Um jardim é a natureza no seu estado mais humano. Cada jardim tem uma história que se cruza com outros nomes para lá taxidermia das espécies que o compõem. Nele há sempre um jardineiro, um arquitecto paisagista, talvez, e foi a um grupo de conceituados desenhadores de espaços verdes que a Phaidon Press pediu um livro sobre os 250 jardins mais notáveis do mundo. A escolha, muito subjectiva, claro, incluiu cinco exemplos portugueses numa edição que percorre os cinco continentes.
O Parque de Serralves, no Porto; o jardim do Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa; a Quinta da Regaleira, em Sintra; a Quinta do Palheiro, no Funchal e o Parque Terra Nostra, nas Furnas foram incluídos em The Gardener’s Garden, a mais recente edição da Phaidon Press dedicada ao universo dos jardins, que inclui exemplos clássicos e inevitáveis como o Taj Mahal, na Índia; os Kew Gardens, em Inglaterra; os jardins de Versalhes, em França; do Alhambra, em Espanha; a High Line de Nova Iorque, nos EUA; ou o sítio de Roberto Burle Marx, no Brasil.
Como é normal, numa obra deste calibre, em inglês, e envolvendo escolhas de dezenas de autores de livros e revistas sobre jardinagem, paisagistas e especialistas em horticultura (entre eles uma referência discreta, mas com trabalho notável nas últimas décadas, o norte-americano Madison Cox, que assina o prefácio), a obra é dominada por jardins da Grã-Bretanha, os EUA, seguindo-se a França. Ainda assim, os autores fizeram um bom esforço para juntar espaços historicamente inevitáveis com novos trabalhos de criadores contemporâneos, como aquele com que o livro termina, o Jardim Los Vilos, em Choquimbo, Chile, que o arquitecto e paisagista Juan Grimm desenhou encosta abaixo, num monte com vistas para o Pacífico.
Pelo meio, no capítulo dedicado ao Sudoeste Europeu (França, Espanha e Portugal), surgem as cinco escolhas portuguesas, que deixaram de sorriso nos lábios os responsáveis pelos espaços destacados. Só a Fundação CulturSintra, dona da Quinta da Regaleira, não se mostrou disponível para comentar a importância da presença em The Gardener’s Garden dos jardins desta propriedade construída entre 1904 e 1910 por António Augusto Carvalho Monteiro, conhecido por "o Monteiro dos Milhões". Que contratou para a obra o então conhecido arquitecto e cenógrafo italiano Luigi Manini.
O neo-romantismo de Manini em Sintra; o neoclassicismo de Jacques Gréber, em Serralves. Os nomes e os estilos variam, mas o que há de comum nas cinco escolhas portuguesas é que se trata de espaços originalmente de uso privado que, por vontade dos seus donos ou “acasos” do destino, passaram a ter um uso público. São elas três fundações – Serralves, Casas de Fronteira e Alorna e CulturSintra –, e duas empresas com ligações à hotelaria, o Grupo Bensaúde, dono do Parque e Hotel Terra Nostra, e a família Blandy, detentora da Palheiro Estate, no Funchal.
Com cinco jardins em 250, Portugal está sub-representado ou, pelo contrário, surge com destaque a mais nestas escolhas? “Temos por aí muitos jardins privados, sem acesso ao público, que poderiam entrar nesta lista”, assume João Almeida, director do Parque de Serralves. Ele e Manuel Sousa, arquitecto paisagista e coordenador da organização do Congresso Mundial da associação World Urban Parks, que se realiza este ano, no final de Maio, em Ponte de Lima, acreditam que o país só muito recentemente começou a perceber que tem nos espaços verdes um património a preservar e a valorizar como activo cultural e turístico.