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No primeiro dia do Lés-a-lés os últimos cem metros é que foram mesmo puxados

Por Álvaro Vieira

Já está na estrada a edição de 2017, a 19.ª, da maior maratona de mototurismo da Europa, que até sábado há-de ligar Vila Pouca de Aguiar a Faro.

O primeiro dia - o prólogo, uma novidade - teve apenas 94 quilómetros, sempre no concelho de Vila Pouca de Aguiar. Mas a última centena de metros é que obrigou realmente os mais de 1600 inscritos no 19.º Portugal decLés-a-lés, um dos maiores eventos de mototurismo da Europa, a puxarem pelo físico.

Numa edição que já era de recordes, em termos de participantes, de distância (mais de mil quilómetros, ente Vila Pouca de Aguiar e Faro) e duração (agora quatro dias), a organização do 19.º Lés-a-lés, a Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), quis inscrever outro máximo: um bloco de granito com mais de 12 toneladas, a mais pesada das pedras alguma vez utilizada num “arrastão” de Vila Pouca de Aguiar. Quem queria chegar ao fim do 19.º Portugal de Lés-a-lés com um certificado de ter cumprido todas as etapas teve que ajudar a cumprir esta tradição de Vila Pouca de Aguiar – uma tradição dita milenar, mas que só há cinco anos ganhou regularidade, como ponto alto da Feira do Granito, a grande festa do concelho que se intitula a Capital do Granito. E ao ver as pedreiras na estrada, a indústria a laborar e os camiões em movimento, além das encostas cheias de blocos graníticos depositados numa espécie de avalanche petrificada, toda a gente acredita.

Já sobre o recorde do bloco de granito, ontem ouviam-se alguns habitantes locais a comentar que em todos os arrastões se diz que é a pedra mais pesada de sempre… E que o número de gente a puxar nunca pode variar muito: “As cordas usadas para puxar a pedra são sempre as mesmas, não cabem lá mais mãos”, dizia um idoso, a piscar o olho. E logo outro relativizava também: “Com tanta gente, é claro que é fácil arrastar a pedra. Só o início é que custa!”

Referia-se à inércia. Algo que não se sentiu neste primeiro dia do evento, com a maior maratona de Mototurismo da Europa, como lhe chama a FMP, a revelar uma vivacidade surpreendente atendendo ao calor, às vezes muito acima dos 30º, que a caravana enfrentou.

É uma caravana com uma dezena de nacionalidades – algumas tão surpreendentes quanto as neozelandesa ou australiana, dos antípodas – e suficientemente heterogénea para incluir motards com mais de 70 anos. As mulheres é que são francamente minoritárias e na maior parte das vezes vão como pendura.

O primeiro dia do prólogo passou-se a subir ao castelo de Vila Pouca de Aguiar, a descer ao enorme espelho de água da lagoa do Alvão, com as motos a cruzarem margens por passadiços de madeira, algo que não acontece todos os dias, e a visitarem o Alvão Village & Camping, com as suas torres à entrada a fazer lembrar os campos romanos que cercavam a aldeia de Astérix, e as suas casas castrejas, cobertas de colmo – num dia em que, valha a verdade, apetecia ar condicionado ou pelo menos um banho na lagoa do Alvão.

Umas das vantagens de andar de mota, que os automobilistas não compreenderão, é perceber tão bem a variedade de cheiros que às vezes se sucedem em curtas distâncias. Quarta-feira foi um bom dia para nos lembrarmos que Portugal ainda não é só pinho e eucalipto e tem uma floresta autóctone que já quase parece estranha a este lugar. Foi um bom dia para matar saudade de diferentes tipos de carvalho, para ver talhões de pequenos muretes de pedra com cheiro a feno e a hortelã.

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