Fugas - restaurantes e bares

Nuno Ferreira Santos

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No Cais do Sodré, o Povo alimenta o fado de calças de ganga

"Cria-se uma cumplicidade e amizade porque se vê aquelas pessoas quase todos os dias". Para Marta, não há dúvida de que se assiste a uma nova geração do fado que tem vindo a crescer. Os cantores do Povo são a prova disso. Marta recorda que quando começou a cantar lhe eram dirigidos comentários como "És tão novinha... cantas fado? Os velhinhos é que gostam de fado".

Assistiu, num período de cinco anos, ao aumento do número de cantores e instrumentistas, e a uma maior variedade musical. "Estão-se a quebrar alguns preconceitos e visões quadradas de tradicionalismos. Há alguma vontade de usar e partir do que já existe para fazer uma coisa nova".

O Povo contribui para a renovação em calças de ganga deste legado nacional, como explica Alexandre Pinto, dono do estabelecimento: "Estes jovens estão à procura da sua identidade enquanto fadistas e desenvolvem também um espírito de abertura a outros géneros musicais".

As segundas são dias de poesia
A poesia acende a luz da casa à segunda-feira. Um público heterogéneo unido pela palavra, sentado e de pé, estende-se até à porta para a escutar. O tema da noite é o "Eterno Feminino", inaugurado com palavras de Hélder Macedo na voz de José Anjos, um dos programadores dos Poetas do Povo: "O feminino é eterno, mas o ‘eterno feminino' não existe, porque muda. O ‘eterno feminino' é um termo perigoso inventado pelos homens para significar que as mulheres não são conhecíveis e que são uns seres mais ou menos indecifráveis".

Seguidamente, para fazer justiça ao tema, actrizes, escritoras, jornalistas convidadas, entre as quais Patrícia Reis, Inês Fonseca Santos, Sandra Celas, Dora da Cruz e Francisca Aires Mateus, acompanhadas por improvisos musicais, serviram poemas à mesa. A poesia passou a fazer parte integrante do Povo há cerca de um ano, na sequência da falta que, na opinião de José Anjos, fazia à cidade "um espaço onde se pudesse dizer e ouvir poesia de forma informal para tentar recuperar a tradição de dizer poesia em Lisboa, que foi desaparecendo no fim da década de oitenta." Nuno Miguel Guedes considera estes eventos como "um acto de identidade, de soberania, nesta altura em que estamos um bocadinho aflitos".

Texto editado por Ana Fernandes

 

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