Fugas - restaurantes e bares

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    Vila Joya Nuno Ferreira Santos
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    Dieter Koschina Vasco Célio
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    Vila Joya Vasco Célio

Vila Joya

Por David Lopes Ramos

No Vila Joya, cuida-se de todos os pormenores para que nada perturbe a refeição. Como diz o outro: "Ele há vidas mais baratas. Não são é tão boas". O restaurante de Koschina tem duas estrelas Michelin (e em 2013 foi considerado o 37.º melhor restaurante do mundo).

Tal quer dizer, segundo a publicação, que se está perante "uma mesa excelente", a qual "merece um desvio". Encontrar-se-ão "especialidades e vinhos seleccionados: deve estar preparado para uma despesa em concordância". Se "O Guia Vermelho Michelin" pode ser acusado de alguns pecados, como o da falta de sensibilidade para cozinhas que não tenham como padrão a matriz francesa contemporânea, é comovente a preocupação que revela com a saúde das carteiras dos frequentadores dos restaurantes de duas e três estrelas.

Na verdade, trata-se de casas de comida que, salvo casos de excepcional vigor económico pessoal, não são de frequência diária. Deve estar-se mesmo "preparado para uma despesa em concordância". Jantar actualmente no Vila Joya é praticamente impossível: as mesas estão reservadas para os hóspedes (no preço da estada está incluída a refeição da noite) e serve- se um menu-degustação, que varia diariamente, e que inclui cinco pratos. As marcações para os almoços são um pouco mais fáceis, embora às vezes impliquem alguns dias de espera.

A ementa: entradas - camarão com ''rosti'' e pêra abacate (28 euros); panaché de peixes com óleo de limão e manjericão (23 euros); fatias de cabeça de vitela sobre vinagreta de tomate (19 euros); fígado de ganso salteado com maçãs balsâmico (25 euros); salada de codorniz com fígado de pato (23 euros). As sopas: sopa aveludada de aipo com molho de trufas e variação de fígado (17 euros); consommé com cubos de lombo de vaca e Sherry (12 euros). As entradas quentes: tagliatelle com camarão (25 euros); massas com queijo Roquefort e ervas aromáticas (13.50 euros); massas com pepino e salmão fumado (16 euros); raviolli de aipo com fatias de cabeça de vitela e trufas pretas (23 euros).

Os peixes: peixes marinhos com massa ao manjericão (29 euros); tamboril com molho de alho para 2 pessoas (54 euros); lavagante servido em dois pratos (66 euros); cherne com couve flor (30 euros); peixe galo com espinafres ''a la creme'' (33 euros); robalo com cantarelos (28 euros).

As carnes: ''carrée'' de vitela com ervas aromáticas para duas pessoas (51 euros); codorniz com fígado de ganso salteado (33 euros); filete de bife de vaca com cantarelos (29 euros); peito de pombo com trufas pretas e fígado de ganso (29 euros); perna de cordeiro de leite com polenta para duas pessoas (52 euros); pato ''Nantes'' servido em dois pratos (55 euros).

As sobremesas (para duas pessoas, 20 minutos): ''rahmschmarren'' com morangos e gelado de requeijão (12 euros); ''soufflé'' de baunilha e requeijão com frutos silvestres (12,5 euros/pessoa); chocolate estaladiço com framboesas e gelado de ''champagne''(16 euros); sobremesa de soro de manteiga e arandos (15 euros); e ''charlotte'' de chocolate com cerejas (15 euros).

Existe ainda um menu, para duas pessoas: peixe-galo com gamba e vinagreta de tomate, ''côte de boeuf'' e selecção de sobremesa Vila Joya ou variedade de queijos (54 euros por pessoa).
Duas observações prévias: merece outra atenção a linguagem da ementa, que está mal redigida e mal traduzida; provoca algum espanto, num restaurante com duas estrelas Michelin, a repetição de certos acompanhamentos, os cantarelos, em pratos tão distintos como o robalo (que não havia e foi substituído por pregado) e o filete de bife de vaca. Adiante.

Começou tudo muito bem, com uns entreténs-de-boca, gentileza do chefe de cozinha Dieter Koschina, empratados à japonesa e muito mediterrânicos, de acordo com o espírito do lugar: sardinha marinada e acompanhada por ''pesto'' bem marcado pelo basílico; ''foie gras'' com molho de framboesa; salmão e caviar com raiz de aneto; ovo de codorniz estrelado sobre molho verde anchovado; e vieira fresca com um toque de açafrão, azeitona verde e pimento vermelho.

Fica-se logo muito bem disposto. Depois, ainda antes da entrada e do prato de resistência, foi a vez de um puré fino de batata a contrastar com uma colher em que coexistiam tomate e cantarelos numa espécie de salada fria. Seguiram-se, numa linha de simplicidade que caracteriza a cozinha do Vila Joya, em que a intervenção do cozinheiro se preocupa em sublinhar a alta qualidade das matérias-primas, as massas com pepino e salmão fumado (macio, amanteigado, uma beleza) e as refrescantes fatias de cabeça de vitela sobre vinagreta de tomate.

Como pratos principais, elegeram-se o pregado (sem peles, nem espinhas), fresquíssimo, de carne firme, na companhia dos coloridos cantarelos, um cogumelo comum em algumas regiões portuguesas; e o lavagante servido em dois pratos. Ou seja, primeira metade com um molho de citrinos, preparação relativamente falhada por o molho de citrinos que a acompanhava ter surgido muito doce, em virtude da dominância do sumo de laranja, que abafou a lima/limão e a toranja; segunda metade, muito bem, com um simples molho de manteiga, pareceu-me ligeiramente temperado com açafrão. Lavagante de sabor refinado, cozinhado no ponto. Como acompanhamento, um puré de batata com ovas de salmão e esturjão (caviar), leve, muito bem ligado e temperado, que foi, de toda a refeição, o que mais retive na memória.

Das sobremesas experimentou-se, com grande prazer, o chocolate estaladiço com framboesas e gelado de ''champagne''. O calor apertava e o final tinha que ser refrescante. O café, aromático e fino, cumpriu a sua função. Bebeu-se o sofisticado branco alentejano Baron de B reserva da colheita de 2001, de uma carta de vinhos recheada com algumas das mais conhecidas referências mundiais (França, sobretudo, mas também Itália, Espanha, Austrália, Nova Zelândia, EUA), de quase todos os grandes vinhos portugueses (Verdes, Douro, Dão, Bairrada, Ribatejo, Estremadura, Terras do Sado, Alentejo, Algarve, espumantes), uma belíssima selecção dos melhores Porto e Madeira, bem como "champagnes". Há uma carta de charutos, para os adeptos.

O serviço, atento, discreto e gentil, é de grande nível. Não seria, aliás, de contar com outra coisa. A conta final rondou os 100 euros/pessoa. É a tal coisa das vidas baratas e das vidas caras. Ou, como diz uma das personagens da "Escolinha do Professor Raimundo", diariamente na TV Cabo, no GNT: "Quem não tem dinheiro, conta histórias".

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