As memórias não faltam e Sophia promete-nos que no dia seguinte, quando visitarmos a casa, nos contará mais histórias. Mas o jantar é sobre o presente e vamos, por agora, concentrar-nos nisso. Para a cozinha, Sophia trouxe dois jovens que tinham trabalhado juntos no restaurante do Aquapura Douro Valley, actual Six Senses: o chef Pedro Cardoso e, na sala, Pedro Esteves. A ideia é, mais para a frente no projecto, explorar algumas das receitas da avó Clara, mas, para já, a carta foi pensada por Pedro Cardoso, com a ajuda de Sophia e as contribuições de todos os que foram dando sugestões — com destaque, claro, para o trabalho de Jorge Moreira, o enólogo da Quinta de La Rosa, e responsável pela elaboração da carta de vinhos.
Para entrada, foi servida uma terrina de leitão com cogumelos e gomos de laranja e, a seguir, uma muito bem conseguida chamuça de sardinha com compota de pimentos vermelhos e mescla de alfaces. Veio depois um creme de couve-flor com salmonete braseado, amêndoa tostada e azeite de marisco.
Para prato de peixe, Pedro Cardoso apresentou corvina com batata, caldeirada e molho de peixe. Veio depois um limpa palato muito interessante, que, soubemos entretanto, vinha sendo amplamente testado na cozinha desde cedo: granizado de tomilho limão com vinho do Porto branco seco e uma gelatina de Tawny com 10 anos. O prato de carne foi um tornedó de vitela com milhos transmontanos, em puré e fritos, e molho de vinho do Porto.
A carta apresenta outras opções, como o arroz de tamboril e camarão aromatizado com coentros ou o polvo grelhado com migas de brócolos e molho de pimentos ou, nas carnes, cabrito assado com batata e grelos, e frango corado com cogumelos salteados e batata com ervas.
Há também a possibilidade de, entre as 15h e as 18h, aproveitar a varanda da Cozinha da Clara para, frente ao Douro, tomar um copo de vinho e petiscar. No capítulo dos petiscos, as propostas de Pedro Cardoso são, entre outras, asinhas de frango picantes, esferas de alheira recheadas com queijo da serra ou batata brava com molho de ervas.
A refeição terminou com uma torta de abóbora com pasta de queijo com lima e gelado de noz, acompanhada pelo tal vinho do Porto muito especial, o La Rosa Vintage 1960, que não foi oficialmente declarado porque na altura a quinta não tinha produção própria e vendia as suas uvas à Sandeman. Mas, naquele ano, Claire guardou uma parte do vinho e é com ele que agora brindamos ao sucesso do restaurante da Quinta de La Rosa.
O dia seguinte, depois de uma noite de violenta trovoada, amanhece com sol, como se nada tivesse acontecido, o que nos permite ir fazer o resto da visita, começando pela impressionante vinha baptizada como Vale do Inferno. Construída antes da I Guerra Mundial pelo bisavô de Sophia, Alfred Feuerheerd, é a vinha mais antiga da quinta e destaca-se pelos altos muros de pedra que separam os socalcos e que chegam a ter cinco metros de altura.
Visitamos depois Sophia em sua casa, a mesma casa onde Claire viveu e onde o pai de Sophia, Tim, passou grande parte da infância e juventude. Com a morte de Claire, em 1972, Tim assumiu a gestão da quinta, mas só em 1987 é que, já a trabalhar com os filhos, lançaram os primeiros vinhos do Porto com marca própria e depois, na década de 90, os primeiros vinhos de mesa, primeiro com David Baverstock como enólogo e hoje com Jorge Moreira