Fugas - restaurantes e bares

Não separe o homem o que a cerveja uniu

Por Luísa Pinto

Já se disse muita coisa da cerveja. Falta dizer que também é uma bebida casamenteira e que há relações alimentadas a cerveja. Foi o que constatámos na XIII Entronização da Confraria das Cervejas.

De capa cor de trigo aos ombros, chapéu na cabeça, rodeado de amigos e copo na mão, Pedro Frias diz-se um homem feliz. Tem carro, computador e telemóvel, tem casa e tem mulher. E, desde há três anos, uma filha. “Passo os dias a levantar copos de cerveja, e ainda me pagam para isso. É o que me dizem os meus amigos: tenho o melhor emprego do mundo”, relata, divertido, entre copos de cerveja, e a dar uma calorosa recepção de boas-vindas à mais recente membro da Confraria da Cerveja — Francisca Paes, seleccionada entre os participantes do passatempo organizado pela Fugas para eleger um representante dos consumidores na XIII Entronização da Confraria das Cervejas, que decorreu no Porto.

Pedro Frias chamava-lhe a segunda maior consumidora de cerveja do país — isto porque não se atrevia a tirar o primeiro lugar à leitora seleccionada no ano passado, Ana Margarida Andrade que, tal como prometeu à Fugas no ano passado, iria fazer de tudo para estar presente na cerimónia seguinte. E esteve. Posou para a foto ao lado da nova confradesa-consumidora, Francisca Paes (ver segundo texto), perante o olhar divertido de Pedro Frias.

“Já vos disse que tenho o melhor emprego do mundo?”, repetia. Já, já disse. E isto não é a cerveja a falar — “já bebi muitos copos, mas isso é o que eu faço todos os dias”, assegura; mas sim, isto é ele a falar de cerveja. “Foi graças à cerveja que conheci a minha mulher”, relata. Ele ocupa um cargo de responsabilidade na secção de enchimento de garrafas de cerveja; a mulher dele ocupa um cargo de responsabilidade na secção de produção. “Ela faz, eu encho. Eu só encho porque ela faz. E cada uma das garrafas que saem daquela fábrica para todo o mundo leva um bocadinho de nós”, brinca.

Quem não tem bons empregos — se a bitola para ter o melhor emprego do mundo continuar a ser trabalhar no fabrico e consumo de uma das mais antigas bebidas da história — cria-os. Pode ter sido isso que Kathia Zanatta muito bem pensou e melhor o fez. A cerveja pode ter entrado por acaso na sua vida — gostar de bebê-la durante o curso de Engenharia de Alimentos na Universidade Estadual de Campinas (Brasil) não conta, mas ter surgido a oportunidade de ir para Alemanha ainda antes de acabar o curso, e fazer um pequeno estágio na Cervejaria Paulaner, em Munique, sim — mas a vontade de levar a sua paixão pela precioso líquido a todas as bocas do mundo não. Zanatta foi a primeira sommelier de cervejas a trabalhar no Brasil, e a dedicar-se a dar consultoria e explicações a donos de bares e restaurantes e a consumidores finais sobre que tipo de cerveja vai com cada prato — é possível harmonizar uma cerveja, e há milhares em todo o mundo, com todo o tipo de pratos, desde a alta cozinha até aos petiscos do “boteco”. Conheceu o marido, Alfredo Ferreira, graças à cerveja, quando terminou a faculdade e conseguiu o primeiro emprego na Schincariol. A marca de cervejas e refrigerantes foi vendida aos japoneses da Kirin. Kathia e Alfredo montaram uma escola ao lado, o Instituto de Cervejas do Brasil, onde se dedicam a formar gente que aprenda a gostar e a consumir cerveja. “Porque o gosto e o paladar também se educam”, explica Zanatta, que, a pedido, poderia estar uma tarde inteira a explicar como se educa o paladar de quem nunca bebeu cerveja e a aconselhar os tipos de cerveja que vão melhor com cada tipo de alimentos (ela é professora e co-fundadora do curso de sommelier de cerveja da Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo).

Outra das preocupações de Zanatta é demonstrar que beber cerveja não é sinónimo de ter barriguinha. “O segredo é moderação — mais até nos acompanhamentos, como fritos, bolinhos, de que toda a gente abusa, do que na cerveja.”

A paixão pela cerveja é genuína. Por isso sintetizou com emoção a cerimónia de entronização que a tornou membro da Confraria da Cerveja, que tem como objectivo defender o património desta bebida, promovendo e comemorando os seus benefícios nas suas várias vertentes. “Fiquei muito sensibilizada com o respeito e o carinho com que por aqui todos tratam a cerveja. Também acho que a cerveja merece um tratamento assim. No Brasil não temos nada disso.”

Criada em Abril de 2003, a Confraria da Cerveja conta já com mais de 500 confrades. Todos os anos convida figuras públicas e líderes de opinião (Confrades de Honra), parceiros do negócio cervejeiro português (Confrades Protectores) e colaboradores das cervejeiras (Confrades Mestres). Entre os nomes entronizados este ano encontram-se os humoristas César Mourão, Salvador Martinha e Fernando Mendes (Confrades de Honra) ou os responsáveis pelas marcas de cervejas artesanais Sovina, Vadia e Rolls Beer, respectivamente, Arménio Martins, Vítor Silva e Aníbal Lopes (Confrades Mestres). Para o ano há mais. E Zanatta quer regressar — e trazer o marido.  

A cerveja é o sabor da vida de Francisca Paes

Leitora da Fugas foi a segunda consumidora entronizada pela Confraria da Cerveja. Escreveu que a cerveja dá-lhe sabor à vida e o júri escolheu-a para representar os consumidores.

Quem vê caras não vê corações, e quem vê costas pode muito bem ver copos de cerveja. É impossível não reparar nelas, nas costas e nas cervejas, com a Ponte da Arrábida como pano de fundo, na fotografia que venceu o passatempo organizado pela Fugas para escolher a consumidora que foi entronizada pela Confraria das Cervejas.

Francisca Paes descobriu por acaso que se podia candidatar a ser uma nova confradesa cervejeira — não era o prémio da viagem e estadia ao Porto que a atraía, já que esta é a sua cidade natal. “Estava em casa, estive doente uns dias, quando encontrei o passatempo por acaso, numa rede social. Desafiei umas amigas e tirámos a foto”, explica à Fugas, referindo-se à selfie em que ela e as amigas estão de costas, mas as cervejas estão bem à vista.

O passatempo lançado pela Fugas e pela Confraria da Cerveja exigia que o leitor demonstrasse ser um verdadeiro amante da cerveja e isso, para Francisca Paes, era jogar em casa e com o estádio cheio. “ A culpa foi do meu pai, que começou a desenhar-me bigodes com espuma da cerveja ainda eu era pequenita”, recorda. Por isso começou a sua frase, a que acabou vencedora, a dizer isto: “A cerveja é o meu pai, que me ensinou a gostar”.

Ensinou-a a gostar, e muito. “Se pudesse, bebia todos os dias”, admite. Agora que já é crescida — “Tenho mais de 18 anos, juro”, brinca — confessa que prefere cerveja em qualquer situação, com qualquer comida e independentemente da companhia. “Ninguém se acredita em mim, mas acho que cerveja e sushi combinam bem”, dizia ela, ainda antes de ouvir Kathia Zanatta  explicar que todos os pratos são harmonizáveis com uma cerveja. De resto, se em teoria o tamanho pode não contar para nada, a verdade é que Francisca tem nas garrafas de minis a sua cerveja preferida. “Têm o tamanho certo para alguém como eu. Que também sou pequenina”, termina.

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