Há três anos consecutivos que o The New York Times atribui ao 42 a classificação máxima, um reconhecimento do trabalho de Gonçalves, que já foi considerado um dos chefs a ter em vista pela revista Esquire e foi incluído na série "chefs do futuro" da Time.
O luso-americano, de 42 anos, é filho de António e Beatriz Gonçalves e cresceu em Yonkers, onde sonhou ser jogar profissional de futebol e, talvez, vestir a camisa do seu clube português, o Benfica. Uma lesão no joelho obrigou-o a desistir do sonho. Durante a licenciatura em marketing começou a trabalhar no restaurante de um amigo, servindo às mesas.
"Foi aí que comecei a perceber que tinha uma paixão por restaurantes e bem receber. Comecei a sonhar com o meu espaço, onde servia as receitas de que gostava e as pessoas se sentiam bem, mas nunca pensei em cozinhar", diz.
Aos 26 anos, abriu um espaço em sociedade com os pais, o Trotters Tavern, em White Plains. "Montámos uma ementa, mas não conseguíamos um chefe que a fizesse bem", lembra. Os cozinheiros sucederam-se durante vários meses. Numa semana, Anthony despediu dois. Foi nessa altura que decidiu avançar. "Eu e os meus pais tínhamos muito dinheiro investido. Não sabia cozinhar, mas sabia que não podia continuar a arriscar. Saltei para a cozinha e o resto é história", lembra.
O chef, que até ir para a escola só falava português, passou todos os Verões até completar 18 anos em Portugal. "Cresci a comer caracóis, camarão, rissóis de bacalhau, cabrito, carne de porco à alentejana, linguiça. A comida tinha uma importância enorme na nossa casa, era a nossa riqueza. Ao pequeno-almoço, falávamos do almoço, ao almoço falávamos do jantar e ao jantar começávamos a planear as refeições do dia seguinte", lembra.
É este percurso que forma a influência portuguesa na sua cozinha. "A minha culinária é moderna, é portuguesa e é americana. Os nossos ingredientes são portugueses. É como cresci a comer, mas pego nessa base sólida e transformo-a. É algo diferente, mas depois provas e pensas: «Espera aí, eu lembro-me disto»", explica.
Em 2004, depois de ficar em segundo lugar no concurso para liderar a cozinha do Gilt, em Manhattan, foi contactado por um dos seus clientes para ser sócio de um restaurante de sonho, no novo hotel Ritz-Carlton, um espaço de 2200 metros quadrados, a 150 metros de altura.
Anthony disse logo que sim, concordando passar do pequeno Trotters para um gigante onde teria de servir mais de 1500 pessoas por semana e dirigir uma equipa de 87 pessoas a tempo inteiro. No início, trabalhava entre 15 e 18 horas por dia. "Praticamente matei o meu pessoal, trabalhámos sete dias por semana durante vários meses. Lembro-me do primeiro Dezembro, em que trabalhei 23 dias seguidos. Cheguei ao Natal exausto."
Gonçalves ainda trabalha cerca de 70 horas por semana, mas joga futebol todas as semanas, vai à praia com os filhos, pesca com o pai. Visita Portugal três ou quatro vezes por ano, com os filhos, que têm dupla nacionalidade e estão a aprender português. "Quero expô-los a Portugal, levá-los aos Açores e à Madeira e, se tiver oportunidade, Moçambique, Brasil, Macau e Goa. Quero que conheçam o mundo português e a nossa cozinha."
O restaurante é muito popular entre várias celebridades, desde o príncipe de Marrocos a desportistas como Vanessa Williams ou Michael Jordan, a equipa de basquetebol New York Knicks e de hóquei New York Rangers, a atores de Hollywood, como Michael Douglas, Catherine Zeta Jones e Leonardo DiCaprio, e músicos como Rob Thomas e Steve Perry, também de descendência portuguesa e que é bom amigo de Anthony.
Anthony diz que a melhor parte dos seus dias é quando o restaurante está cheio, a cozinha a receber dezenas de pedidos, e ele pode recuar e ver a equipa a trabalhar como uma engrenagem de alta precisão. "É aí que sinto que fiz o meu trabalho", garante.