Vila Joya
Acaba de entrar na primeira metade da tabela na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo, e isso, independentemente do valor que se atribua a este tipo de classificações, já dispensa outro tipo de apresentações. É, pois, uma referência mundial, o que significa que por ali tudo funciona ao nível de excelência: da cozinha à garrafeira, do enquadramento ao serviço.
Para lá do lugar 22 na lista dos melhores do mundo, o Vila Joya há muito que é também distinguido com duas estrelas do famoso guia Michelin, o que é sinónimo de uma cozinha de grande rigor e criatividade e num espaço também ele fora do comum. O austríaco Dieter Koschina é quem comanda os fogões, numa equipa onde ele próprio não se cansa de distinguir o trabalho do seu adjunto, o italiano Matteo Ferrantino, e do sommelier francês Arnaut Vallet. Uma equipa e um conceito de matriz internacional, mas que se distingue, precisamente, pela utilização dos produtos portugueses de excelência. Prova disso é a apetência que a elite mundial dos cozinheiros tem demonstrado pelo festival gastronómico que o Vila Joya organiza todos os anos e que, por isso, tem já um lugar destacado no calendário mundial.
Como é natural, num lugar de excepção e onde nada é deixado ao acaso os preços são também a condizer: Uma refeição só muito dificilmente ficará abaixo dos 150 euros e para quem quiser há também um serviço especial de motorista, em carros de luxo, com preços entre 86 e 440 euros, consoante se parta de Faro ou Lisboa. Como dizia o saudoso, David Lopes Ramos, durante vários anos crítico gastronómico da Fugas: “Há vidas mais baratas. Não são é tão boas.”
É claro que não é para todos nem para todos os dias, mas pelo menos por uma vez na vida todos deveriam ter a possibilidade de experimentar. [José Augusto Moreira]
Estrada da Galé, 8200-416 Albufeira, Tel.:289 591 795. Reserva obrigatória; encerramento variável. www.vilajoya.com/pt
Noélia e Jerónimo
Começou por ser uma simples cafetaria com petiscos, mas nos últimos anos tem vindo a afirmar-se como uma das mesas bem representativas da cozinha regional algarvia. O trunfo da casa é, sem dúvida, a cozinheira e proprietária, Noélia Jerónimo, que transforma em ouro as várias matérias-primas que lhe chegam do mar. O desfile pode começar com uma canja de amêijoas, uns biqueirões fritos com espuma de tomate, conquilhas à Bulhão Pato, uma espécie de ceviche de corvina com manga e gengibre ou umas tapas de camarões com abacate. Nos principais encontram-se especialidades como as pataniscas de polvo com arroz de coentros, os filetes de peixe-galo com açorda de conquilhas, o polvo trapalhão com batata-doce de Aljezur — sem esquecer as doses duplas (no mínimo) servidas em tacho familiar de arroz de robalo ou de corvina com gambas, arroz de marisco, ou cataplana de tamboril. Tudo feito ao momento.
A popularidade alcançada contribuiu para que a reserva seja obrigatória em época alta. Entre os clientes indefectíveis nacionais e estrangeiros, contam-se alguns destacados chefs de cozinha da região e não só. No ano passado teve uma remodelação de visual, mas continua a ter a agradável esplanada na extensão da sala principal. A localização frontal à ria Formosa convida a um passeio descontraído antes da refeição, pois nos apertos do estio a experiência de lidar com a casa cheia pode exigir alguma flexibilidade de feitio. A solução é apostar tudo na comida, coração ao alto, relativizar algumas situações — e mergulhar de cabeça nas maravilhas que vão chegar à mesa. [Fortunato da Câmara]
Avenida da Fortaleza, Loja 1, 8800-591 Cabanas de Tavira. Tel.: 281 370 649; 968 534 971. Encerra à quarta-feira. facebook.com/restaurantenoeliae.jeronimo.9
Casa do Polvo -Tasquinha
O polvo é quem mais ordena em terras de Santa Luzia. A localidade é formosa, em grande parte graças à ria e aos trilhos repousantes que as suas águas indicam até à praia da Terra Estreita, mas também ao bom naipe de restaurantes que se encontram na pequena marginal. Em termos gastronómicos, o molusco “octotentacular” é rei e senhor de mesas locais afamadas como a Casa de Polvo – Tasquinha. Caminhando pela avenida que ladeia a ria a partir do pequeno porto da freguesia, o espaço surge-nos à direita numa das primeiras casas que se encontram.
Como se poderá imaginar, a oferta não deixa margem para enganos. A ementa vai revezando diariamente pratos como a salada de polvo, o polvo laminado e temperado (alguns dirão carpaccio), o polvo panado, o exótico caril de polvo, a popular feijoada de polvo, os tradicionais filetes de polvo com arroz do mesmo ou as não menos emblemáticas pataniscas de polvo com mousse de tomate.
É seguro que nas opções do dia se encontre sempre algum peixe para grelhar, como por exemplo umas gulosas barrigas de atum, ou um bife do tunídeo, ou até bacalhau à Brás, mas é no polvo que se vê a versatilidade e a alma da casa. A imaginação é fértil, como se pode constatar.
Sentados na pequena esplanada para tirar partido das vistas, ou calmamente no interior a observar um bonito painel de azulejos que se destaca numa das paredes, os motivos para a visita são vários e deixam à margem o serviço despachado e sem grandes afectos, mas por vezes arrítmico entre o eficiente e o descoordenado. Curiosamente, a gerência é alemã, o que pelo menos parece garantir o rigor e qualidade dos produtos que é visível nas diversas preparações. [Fortunato da Câmara]
Avenida Eng. Duarte Pacheco, 8. 8800-545 Santa Luzia, Tavira. Tel.: 281 328 527. Encerra à terça-feira. facebook.com/casadopolvo.tasquinha
O Jacinto
Foi durante anos o nome mais sonante entre os restaurantes da Quarteira, protagonismo que agora talvez divide em parte com o vizinho Jorge do Peixe (Fugas, edição 26/04/2014). Só que o mais difícil não é ser conhecido (há agências de comunicação que se contratam para isso), mas antes ter consistência e ser-se reconhecido durante anos consecutivos. É dessa proeza que o restaurante O Jacinto certamente se orgulhará.
A localização em plena avenida central desta localidade piscatória é paragem sagrada para muitos veraneantes. A vertente marisqueira é o principal motivo de romaria para se degustarem sapateiras, santolas, lingueirões, camarão da Quarteira (quando é época do “riscadinho”), búzios ou as típicas conquilhas. Depois de uma saladinha de ovas, podem avaliar-se pratos com mais trabalho de fogo, como o arroz de tamboril, as cataplanas de marisco ou de tamboril, os filetes de peixe-galo com arroz de tomate ou uns jaquinzinhos fritos.
As instalações têm um cariz pitoresco, que se evidencia logo à entrada com simulações de janelas típicas do casario da região, um telheiro e outros artefactos castiços conjugados com recantos onde estão colocadas algumas mesas. Paredes meias com este corredor inicial há uma outra sala mais ampla, escorreita e luminosa. Os créditos da casa mantêm-se firmes ao passar dos anos, deixando boas memórias aos que por ali debutam ou se renovam nos sabores marítimos. [Fortunato da Câmara]
Avenida Dr. Francisco Sá Carneiro Bloco 2, ?loja 2, 8125-153 Quarteira. Tel.: 289 301 887. Encerra à segunda-feira. www.facebook.com/RestauranteoJacinto
O Morgadinho
Há um caminho a ser percorrido por alguns restaurantes de hotel no Algarve com a pretensão de serem aclamados pela cozinha “tradicional” que julgam praticar. O problema não está no objectivo a alcançar, que é normal e desejável, mas no facto de muitos usarem produtos de qualidade e autenticidade duvidosas, aliados à deturpação de receitas sob o álibi da modernidade.
Ir ao Morgadinho é conhecer o bom reverso das más moedas, pois, apesar de o caminho até ao Hotel Suites Alba ser sinuoso, o restaurante pratica uma cozinha de vistas largas, tal como a maravilhosa paisagem que o confronta. O pouco conhecido chef Louis Anjos foi “cozinheiro do ano” em 2012; no entanto, manteve a discrição e foi fazendo a “sua” cozinha na pacatez deste hotel familiar. O resultado é uma carta cheia de sensibilidade ao que o rodeia, usando as técnicas para valorizar os “seus” pratos sem descurar os “nossos” sabores, como se poderá constatar nas entradas de feijão “carito” (feijão-frade) com barriga de atum fumada e moxama de Vila Real de Santo António e na terrina de polvo com batata-doce de Aljezur. Podem seguir-se o lombo e pá de borrego com cenoura algarvia, a caldeirada algarvia ou o salmonete e molho de seus fígados com xerém de berbigão e milhos. Nos doces, a desconstrução do cheesecake com mousse de queijo de cabra, puré e sorbet de laranja ou o mil-folhas de alfarroba com creme de amêndoa e parfait de medronho.
Estes pratos da carta de Primavera estão disponíveis apenas ao jantar, sendo necessária reserva antecipada para os ter ao almoço, onde o menu tem propostas ligeiras para saborear durante o dia passado na praia privativa. Uma descoberta obrigatória. [Fortunato da Câmara]
Hotel Suites Alba, Praia da Albandeira, 8401-908 Carvoeiro. Tel.: 282 380 700; 961 345 273. Não encerra. www.suitesalbaresort.com
Marisqueira Carvi
Quem vai a Portimão tem locais como a praia da Rocha, a do Vau e o Alvor, sempre presentes no pensamento para relaxar e restabelecer energias. Quando o assunto entra no campo dos prazeres da mesa, as imediações das praias podem não ser suficientes para mimar as papilas gustativas. A zona histórica da cidade tem um conjunto de restaurantes onde a sardinha é rainha, mas se os desejos forem de marisco ir até à Marisqueira Carvi é sinónimo de se estar prestes a morder um bom isco.
Na Rua Direita, de acesso exclusivo a peões, está uma das melhores moradas para um repasto de grande nível, onde as prestigiadas gambas da costa são cozidas ao momento e chegam mornas à mesa, temperadas com flor de sal — e como o marisco rescende a mar quando é servido tépido em vez de ter o sabor “abafado” pelo habitual excesso de frio —, e servidas com uma memorável manteiga de alho feita na casa. A sopa de peixe, as conquilhas, o ensopado de cação, os linguadinhos fritos, o arroz de lingueirão e peixes de porte como o pargo para assar no forno, são outros dos iscos para fazer prender pela boca os amantes das inúmeras iguarias que o mar pode oferecer.
O ambiente é descontraído e informal, numa sala sem grandes arrebiques decorativos além dos aquários de marisco onde lagostas e lavagantes repousam sob olhar de quem as quiser, e puder, saborear. [Fortunato da Câmara]
Rua Direita, 34, 8500-625 Portimão. Tel.: 282 417 912. Encerra à terça-feira.
A Comidinha
Alguns recantos algarvios ainda têm segredos bem guardados em moradas onde os pratos são de apuro e confecção tão singela quanto esmerada. Para uns, será este tipo de “segredos” que permite “resguardar” alguns locais de enchentes forçadas que os possam descaracterizar, mas os segredos, no fundo, são para manter até poderem ser partilhados com quem os merecer. E o que dizer quando ainda há locais “quase” secretos a poucos passos do mar, e com o centro de Lagos a seus pés?
Falamos do restaurante A Comidinha, anichado numa zona residencial da parte alta da cidade, que preserva um reportório culinário difícil de encontrar desde a ponta extrema do barlavento até aos confins do sotavento. A casa comemora em Novembro 20 anos de uma existência discreta, mas consolidada no melhor da cozinha tradicional com alguns toques pessoais e uns quantos pratos de origem africana.
O espanto na qualidade de confecção fica logo por conta de uma canja de peixe-galo ou as suas ovas em salada (quando as há), os carapaus “alimados”, a feijoada de búzios ou um indelével rabo de boi estufado com especiarias. Para mais incursões na alma da região, há lulas cheias (recheadas), coelho em vinho tinto, carne de porco com amêijoas, mão de vaca com grão — e apetece dizer tudo o resto que a gula comportar na imaginação. O ambiente é descontraído e a decoração feita pela extensa e criteriosa garrafeira garrafeira. O anfitrião domina a oferta vínica algarvia, mas sem dogmas em relação a outras regiões, pois o importante é propor o vinho adequado ao prato pedido. No serviço, o arranque pode ser brusco, mas no fundo acaba por ser prestável, com a variação de humor a ser a catarse para uma conversa informada e de opinião “afiada”. [Fortunato da Câmara]
Praça do Poder Local, Lote 5, ?loja B. 8600-254 Lagos. Tel.: 282 782 857. Encerra à segunda-feira.
Café Correia
Não se esperem pressas ou grandes mordomias neste restaurante simples, ao estilo do típico café central que se encontra um pouco por todo o país. O que interessa é, apenas e só, o que lá se come. Outro aviso: apesar da proximidade ao mar e de a casa atrair muitos turistas, não se peçam peixes grelhados, que o mais provável é que a resposta soe mais a convite para sair porta fora que a outra coisa qualquer.
No Café Correia a comida é de tacho, com os produtos da Costa Vicentina, frescos e de temporada, e sempre preparados “à Correia”. Ou seja, pela mão do proprietário que é a alma e o segredo da casa e sem outro tipo de explicações ou preocupações. Os pratos demoram sempre uma boa meia hora, no mínimo, já que tudo é confeccionado depois do respectivo pedido. Não se servem também doses mínimas ou “só para experimentar”, já que, claro está, tudo é feito “à Correia”, o que significa doses generosas — e, sobretudo, bem saborosas — e as experiências são coisa que não rima com o ambiente da casa.
Num estilo que se diria fazer muito bem a fusão entre o Alentejo e o melhor da tradição algarvia, a cozinha do senhor Correia mais que justifica a visita. Com uma visão bem mais actual, o filho trata da garrafeira, que proporciona escolhas amplas e ajustadas, enquanto a mulher, dona Lilita, cuida de aturar a clientela no seu estilo peculiar e que está longe de primar pela simpatia.
Há muito que as percebes, quando as há, são o cartão-de-visita da casa, mas também a sopa, arroz ou massada de peixe, as lulas recheadas, o polvo ou frango em tomatada ou o coelho à Correia fazem as delícias da clientela. Haja calma, que a satisfação é garantida. [José Augusto Moreira]
Rua Primeiro de Maio, 4. 8650-425 Vila do Bispo. Tel.: 282 639 127 ?(não aceita reservas). Fecha aos sábados
O Ideal
Por entre o caos de urbanizações e condomínios que tomaram de assalto uma das outrora mais típicas e acolhedoras vilas piscatórias do Algarve, há algumas coisas que afortunadamente ainda resistem. Não só o Ideal e a sua cozinha são exemplo dessa genuinidade quase perdida, como também a rua onde fica é tributária desses tempos de feliz convivência.
Já aqui escrevemos tratar-se de um espaço modesto e de cariz popular mas com uma cozinha de luxo. Não só pela qualidade da cozinha e receitas tradicionais, mas também pela frescura e genuinidade dos produtos com que tudo é confeccionado. Há quem afirme que os filetes de pescada são do melhor que há, mas também os mariscos (conquilhas, amêijoas, camarão ou gambas) são irrepreensivelmente frescos e bem cozinhados.
Especialidade da casa é a sopa do mar, um requintado caldo de peixes que é servido dentro de um pão algarvio e termina com sabores de açorda. Há que provar também os palitos de atum, envoltos em polme e salsa, assim como os pastéis de polvo, uma espécie de pataniscas com as pontinhas do octópode.
Aos peixes frescos (grelhados ou cozidos), junta-se ainda o arroz de lingueirão, o polvo entomatado, com puré, ou umas barrigas de atum grelhadas pelas quais deveríamos ficar eternamente agradecidos à simpática familiar que gere o espaço. Não nos esquece também um guloso bolo de vinagre que igualmente nos conquistou o palato.
O espaço é simples, no estilo de café de aldeia onde se servem refeições, mas a procura é grande. No Verão é mesmo aconselhável reservar de véspera. Preços contidos, tal como a lista de vinhos. [José Augusto Moreira]
Rua Infante D. Henrique, 15. 8800-591 Cabanas de Tavira. Tel.: 281 370 232. Fecha à quarta-feira (aberto todos os dias nos meses de Verão)
Vistas
Nos confins do Sotavento, e já a meio caminho entre as praias e o Barrocal, o Vistas parece propositadamente afastado das mais concorridas zonas turísticas do Algarve. As vistas amplas sobre o soberbo campo de golfe do luxuoso complexo hoteleiro e residencial Monte Rei, e também para o mar de Vila Nova de Cacela, justificam o nome.
Espaço de luxo e com cozinha a condizer sob a batuta de Jaime Pérez, um discreto mestre dos fogões catalão mas com um currículo que logo dá nas vistas. Além de ter integrado as equipas de Ferran Adrià no famoso El Bullí, trabalhou também com outros nomes maiores da moderna e mediática cozinha espanhola, como Sergi Arola e Pedro Subijana.
No Algarve, e quase no anonimato, o chef catalão procura um guião que destaque os produtos e tradições locais, adaptando-os às mais apuradas e inovadoras técnicas e ao estilo internacional de apresentação. Isso mesmo fica evidente com a carta para esta temporada de Verão, onde exercita variações com gaspacho, moxama de atum, xerém, porco preto ou polvo.
Uma cozinha de autor e em ambiente requintado, mas com propostas onde se nota também o propósito de uma certa discrição em termos de preços. O menu de degustação (seis pratos) custa 69 euros, ao que se somam mais 31 euros com uma selecção de quatro vinhos.
Para lá do esforço na utilização dos produtos portugueses, também a carta de vinhos é quase exclusivamente nacional, com opções equilibradas e cobrindo todas as regiões. [José Augusto Moreira]
Monte Rei Golf & Country Club. Sítio do Pocinho – Sesmarias. 8901-907 Vila Nova de Cacela. Tel.: 281 950 959. Encerra aos domingos e segundas (em Julho e Agosto); abre apenas de quinta a sábado nos meses de Abril a Junho, Setembro e Outubro.