo e no Algarve. Além disso, “é uma cenoura diferente da que se faz agora por toda a Europa, que tem uma capa roxa e um centro laranja”. Sendo toda roxa, a que ainda existe no Sul de Portugal “tem mais carotenos e antioxidantes”, e portanto é benéfica para a saúde.
Para o dia da festa, vários restaurante de Castro Verde vão apresentar entradas ou saladas com pau roxo, e algumas pessoas foram desafiadas a criar novos pratos usando este legume — que, sublinha Carlos Pedro, não é fácil porque perde a cor quando é cozido, e a ideia aqui é que o prato mantenha o roxo que torna esta cenoura diferente das outras