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Adriano Miranda/Arquivo

Um novo Barca Velha vai aparecer lá para o Outono

Por Manuel Carvalho

A 18.ª edição do Barca Velha nasceu na vindima de 2008. Um vinho raro e caro que se tornou no principal objecto de desejo da enologia nacional.

Acabou a especulação: o próximo Barca Velha não será do ano de 2007 (que já foi apresentado como Reserva Especial), nem de 2009 nem haverá mais uns anos de espera até se saber o valor do 2010. A nova edição do mais prestigiado vinho tranquilo de Portugal nasceu e cresceu ao longo do ano fresco de 2008. Nas caves da Casa Ferreirinha o lote que vai dar origem a 18 mil garrafas de Barca Velha foi identificado, aprovado e lá para Outubro vai chegar ao mercado. Será a 18.ª edição do vinho emblemático da Ferreirinha, do Douro e, de certa forma do país. A anterior foi o Barca Velha de 2004.

A agitação que rodeia cada anúncio de um Barca Velha explica-se com a combinação de muitos ingredientes. Por um lado, há um fenómeno de marketing que impulsiona a curiosidade pelos bens raros, caros e carregados de história. Por outro há o valor intrínseco de um vinho que geralmente suscita os maiores elogios dos consumidores e da crítica – o 2004 teve 99 pontos na prestigiada revista Wine Enthusiast. Depois, há ainda o mistério que determina que qualquer vinho destinado a ser Barca Velha tenha de esperar sete ou oito anos para confirmar a sua capacidade de resistir ao tempo.

A combinação destes factores faz com que o Barca Velha seja um fenómeno, em Portugal mas também em mercados como o Brasil ou Angola. Para narizes e palatos pouco habituados aos segredos do vinho, o Barca Velha não garante o deslumbramento da fruta intensa, do corpo sedoso ou da doçura atraente. Pelo contrário, é um vinho que sendo complexo, tenso, profundo e duradouro nos sentidos, não deixa de ter um lado austero que faz parte da identidade da Casa Ferreirinha. Muitos estreantes ficam defraudados quando o provam – o mito gera por regra expectativas sobrenaturais. Mas para os apreciadores, um Barca Velha como o de 2004 fica muito perto da perfeição.  

Como beber ou oferecer Barca Velha é sinal de prestígio, e dado que a produção é limitada – embora esteja longe de ser um daqueles vinhos de garagem que se ficam pelas duas ou três mil garrafas -, o ícone da Ferreirinha é um vinho caro. Aliás, é juntamente com as preciosas edições do vinho do Porto Vintage Noval Nacional, o vinho mais caro do país. A edição de 2004 está à venda nas garrafeiras especializadas por cerca de 400 euros. Não se sabe qual será o preço de lançamento de 2008. Mas nunca será um vinho barato ou de custo médio – pelo menos para os hábitos do mercado nacional, porque se incluirmos na equação vinhos de Bordéus ou da Borgonha, o Barca Velha é até bastante “acessível”.

O nascimento do mito tem uma data: 1952. Nesse ano, Fernando Nicolau de Almeida, um enólogo irreverente e genial, decidiu fazer um vinho tranquilo num Douro centrado na exclusividade do vinho do Porto. Escolheu uvas de zonas altas para garantir frescura e recorreu à excelência do Vale Meão, junto ao rio, para garantir fruta, concentração e poder. Escolheu parcelas, levou gelo da lota de Matosinhos para controlar as temperaturas de fermentação e recorreu aos saberes da enologia nessa época em prática em centros de ciência como Montpellier ou Bordéus. Hoje, o Vale Meão é uma marca independente e os Barca Velha nascem na vizinha Quinta da Leda.

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