Cursos de mergulho, formação de espeleologia para entrar em grutas, três horas sozinho entalado nas escarpas, uma luta contra a claustrofobia, um susto de morte e quatro anos de filmagens deram a Carlos Sargedas o prémio de Melhor Documentário Estrangeiro para o filme Cabo Espichel – Em Terras de um Mundo Perdido no festival Hollywood International Independent Documentary, um certame que premeia mensal e trimestralmente produções documentais.
Em 2010 o Cabo Espichel comemorava 600 anos. Carlos Sargedas começa nessa altura a estudar as possibilidades para um documentário. Após 38 anos de carreira em fotografia, tira um curso de cinema digital e atreve-se “a ir mais longe”; “Fiz formação de espeleologia para entrar nas grutas. Foi muito difícil porque sofria de claustrofobia, mas consegui ultrapassar esse medo. Cheguei a ficar entalado numa grutas por duas vezes e a pensar que morria ali”.
O realizador e produtor do filme conta à Fugas uma dessas vezes: “a dias da estreia tinha a equipa a editar, queria um plano melhor das plataformas carbonatadas, então fui sozinho. Quando estava filmar junto à água para apanhar um plano de baixo, veio uma grande onda e arrastou-me. Só não fui desta para melhor porque acabei por ficar entalado nas escarpas, senão não estava cá para contar. O facto é que depois levei mais de três horas para conseguir sair dali sem que ninguém me pudesse ajudar, nem estava visível. Consegui subir a escarpa e fui escorregando pelas rochas.”
A aventura não está na obra mas os seus cenários sim, já que o documentário mostra todo o património histórico e edificado, passando pela História e mergulhando até profundidades de cerca de 50 metros. Em destaque também, a fauna e flora endémica ou a geologia com o foco nos dinossauros, cujas pegadas são únicas em Sesimbra.
Espeleólogos, especialistas de dinossauros, directores de museus - Coches, História Natural, Arte Antiga, Geológico - amigos e profissionais da sétima arte trabalharam graciosamente. Apesar disso, “o documentário custou uma pequena fortuna”.
Filmar debaixo de água a grande profundidade envolve grandes dificuldades e uma equipa especializada. Além de barcos, equipamentos para filmar em altas pressões, iluminação, aluguer de helicópteros, drones ou uma equipa de imagem dos Estados Unidos e da BBC - para tratar as imagens dos dinossauros -, tiveram “custos assustadores”.
Ao prémio agora conquistado, juntam-se outros pelo mundo fora. O Cabo Espichel – Em Terras de um Mundo Perdido venceu a Melhor Realização na 7ª edição do SilaFest na Sérvia, Melhor Documentário no 49º Festival Internacional de Cine-Tourism de Karlovy Vary (na República Checa), a Palma de Prata no Festival Internacional de Cinema do México e Melhor Documentário Estrangeiro no Near Nazareth Festival em Israel.
Em relação à presença do filme em Portugal o realizador manifesta-se frustrado: “enviei para alguns dos principais festivais de documentário em Portugal e nem sequer passou na admissão, senti frustração”.
Com isto, deixa uma mensagem aos novos cineastas: “têm muito que acreditar neles em primeiro lugar. Ninguém vai fazer o trabalho difícil por eles. Não esperem facilidades, não existem. Mesmo que digam que não vale a pena, que não há mercado, que não tem interesse.” "Eu não entrei em nenhum festival em Portugal e tenho cinco grandes prémios internacionais, nunca desistir!”, frisa.