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  • Bruno Simões Castanheira
  • A Casa do Pedro foi a primeira a obter a certificação Ceres
    A Casa do Pedro foi a primeira a obter a certificação Ceres DR

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A Casa do Pedro é a primeira em Portugal com o selo Ceres Ecotur

Como a cultura agrícola não é indissociável da cultura humana, outro dos requisitos é “o respeito pelas pessoas que vivem nos territórios e os seus modos de vida”. Não podem haver práticas intrusivas, antes uma integração nas comunidades e nas tradições, desde a matança do porco às práticas agrícolas.

O respeito pelos recursos naturais é mais um dos vectores que esta espécie de “manual de boas práticas” determina. “Tem a ver com a eficiência energética dos edifícios, a gestão e a redução ao máximo da produção de resíduos, com práticas sustentáveis, como não comprar sacos plásticos, por exemplo.” Para terminar, os produtos devem ser de proximidade. “Neste caso [Casa do Pedro] são eles que produzem os próprios alimentos, da carne aos vegetais; no caso em que tal não suceda, os produtos devem ter proveniência próxima, da mesma aldeia ou município”, diz João Branco. Isto porque “diminui a pegada ecológica e traz logo valor acrescentado na origem”. Se num supermercado encontramos maçãs da África do Sul ou laranjas dos EUA, podemos imaginar a pegada ecológica que os milhares de quilómetros feitos para chegarem cá deixam, e, simultaneamente, sabemos que não é uma mais-valia para a economia local. E, “se não há rendimento, as pessoas terão de abandonar as zonas rurais, não só se perdendo biodiversidade mas despovoando o território que assim se torna mais vulnerável a incêndios, por exemplo”.

O que a Quercus quer, defende João Branco, “é que o turismo não seja feito à custa do território e dos recursos naturais de forma predadora”. “As próprias Nações Unidas declararam 2017 como o Ano Internacional do Turismo Sustentável, o que demonstra que há problema de sustentabilidade no turismo”, nota. Uma das grandes vantagens em Portugal, considera, é que há uma série de operadores turísticos que partilham e praticam uma forma de turismo amigo da natureza – grande número de empresas que na prática só precisa da certificação, portanto, para poder entrar numa rede que é europeia, com todas as vantagens que isso traz na atracção de visitantes estrangeiros.

Neste momento, o selo de qualidade Ceres Ecotur é dado a quatro tipo de operadores, que no fundo são três se considerarmos uma possível subdivisão, explica João Branco: da restauração, do alojamento, de actividades turísticas – e aqui temos os “dois segmentos, as que oferecem passeios a pé ou de bicicleta, birdwatching, caiaque... e as explorações agrícolas que, mesmo sem alojamento, recebem visitantes que vão vivenciar a agricultura”. Explorações agrícolas é a única categoria (ou subcategoria) de operadores que ainda não surgiram entre os candidatos a certificação.

Pela parte da lavoura, se calhar a Casa do Pedro também conseguia certificação na categoria de explorações agrícolas. Mas Pedro Medeiros, que nunca havia pensado em deixar a lavoura para se mudar para o ramo da restauração até o realizador José Fonseca e Costa lhe ter pedido para cozinhar para a equipa que filmava na terra Cinco Dias, Cinco Noites – “não me lembro qual foi a primeira refeição que lhes servi, sei que foi na serra ao pé da Senhora do Monte como cá lhe chamamos. Estavam a chegar de Guimarães –, já tem muito trabalho (entre lavoura e restaurante) e já está feliz com esta certificação. “Quem não estaria? E fomos os primeiros.”

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