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Silver Spoon: made in Portugal, da olaria à sobremesa

Por Catarina Lamelas Moura

Os jantares Silver Spoon regressaram a Lisboa, desta vez sob o mote "made in Portugal", em plena época de Santos Populares.

O jantar começou com uma exibição de olaria, durante a recepção, e terminou com os convidados a fazer as suas próprias artes manuais, montando a sobremesa passo a passo. Foi o regresso dos Silver Spoon a Portugal, os jantares temáticos organizados duas vezes ao ano, cuja localização é anunciada aos participantes 24 horas antes do evento. 

Em plena época de santos populares, o antigo Santiago Alquimista recebeu a mais recente edição daqueles que são também designados também como guerrilha dinners, desta vez sob o mote made in Portugal. O jantar de seis momentos foi criado pela dupla de chefs Shay Olay – em Portugal há cerca de seis meses –, que integra os projectos The Rebel Dining Society e Death by Burrito, em Londres, e Rui Rebelo, do restaurante Oficina do Duque.

“O nosso pensamento foi que internacionalmente há tanto foco em Portugal e quisemos explicar este interesse”, conta Tiffany Ng, fundadora da Silver Spoon. A americana residente na Dinamarca acrescenta que quiseram olhar para o design em particular, já que “está finalmente a receber o reconhecimento que merece”. Assim, todos os pratos utilizados no jantar foram feitos manualmente, por criadores portugueses emergentes, e desenhados à medida para o evento.

Na entrada, enquanto se ouvia a guitarra portuguesa acústica – que mais tarde evoluiu para electrónica –, estava Nuno Batalha sentado numa mesa, com uma roda de oleiro à frente. Veio em representação da Olaria Norterto Batalha, fundada e apelidada pelo seu pai, que, depois de ter trabalhado vários anos em oficinas da zona de Mafra, decidiu criar a sua própria empresa. No grupo de marcas e artesãos participantes estavam ainda Malga, Laboratório de Estórias, Cortiço & Netos, Samuel Reis, Martinho Pita, Ana Fatia, Vicara Ghome e João Lima

Dos santos populares para a mesa

Os dois chefs conheceram-se pouco tempo antes do evento e, entre reuniões na Oficina do Duque para acertar os sabores, aventuraram-se numa noite de santos. O resultado: uma forte dor de cabeça no dia seguinte e um prato de sardinha com broa de milho, o terceiro da noite, que seguia o atum dos Açores sobre um puré de raízes. 
Não foi o único momento inspirado em experiências pessoais do chef português, que foi recentemente à caça de polvo – e, na altura conseguiu apanhar três, de 1,2 quilogramas. O polvo vinha então acompanhado por um puré de batata-doce. Finalmente, o último prato que servido à mesa foi um bacalhau fresco com salicórnia e uma espuma de Bulhão Pato.

Durante o jantar, João Líbano animou a sala com a sua “guitarra electrónica portuguesa” – uma guitarra portuguesa como todas as outras, mas ligada a um sistema de som. A forma invulgar com que o músico toca o tradicional instrumento – ora dedilhando as cordas, ora pegando num arco de contrabaixo – surgiu na banda da qual faz parte, OqueStrada. “Não nos podemos apropriar das coisas só porque são nossas”, comenta durante uma pausa. “O fado é o fado e a guitarra portuguesa é a guitarra portuguesa. Acredito que a guitarra portuguesa deve ser tratada como ela é. Em termos de sonoridade é um instrumento muito próprio.”

No final, a sobremesa (cortiça, vidro, ar) foi servida longe da mesa de jantar. Na sala onde tinha sido a recepção estavam dispersos três ingredientes e coube aos convidados juntá-los num copo: na primeira estação havia uma taça de cereais, entre outras duas de cortiça; depois um caramelizado, ao lado de um martelo, que servia para se partir aos bocados, e finalmente uma espuma, servida pelo próprio chef.

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