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O amendoim que cresce em Almeirim

Por Alexandra Prado Coelho

A Quinta da Alorna está a lançar-se num novo projecto que ajudará a perceber se Portugal pode ser produtor de amendoim a uma escala maior.

Foi no início de Setembro que ouvimos falar pela primeira vez dos amendoins da Quinta da Alorna. Uma visita cujo pretexto era o vinho – estava-se então em plena vindima – terminou com um jantar no qual Pedro Lufinha, director-geral da quinta de Almeirim, contou que nesta herdade que se estende por 16 quilómetros existia, entre muitas outras coisas, uma plantação de amendoim. E disponibilizou-se imediatamente para nos avisar quando chegasse a altura da apanha do amendoim.

Mas foi preciso esperar mais um mês e meio para o momento certo. É que, ficámos a saber, a apanha do amendoim faz-se numa janela de oportunidade bastante curta, de alguns dias. Começou então uma logística algo complicada para podermos acertar datas. Tudo dependia da chuva, explicaram-nos. Até que, em meados de Outubro, chegou o telefonema avisando que era altura – esperavam-se dias com grandes chuvadas e era preciso impedir que isso afectasse a produção do amendoim.

Acertado o dia, os nossos cicerones na Quinta da Alorna foram Pedro Lufinha e o director de produção, Gustavo Caetano. Antes de partirmos para o campo, uma breve explicação sobre a dimensão da quinta. A Alorna tem uma área de floresta de 1900 hectares, onde predomina o pinheiro, o sobreiro e o eucalipto, e uma área agrícola de 500 hectares, dos quais 220 são de vinha. No restante é cultivado milho, batata, ervilha e cebola, que se destinam sobretudo à indústria.

Em 2001 receberam um desafio da PepsiCo Espanha. A multinacional que produz e vende produtos alimentares e bebidas queria testar a produção de amendoim na Península Ibérica e mais exactamente nesta região, que tem algumas das características necessárias a este alimento. “A Europa é deficitária em amendoim e tem uma produção abaixo das necessidades de consumo”, explica Pedro Lufinha.

Grande parte do amendoim produzido no mundo vem de climas tropicais e sul-tropicais, da América do Sul e de alguns países de África onde as grandes produções continuam a ser feitas em sequeiro – se bem que nos EUA começa a usar-se cada vez mais o regadio. Mas o maior produtor mundial é hoje a China. Na Europa, apesar de o consumo estar a aumentar, existe pouca produção e torrefacção.

O amendoim é, aliás, originário da América do Sul, tendo começado a ser domesticado na Argentina, Bolívia e depois Peru. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, já os índios cultivavam o amendoim, conta o engenheiro agrónomo Amílcar Duarte no texto intitulado “Amendoim – a Noz subterrânea” sobre o cultivo na zona de Alzejur daquele que aí é chamado alcagoita.

Não se sabe exactamente há quando tempo existe produção, diz o autor do texto, embora “o facto de a cozinha regional não ter integrado o amendoim na confecção de pratos ou sobremesas possa indicar uma introdução relativamente recente”. Sabe-se contudo que a maior expansão se deu depois de a construção da barragem de Santa Clara ter possibilitado regar terrenos que antes não eram regados e que, sendo arenosos e portanto bons para o amendoim, permitiram o crescimento da produção local.

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