É ele quem diz que “normalmente” nunca faz nada nos seus programas sobre vinho, e revela não ter paciência para “os cromos do vinho”, que normalmente o chateiam:” “Não me falem do raio do vosso vinho, bebam-no”, argumenta. Mas depois lá admite que vale a pena falar de vinho, numa mesa colocada na Adega da Real Companhia Velha, onde está sentado com o guia turístico André Apolinário, a comer queijo e a beber um cálice de Porto: “Adoro queijo servido com um copo de Porto" - sobretudo quando pela frente tem um queijo que “cheira a chulé, mas sabe ao céu”. Ou dito de outra maneira: "Ao contrário do vinho, a poronografia do queijo é fácil, tão fácil como a verdadeira pornografia."
Anthony Bourdain continua, pois, desbocado. E a gostar de bons tascos, onde a comida é servida atrás de um balcão e se dispensam facas e garfos. Acompanhados das donas do restaurante a Taberna do Largo, Sofia Príncipe e Joana Conde, Bourdain rendeu-se aos cachorros do Gazela, um espaço que está em vias de ser remodelado, junto ao Teatro Nacional de São João, onde o apresentador norte-americano mostrou não acreditar em tudo o que lhe dizem: os cachorros são deliciosos, sim. Saudáveis é que talvez nem por isso.
“Uma refeição aqui – genericamente falando - de qualquer maneira nunca é muito leve. Os portugueses gosto de porco. Gostam muito de porco”, diz Bourdain no seu programa. E voltando ao porco, outra vez, será melhor agora dar a palavra aos autores que colaboraram com a Roads & Kingdoms para ajudar os internautas a viajar pelo Porto “à maneira de Bourdain”, e a dar explicações mais detalhadas (que dificilmente cabem num programa de televisão) sobre as coisas que por lá ele andou a fazer e a conhecer.
A jornalista Vanessa Rodrigues descreveu “o dia perfeito no Porto”, em que nenhuma atracção turística da Baixa do Porto ficou de fora (Bolhão, Santa Catarina, Majestic, Lello, Palácio da Bolsa, Caves do Vinho do Porto, Muralha Fernandina, Estação de São Bento, etc., etc., etc.), desenhou um guia sobre como comer porco em Portugal (tendo como ponto de partida o Museu do Bísaro), avançou com uma receita de tripas à moda do Porto e deixou ainda uma série de sugestões onde comer um bom marisco e um bom peixe.
As fotografias de todos estes trabalhos têm o dedo do fotógrafo portuense António Pedrosa, que assina ainda mais dois portefólios: um sobre a pesca e o pescado, as conservas e os mercados, com uma viagem no barco de Abrãao Miguel, e ainda deambulações no mercado de Matosinhos e na fábrica de conservas Pinhais. O segundo portefólio, sugerido pelo próprio fotógrafo, retrata “os meninos do rio” e os saltos para o Douro das crianças da Ribeira. A jornalista Inês Matos Andrade escreveu uma carta de amor à francesinha e deixou a sua receita pessoal da mais famosa iguaria portuense, e o blogger Nelson Carvalheiro fez o exercício de explicar as várias formas do vinho do Porto.
É Jose de Meirelles, o homem que apresentou o porco a Bourdain, quem lhe explica como é que são conhecidos os nativos da cidade do porto: tripeiros. “Quinta-feira é o dia de comer tripas porque, num pais predominantemente católico, muitas pessoas não comem carne à sexta feira”, lê-se no website de Anthony Bourdain. Está explicado por que é que todo este conjunto de trabalhos foi publicado agora, quatro dias antes do episódio ir para o ar. Hoje é quinta-feira. É dia de ir às tripas.