Fugas - restaurantes e bares

  • Marisqueira Ibo, Amêijoa da Ria Formosa
    Marisqueira Ibo, Amêijoa da Ria Formosa Mara Carvalho
  • Ibo. João Pedro e Daniel, pai e filho,
sócios do Ibo restaurante
    Ibo. João Pedro e Daniel, pai e filho, sócios do Ibo restaurante Mara Carvalho
  • Hélder e a filha Rita.
    Hélder e a filha Rita. Mara Carvalho
  • Ribamar
    Ribamar Mara Carvalho
  • Ribamar
    Ribamar Mara Carvalho
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    Marisqueira do Lis Carla Rosado
  • Marisqueira do Lis
    Marisqueira do Lis Carla Rosado
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    Nunes Miguel Manso
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    Nunes Miguel Manso
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    Nunes Miguel Manso
  • Cervejaria da Esquina
    Cervejaria da Esquina Rui Soares
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    Cervejaria da Esquina Rui Soares
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    Cervejaria da Esquina Miguel Manso
  • Espinho: Aquário Marisqueira de Espinho
    Espinho: Aquário Marisqueira de Espinho DR
  • Espinho: Aquário Marisqueira de Espinho
    Espinho: Aquário Marisqueira de Espinho DR
  • Espinho: Aquário Marisqueira de Espinho
    Espinho: Aquário Marisqueira de Espinho DR
  • Camarão, Âncora
    Camarão, Âncora DR
  • Marisqueira A Antiga de Matosinhos
    Marisqueira A Antiga de Matosinhos DR
  • Marisqueira A Antiga de Matosinhos
    Marisqueira A Antiga de Matosinhos DR
  • Marisqueira A Antiga de Matosinhos
    Marisqueira A Antiga de Matosinhos DR
  • Marisqueira A Antiga de Matosinhos
    Marisqueira A Antiga de Matosinhos DR

Marisqueiras para o Verão

Por Alexandra Prado Coelho, José Augusto Moreira

Podíamos escolher tantas quantos quilómetros da costa. Mas, até esquecendo alguns clássicos, vamos desta vez por Lisboa e Sesimbra, Matosinhos, Âncora ou Espinho. Em nome do marisco.

Lisboa: Ibo 
Marisco português com memórias de Moçambique

João Pedro e Daniel, pai e filho, sócios do Ibo restaurante, abriram agora, ao lado daquele, no Cais do Sodré, uma marisqueira. Os melhores mariscos de Portugal surgem ao lado dos grandes camarões de Moçambique, com piri-piri e cerveja Laurentina. E um prego que quer “ser uma referência em Lisboa”. 

É ali, à beira Tejo, nos antigos armazéns de sal do Cais do Sodré que o império Ibo está a crescer. E se a história do Ribamar (ver página anterior) está ligada à de Sesimbra, a do Ibo está ligada a Lisboa, claro, mas também a Moçambique — Ibo é a vila que dá nome à ilha moçambicana onde se encontra a Fortaleza de São João Baptista. E é também, como a do Ribamar, uma história de família.  

Primeiro, em 2009, surgiu o restaurante Ibo, que rapidamente se tornou conhecido por fazer uma cozinha portuguesa com influências moçambicanas. Agora, encostado a ela mas virada para a praça do Cais Sodré, nasceu, no início de Fevereiro, a Ibo Marisqueira. E muito em breve surgirá, também ali ao lado, o Ibo Café, com uma gelataria.  

João Pedro Pedrosa, 37 anos, proprietário (juntamente com o pai, Daniel Pedrosa Lopes) e responsável pela cozinha dos três espaços Ibo, recebe-nos na marisqueira — e é da marisqueira que, pelas melhores razões, vamos falar neste início de Verão. 
Em cima da mesa está já um prato de presunto (ibérico de bolota, da marca Castro y González, com uma cura superior a 48 meses, o mesmo que, sublinha João Pedro, é servido na Casa Real espanhola) e umas (já famosas na cidade) “puntillitas”, as lulinhas bebés passadas por farinha de milho temperada com um bocadinho de pimenta e depois fritas (não esquecer de lhes deitar umas gotas de sumo de limão antes de as passar pela maionese).  

Pouco depois é o pai de João Pedro que chega e junta-se a nós para o almoço. “O meu avô nasceu em Moçambique, o meu pai fez lá metade da sua vida e hoje ainda lá tem negócios”, conta João Pedro. Por isso, e apesar de não ter vivido em África, os sabores moçambicanos estiveram sempre presentes na sua infância. “Eram coisas que já fazia em casa, para os amigos.”  

Quando abriram o Ibo — João Pedro teve outro restaurante no Algarve entre 2005 e 2008, altura em que o pai o desafiou a voltar para Lisboa e a fazer este projecto — foi de forma muito natural que as influências moçambicanas chegaram à cozinha. E rapidamente correu por Lisboa a notícia de que ali se comia um caril de caranguejo de chorar por mais.  

Os anos passaram e recentemente surgiu a oportunidade de ocupar o espaço de outros armazéns, na parte de trás do Ibo, que tinham pertencido à Guarda Fiscal mas que estavam abandonados há já alguns anos — um deles, uma pequena casinha de madeira, foi entretanto classificado, e será aí que funcionará a gelataria. 

Decidida a aposta numa marisqueira, João Pedro lançou-se a preparar a carta. “Quisemos apostar em produtos portugueses”, diz. “Os bivalves, por exemplo, são todos da ria Formosa, os percebes vêm das Berlengas ou de Vila do Bispo, o camarão é do Algarve, as sapateiras, santolas e lagostas são, todas, nacionais. Só o camarão-tigre e os carabineiros é que vêm de fora.” E, para que não haja dúvidas quanto à qualidade, é ver os animais nos viveiros da marisqueira. 

Um dos principais trabalhos de quem quer abrir uma casa como esta é identificar os fornecedores. “Passámos muito tempo à procura dos melhores, porque há muitos fornecedores, mas poucos são bons. Por fim, conseguimos entrar no bolo dos que fornecem as melhores casas de Lisboa.” 

No Ibo restaurante “há mais liberdade criativa”, explica João Pedro. A marisqueira quer-se mais tradicional. Mas há detalhes que não nos deixam esquecer que esta é uma família com uma forte relação com Moçambique: um deles é que encontramos sempre na Ibo três ou quatro variedades de piri-piri feito na casa com malagueta fresca.

O chef convida-nos a provar algumas das especialidades. Há sempre uma sopa de marisco e um creme. Provamos o de ervilhas com presunto, para o qual, explica João Pedro, aproveitam o osso do presunto que servem no restaurante. Chega depois um prato de camarão do Algarve (de Olhão) delicadamente cozido em água salgada, mas que mantém o seu sabor ligeiramente adocicado. 

E depois uma impressionante travessa com “camarões de cabeça-cheia”, de Moçambique, que aqui podem ser cozinhados “à Nacional”, ou seja, à moda de uma conhecida cervejaria de Maputo no tempo em que a cidade se chamava Lourenço Marques. Postos a marinar de véspera com manteiga de alho, piri-piri e “algumas ervas”, vão depois para um forno com temperatura muito alta e são regados com cerveja. Todos os pratos com molho são acompanhados por um pão de mistura pensado especialmente para o efeito. Já as cascas de sapateira recheadas, por exemplo, vêm com pão fatiado fino e torrado. 

Os preços variam muito. Entre os 88 euros dos carabineiros, e os 12 euros dos camarões à Guilho, há de tudo: casco de sapateira (14,90 euros), conquilhas (14,50 euros), sapateira (24,50), santola nacional (28,50), lavagante azul (65,80) ou a mariscada para duas pessoas (60,50), que inclui camarão cozido, amêijoa à Bulhão Pato, canilha, sapateira, camarão do Algarve e camarão à Guilho). Também as batatas fritas foram tratadas com a dignidade merecida — foi escolhida a variedade agria, mais indicada para a fritura. 

João Pedro vai descrevendo os pratos e explicando o que mais existe e percebe-se bem o trabalho que pôs na elaboração da carta. Pai e filho querem fazer da casa uma referência do bom trabalho com mariscos em Lisboa. E não só mariscos, esclarece Daniel Pedrosa. Uma das ideias que têm para aqui é trabalhar também o peixe. “É difícil encontrar em Lisboa um espaço agradável e de qualidade onde se trabalhe bem o peixe”. 

Para já, têm diariamente, para quem não gosta de marisco mas vem a acompanhar amigos, uma opção de peixe grelhado e um “lagareiro do dia”, que pode ser com bacalhau ou polvo. E há também arroz (42 euros), cataplana (44 euros) ou açorda de marisco (16 euros). E é possível que no futuro surjam mais variedades de peixes grelhados ou cozidos. 

Falta ainda falar de um detalhe muitíssimo importante: o prego. Se comer um prego depois de uma pratada de marisco se tornou uma tradição para os portugueses, a marisqueira Ibo quer entrar neste campeonato para vencer. “Queremos fazer deste prego uma referência em Lisboa”, anuncia João Pedro. A carne é do pojadouro, “só os lombos, bem escolhidos”, e o pão é de mistura, muito leve. A acompanhar vêm dois tipos de mostarda à escolha. Mesmo para quem acha que é de mais um prego no final de uma refeição, este foi pensado para não pesar muito no estômago. 

Para terminar (e se ainda houver estômago) as propostas são de gelados e doces tradicionais como o pudim Abade de Priscos (numa versão ligeiramente mais leve do que o habitual). E, para os verdadeiramente nostálgicos de comer marisco em Moçambique, há ainda uma surpresa: uma cerveja Laurentina, estupidamente gelada, para acompanhar. (Alexandra Prado Coelho)

IBO Marisqueira. Rua Cintura do Porto de Lisboa, 22 Cais do Sodré, Lisboa. Tel.: 929308068.  Horário: das 12h30 às 24h (fecha à segunda-feira.


Sesimbra: Ribamar
Um mergulho no mar pela mão de Hélder e Rita

O Ribamar de Sesimbra está a celebrar o seu 65.º aniversário. Não são muitos os restaurantes que se mantêm 65 anos na mesma família, mas este pode orgulhar-se de ir já na terceira geração: António e Cremilde Chagas, Hélder e agora a filha deste, Rita. E uma história que é também a de Sesimbra e do excelente peixe e marisco desta costa.

Passaram já 65 anos desde a altura em que Hélder Chagas, com meses de vida, dormia dentro de um “caixotinho de Vinho do Porto a fazer de berço” no Café Ribamar, aberto em Sesimbra pelos seus pais, António e Cremilde, no ano em que ele nasceu, 1950. Muito aconteceu na vida deste hoje histórico restaurante de peixe e marisco, cuja cozinha é garantida por Hélder e pela filha Rita. É uma longa história, que é também, em parte, a história da Sesimbra das últimas décadas, e que os dois contaram à Fugas durante um almoço recente, num dia de semana já quente, com os primeiros veraneantes a aproveitarem a praia, ali mesmo ao lado. 

Tínhamos estado no Ribamar umas semanas antes para o almoço de aniversário que foi um impressionante desfile daquilo que Hélder e Rita descreveram como “alguns dos muitos prazeres marinhos da nossa querida costa”. Houve — atenção que a lista é longa — amêijoas, ostras e pés-de-burro, ouriços-do-mar, navalhas, mexilhões e carabineiros, caramujos e percebes, navalheiras e lagostins da pedra, tártaro de lagostim, caranguejo de casca mole com molho de abacate e lima, anémona frita, ova de choco, saladinhas de polvo e chocos, abrótea com creme de ouriços, salmonete com manteiga dos fígados, preguinho de espada, robalo com creme de lagostins e, para terminar, a deliciosa sopa rica de peixes e mariscos. 

Mas nesse dia de festa pai e filha tinham que garantir que tudo corria bem na cozinha e por isso o tempo para conversar era pouco. Por isso voltámos para ouvir Hélder contar como tudo começou. “De dia ficava no caixotinho e à noite a minha mãe ia pôr-me a casa dos meus avós maternos. A minha avó tinha um fogão a lenha com dois metros de comprido e dois fornos, a chaminé parecia daquelas alentejanas, enormes, e ela passava o dia inteiro na cozinha a fazer comida para os cinco filhos e quem mais aparecesse, porque em tempos difíceis panela que vai ao lume para 10 vai para 15.”

Como não podia brincar na rua, Hélder ficava a ver a avó cozinhar. “Às vezes ajudava, outras ficava a brincar a fazer ‘comerinhos’, que era como a gente lhes chamava, umas salganhadas que não sabiam a nada, mas serviu para durante a minha vida agarrar-me a isso lembrando-me de coisas que via a minha avó fazer.” Foi dessas memórias que vieram receitas que ainda se podem provar no Ribamar, como o safio ou o peixe-espada guisado com ervilhas — “uma coisa fabulosa!”. 

Antigamente, recorda, usava-se muito em Sesimbra o peixe-espada branco, que havia em abundância (agora continua a existir, mas o preto). “Qualquer barcazita saía da doca e em duas horas de caminho ficava carregada de peixe-espada branco”, conta Hélder. “Agora é impensável, o peixe-espada branco que aparece aí no mercado é capturado ao largo da Mauritânia.” 

E o que fez desaparecer este e outros peixes grandes que aqui existiam? “Houve, em determinados anos, uma captura desenfreada de algas. Aquilo dava dinheiro e os barcos, que no ano inteiro andavam à pesca, chegavam ao Verão e tinham aqueles meses de captura de algas. Raparam o fundo do mar todo e os peixes pequeninos, os camarõezinhos, toda essa bicharada começou a desaparecer e os peixes grandes que se alimentavam deles mudaram-se para outras zonas.” 

Foi o que aconteceu também com o espadarte, outro peixe pelo qual Sesimbra era famosa. “O dono do Hotel Espadarte tinha uma traineira para levar os nórdicos, que vinham aqui passar férias em Setembro e Outubro de propósito para pescar espadarte. Na ‘forca’ em frente ao hotel todos os dias estavam pendurados peixes com 89, 90, 100 quilos.” Mas, depois de piorarem, as coisas começaram novamente a melhorar, e algum peixe está a voltar. Quanto ao marisco, Hélder e Rita continuam a arranjá-lo de qualidade sem problemas. 

Mas voltemos à história do Ribamar, enquanto Rita zela para que desta vez provemos coisas diferentes — sushi (que começaram a fazer para o espaço mais descontraído que entretanto abriram ao lado do restaurante, o Ribas, mas que pode comer-se também no Ribamar), sardinhas assadas servidas em cima de fatias de pão e peixe no forno. “Comecei a ajudar o meu pai mais a sério quando tinha 12, 14 anos”, recorda Hélder. “Saía da escola e ele obrigava-me a ficar atrás do balcão a lavar chávenas de café e a servir imperiais.” O Hélder adolescente, que via os colegas irem jogar futebol para a praia, detestava aquilo, claro.

Só que, entretanto, o Ribamar já se tinha transformado numa referência na terra. Ao princípio era só um café de ambiente simpático, onde “ia desde o doutor do registo civil ou o presidente da Câmara aos pescadores à tarde, quando chegavam do mar”. Mas António Chagas era um homem de inovações. “Com 19, 20 anos, o meu pai saiu de Sesimbra, chateou-se desta vida e foi para Lisboa. E onde é que foi parar? À Ginginha de São Roque. Conheceu as inovações da capital e foi ele quem trouxe para Sesimbra a primeira jukebox, a tiragem de cerveja a copo, os primeiros gelados, que ainda eram da Rajá, a primeira televisão num estabelecimento comercial.”

Além disso, a boa relação com os pescadores fazia com que eles trouxessem do mar “as lulinhas, os choquinhos pequenos, que eram para a ‘tia Cremilde’ fazer”. Tudo começou com os petiscos, “uns choquinhos à pé descalço, umas lulinhas ao alhinho”, e ao fim de poucos anos havia restaurante. “Depois nunca mais parou.”

Hélder é que ainda não estava convencido de que esta seria a sua vida, mas com a saída de outro funcionário foi chamado para a sala. “O meu pai pensou ‘o Helderzinho tem 16 anos, fala inglês, fala francês, veste casaquinho azul e papillon e vai para a sala tirar pedidos.” Foi contrariado. Mas o ano revelou-se excepcionalmente bom, com os turistas a pagarem garrafas de vinho de sete escudos com notas de dez e a deixarem o resto para o Hélder. “Nunca ganhei tanto dinheiro proporcionalmente na minha vida. Tirei a carta, comprei um carro, e mentalizei-me: isto é capaz de dar uns tostões.” Assumiu o restaurante, mudou-o do Largo da Fortaleza para a Avenida dos Náufragos e fez dois estágios em Genebra, onde aprendeu muita coisa nova. 

Mas a história já vai longa e ainda não falámos de Rita. Temos que a imaginar pequena, uns seis ou sete anos, e “difícil para comer”, como ela própria se descreve. Por isso, ia para a cozinha e fazia o seu próprio almoço: uma magnífica salada, que levava tudo o que conseguia encontrar e que despertava a atenção dos clientes, que pediam “também posso comer aquilo?”. O problema, conta o pai, “é que ninguém sabia fazer a salada como ela e por isso várias vezes teve que ser requisitada para a vir fazer.”

Estava aí, se calhar, já o sinal de que a Rita herdaria a cozinha do Ribamar. Mas, modesta, diz que tudo o que aprendeu foi com o pai, e se nos últimos anos surgiram muitos pratos novos, a “imaginação e a criatividade” são de ambos — e, mais do que isso, são da forma como trabalham como dupla. Desde há cinco anos que Rita está mais em Sesimbra e Hélder à frente do segundo Ribamar, que abriu em Tróia. Mas o pai nunca se afasta muito daqui, apesar de Rita (que entretanto chamou a mãe para a ajudar na cozinha) confessar que tem saudades da altura em que ele estava a 100%. 

Ao mesmo tempo, e para sorte dos lisboetas que não vão habitualmente a Sesimbra, todos os anos o Ribamar está presente no festival Peixe em Lisboa, em Abril — e causa grande entusiasmo com os petiscos que ali apresenta, dos ouriços-do-mar, que nessa altura estão no seu melhor, aos caranguejos de casca-mole com molho de abacate e lima, passando pelas ovas de choco. É também a altura de mostrar a cozinha mais imaginativa e ousada do Ribamar — uma cozinha que, lamentam ambos, ainda passa ao lado de muitos clientes do restaurante. “Alguns desses pratos, se os pusermos na ementa, não vendem”, diz Rita. “A maioria das pessoas querem peixe grelhado, arroz de marisco, caldeirada e pouco mais.”

Fazem mal, dizemos nós, ainda com o almoço de aniversário na memória. Passar ao lado de uma anémona frita, de umas ovas de choco, de um salmonete com manteiga dos fígados, de um extraordinário preguinho de espada, de um robalo com creme de lagostins, ou de uma sopa rica, inspirada na bouillabaisse marselhesa? Deixamos um conselho: mesmo que estes (e outros) pratos não estejam na carta, podem sempre ligar à Rita e ao Hélder e pedir: “Preparam-nos aí alguma coisa especial? Não queremos escolher, ficamos nas vossas mãos”. E ficam muito bem. (Alexandra Prado Coelho)

Restaurante RibamarAv. dos Náufragos 29, 2970 Sesimbra. Telf: 21 223 4853. Horário: Todos os dias das 12h às 16h e das 19h às 23h


Matosinhos: Esplanada Marisqueira A Antiga
Qualidade e consistência há quase sete décadas

O difícil em Matosinhos é mesmo indicar uma só marisqueira, tamanha e tanta é a qualidade da oferta. Neste contexto de rara abundância faz todo o sentido que se nomeie a mais antiga, não só porque realmente o é, como ainda se tivéssemos que optar entre as de maior qualidade seria sempre de inclusão obrigatória. Outra das particularidades é o facto de dispor de agradável esplanada, espaço tão acolhedor como improvável no meio da compacta malha urbana da cidade portuária. 

E nem valerá a pena destacar gambas e lagostins, ou o arroz e açorda de mariscos ou lavagante, que a lista é exaustiva e a qualidade testada e comprovada ao longo de quase seis décadas. Uma consistência que tem seguramente como base o facto de dispor de viveiros próprios que são abastecidos diariamente com as mais variadas espécies.  

Prova disso também o facto de há quase uma década que todos os anos recebe a recomendação Bib Gourmand do famoso Guia Michelin, a mais prestigiada publicação do sector para todo o mundo.

Apesar de dispor, além da esplanada, de duas salas amplas e com grande capacidade, o ambiente é sóbrio e elegante e ao longo do tempo tem acolhido todo o tipo de clientela. Desde gente anónima às figuras públicas da política do espectáculo e do desporto. Diego Maradona e a actriz Sharon Stone estão entre as assinaturas mais mediáticas do livro de honra do restaurante.

Esplanada Marisqueira A Antiga.  Rua Roberto Ivens, 628. 4450-249 Matosinhos. 
Tel.: 229 380 660. Encerra à segunda-feira


Espinho: Aquário Marisqueira de Espinho
Casa Farta 
Se ser caro ou barato são conceitos carregados de subjectividade, diga-se desde já que este não é, de todo, um restaurante popular. Abastado na oferta e com a qualidade a alinhar pelo mesmo padrão, o Aquário Marisqueira de Espinho é igualmente frequentado por gente abastada que por ali se sacia com peixes e mariscos da melhor estirpe, sempre cozinhados ao estilo mais simples e tradicional. Para além dos camarões, lagostas, lavagantes e outros mariscos da praxe, a carta decompõe-se em múltiplos capítulos. Das entradas e saladas várias aos peixes e bacalhaus, mas também arrozes e carnes em múltiplas preparações. A fartura e qualidade são a tónica dominante.

A par da esplanada exterior, nem sempre convidativa devido às frequentes nortadas, o amplo espaço interior organiza-se em duas salas distintas, sempre com vista para o mar de ondas raivosas. 

Com garantia de frescura e qualidade imaculadas, os peixes e mariscos são preparados na grelha, no tacho ou no forno, sempre com rigorosa obediência à cozinha tradicional. Abastada é também a oferta de vinhos, com centenas de referências abrangendo todas as regiões, numa carta que se estende também aos Porto, champanhes, espumantes,whiskies, conhaques e aguardentes.

Aquário Marisqueira de Espinho. Rua 4, 540. 4500-343 Espinho. Tel.: 227 321 000. Aberto todos os dias


Âncora - Restaurante Camarão
Com o mar a bater na rocha
Apesar da referência óbvia, este é um daqueles casos em que o nome não revela tudo. É certo que o camarão, vivinho da costa, é uma das referências da casa, mas há também sempre outros mariscos e crustáceos. A variedade não é a mesma todos os dias e essa é a melhor garantia e a melhor qualidade da casa: é que peixes e mariscos, só frescos e da safra dos pescadores locais, e isso tem sempre muitas e variadas condicionantes.

Entre os crustáceos mais frequentes está, no entanto, o lavagante, um dos mais raros e apreciados. Tudo graças ao acordo com embarcações locais que, se por um lado garantem o fornecimento regular, têm também por outro assegurado um preço certo ao longo de todo o ano. 

A par da garantia da frescura e proveniência dos peixes e mariscos, outro dos atractivos deste restaurante tem a ver com a sua localização. Trata-se de um espaço de construção moderna, instalado sobre as rochas e o areal no âmbito do arranjo urbanístico da envolvente ao Forte do Cão e da praia com a mesma denominação, junto a Vila Praia de Âncora. A par da beleza natural do contexto em que se insere, o restaurante beneficia de uma esplanada e das amplas paredes envidraçadas que se abrem sobre o mar e os rochedos que enquadram o areal. 

Com esta localização, e a garantia do fornecimento pelas embarcações locais, é quase como se os peixes e mariscos passassem directamente do mar à mesa. Contexto sem pretensões e preços a condizer.

Restaurante Camarão. Av. Forte do Cão, 497. (Acesso pela EN 13, placa Forte do Cão). 4910-012 Âncora Gelfa. Tel.: 965 704 48


Lisboa - Cervejaria da Esquina 
Muito à frente

Mariscos frescos e variados, um bom prego e aprimorado copo de cerveja. Tem tudo o que seria de esperar de uma tradicional cervejaria lisboeta mas esta, numa esquina do privilegiado bairro de Campo de Ourique, tem também aquele plus que a distingue dos demais espaços da categoria. É que por aqui a cozinha, e apresentação, estão um pouco mais à frente e dão-nos conta do talento e genialidade de um cozinheiro de mão cheia.

E mesmo que Vítor Sobral se desdobre agora em deslocações intercontinentais — ganha a cozinha portuguesa com essa nova dimensão — a sua presença manifesta-se sempre em pormenores que colocam pratos e sabores bem típicos e tradicionais num patamar de outra dimensão. Veja-se o camarão que, além da simplicidade da cozedura habitual, nos pode cair na mesa também noutras versões mais sofisticadas e criativas: com alho e malagueta; tigre na chapa com avelãs e manjericão; numa fritura com molho de coentros; com caril, farofa e coentros (genial!); ou ainda na versão à Brás. 

A não perder o bife de atum. Um achado de Vítor Sobral cuja qualidade está na razão directa da sua admiração pelas carnes deste adorável bicho dos mares dos Açores. É único e vale mesmo a pena prová-lo. 

A par das sapateiras, amêijoas, berbigão, lingueirão, vieiras, ostras e afins, há também caprichosos cozinhados de tacho, conjugando mariscos e bacalhau de forma deveras singular. Ah!, e as cataplanas. A de bacalhau, amêijoa e batata doce justifica até a escolha de um dos bons brancos que a lista normalmente propõe. 

Cervejaria da Esquina. Rua Correia Teles, 56. 1350-102 Lisboa. Tel.: 213 874 644
Encerra aos domingos ao jantar e às segundas-feiras


Lisboa - Marisqueira do Lis
Viveiros próprios e mariscos de várias origens
Agora que já não se pode ir ao Ramiro — as portas estão fechadas e há sempre filas de turistas à espera para entrar — a opção é avançar uma centena de metros rua acima até nos depararmos com as vistosas montras de lavagantes, lagostas e sapateiras que ladeiam as portas, sempre abertas, da Marisqueira do Lis. Outra grande vantagem é o estacionamento privativo, ao qual se acede por uma rampa lateral que leva até às traseiras do edifício. Com viveiros próprios e uma oferta vasta de mariscos frescos e de várias origens sempre preparados com competência, bem se pode dizer que a principal diferença é que enquanto numa são os clientes que têm que estacionar à porta na outra sai-se do carro directamente para a sala do restaurante. 

De estilo popular e serviço despachado, a Marisqueira do Lis propõe também petiscos, saladas e por estes dias começa também a sentir-se o cheiro da sardinha assada. E, claro, não faltam também os pregos, que há quem garanta até que são os melhores de todas as cervejarias de Lisboa. Cada cabeça sua sentença, como é sabido. 

Uma boa opção é aconselhar-se sempre com os funcionários, que não hesitam nunca em sugerir os produtos que a cada dia se mostram mais aptos a satisfazer a clientela. É assim que se fazem amigos! 

O espaço é amplo e concorrido, com salas em dois níveis diferentes, destacando-se logo à entrada as duas enormes cubas (mil litros) de cerveja que pendem sobre o balcão e se esgotam com regularidade, como facilmente se percebe pelo rodopio de copos em constante borbulhar.

Marisqueira do Lis. Av. Almirante Reis, 27B. 1150-008 Lisboa. Tel.: 218 850 739. Encerra às terças-feiras

Lisboa - Nune’s Real Marisqueira
Ambiente moderno e escolha alargada

Oferta alargada de peixes e mariscos, com a vantagem de grande parte das espécies terem fornecedor e origem específicos, consoante a reputação da melhor qualidade. Não se pode dizer que a Nune’s seja uma marisqueira popular — desde logo não há o tradicional balcão e serviço a toda a hora, mas está também longe de ser um lugar sofisticado. O ambiente e contexto são de tendência moderna, mas descontraída e convivial. Remete para a memória das históricas cervejarias de Lisboa, mas a compostura das mesas, o critério da carta e a alargada e competente oferta de vinhos e o cuidado no serviço fazem do espaço um restaurante especialmente vocacionado para peixes e mariscos. Mas também há carnes.

Destacam-se, na lista, os mariscos frescos e as variedades de crustáceos, que em muitos casos podem ser escolhidos ainda vivos nos vistosos tanques transparentes que dominam o espaço central das duas salas. Oferta também alargada nos peixes frescos, que tanto podem ser cozinhados no calor do carvão como na frigideira, no tacho ou no forno. Sempre com grande rigor e competência. 

A par dos mariscos, e da forma cuidada e rigorosa como são preparados, realce também para as açordas e as várias declinações de arrozes: de garoupa, lagosta ou mariscos. E também um muito especial caril de lagosta e gambas. Os preços, está bom de ver, acompanham o nível e qualidade da oferta.

Nune’s Real Marisqueira, Rua Bartolomeu Dias, 120. 1400-031 Lisboa. Tel.: 213 019 899. Encerra à segunda-feira
 

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