Há um comboio que viaja pela aldeia de Alcongosta para mostrar os pomares de cerejeiras. Os ramos pesados caem para a estrada e não há quem resista a puxar uma ou outra cereja e a coma, indiferente à calda ou ao pó. Outros tiram fotografias às árvores pejadas dos frutos vermelhos.
O mês da cereja no Fundão começa já nesta sexta-feira, prolonga-se até dia 2 de Julho e a autarquia espera 40 mil visitantes que queiram andar de balão, no comboio turístico, fazer workshops, provar a cereja num belo prato de polvo, num doce, numa bebida ou, simplesmente, comê-las ao natural num pomar local.
De 9 a 11 de Junho, a aldeia de Alcongosta, mesmo ao lado do Fundão, celebra as cerejas com música, arruadas com bombos, show cookings com chefs que demonstram como pode ser cozinhada a cereja e com oficinas. Este ano, pode aprender a reciclar os caroços de cerejas para fazer almofadas terapêuticas ou então conversar com algum dos cesteiros que ainda entrançam os ramos de castanheiro, como é o caso de António Nunes, 81 anos, que há 70 faz cestos. "Corri o país de ponta a ponta em feiras de artesanato", conta à Fugas enquanto, com destreza e rapidez, prepara os ramos de castanheiro para fazer os cabazes.
Nunes também se dedica a fazer bombos, cadeiras, mesas e outra mobília de verga. Para mostrar como é resistente o fruto do seu trabalho, pousa uma cesta de lado e sobe para cima dela, dando pequenos pulos, para provar que aquele material não quebra. Hoje ainda há quem faça cestos como ele, mas não com tanta qualidade, garante, na sua oficina em Alcongosta.
Na povoação há um pomar que foi criado pela junta de freguesia e onde, quem quiser, pode apadrinhar uma cerejeira. Ao padrinho é pedido que doe 20 euros por ano e, desde o primeiro ano, recebe uma caixa de cerejas. Quando já for possível colher, daqui por quatro ou cinco anos, então poderá também fazê-lo. Além disso, recebe vários descontos em alojamento (15%), restauração (10%), e nos produtos à venda nos postos de turismo do Fundão (10%).
Se a Festa da Cereja é o ponto alto de celebração em Alcongosta, o fruto vermelho celebra-se por todo o concelho do Fundão, ao longo do mês, uma vez que os restaurantes, pastelarias e bares aderentes estão espalhados pelo município. Anualmente, a autarquia lança um desafio à restauração: criar pratos, doces ou bebidas que tenham a cereja como denominador comum. Até a escola profissional da localidade se associa, dando formação a cozinheiros, pasteleiros e barmen com o objectivo de proporcionar aos visitantes uma boa experiência gastronómica.
Por exemplo, no restaurante Hermínia, mesmo no centro do Fundão, pode provar os produtos da região – do azeite ao vinho da adega cooperativa, passando pelos espargos selvagens e pelos grelos de nabo. Mas, no que à cereja diz respeito, Carlos Couto, o proprietário, presenteia a Fugas com um polvo com cebolada de cereja e medalhões de porco com molho de cereja. Para terminar há cerejas ao natural e um pudim onde se sente a acidez deste fruto.
Cereja e mais cereja em dezenas de produtos