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Nesta cave de vinhos, o trabalho dos tanoeiros sai do esconderijo

Por Beatriz Silva Pinto

As Caves da Cockburn’s abrem as portas a visitas guiadas e trazem, aos olhos do público, uma arte em vias de extinção: a tanoaria.

Depois de meses fechadas ao público, as Caves da Cockburn’s, em Gaia, abriram portas com novo figurino. O investimento de mais de um milhão de euros chegou para montar um museu, duas salas de provas, garrafeira e uma loja. Mas a principal novidade é que a arte da tanoaria está também no centro das atenções: quem por aqui passar poderá ver os sete tanoeiros da casa em acção. Para que ninguém se esqueça da importância que têm na qualidade do vinho que transporta o nome do Porto — e de Portugal — para o mundo. 

A visita guiada, que dura 45 minutos, inicia-se assim que ultrapassamos a ampla e renovada recepção — o primeiro espaço que se levanta diante de nós é um pequeno museu. Um documentário e duas esculturas fazem menção à época em que o vinho era transportado pelos barcos rabelos, desde o Douro até Gaia, e uma cronologia e diversos documentos narram a história da marca com mais de 200 anos. Há um catálogo de fotografias enorme, que nos transporta até à Quinta dos Canais, no Douro Vinhateiro, uma das que fornece os vinhos da Cockburn’s.

Poucos passos depois, entramos nos armazéns de envelhecimento. Apesar da remodelação, o espaço manteve-se intocado. O chão, de terra batida, ajuda a manter a temperatura do armazém e, quando o calor cresce, continua a ser regado. Nestes armazéns estão mais de seis mil pipas de vinho do Porto em estágio e o equivalente a mais de 10 mil pipas em balseiros.

A paisagem impressiona: numa das naves do armazém, pipas de carvalho e tonéis empilhados e enormes balseiros dispõem-se ao longo de corredores que não parecem ter fim. Uma caminhada que só é interrompida pelo filme de seis minutos, narrado por Paul Symington e por Charles Symington, sobre o ofício dos tanoeiros e a importância dos cascos no envelhecimento do vinho. 
O vídeo antecede a realidade. Numa pequena abertura para a oficina dos tanoeiros, faz-se uma visita ao passado. A arte de desmantelar, aduela a aduela, as pipas para manutenção pouco ou nada mudou com o passar do tempo e a Cockburn’s é a última casa de vinho do Porto que mantém uma equipa residente de sete tanoeiros e deixa que as pessoas assistam ao ofício em vias de extinção, revela Ana Rodrigues, responsável pelo enoturismo da Symington.

Meta: 40 mil visitas anuais

Num piso abaixo, uma escura garrafeira de vinho do Porto vintage guarda 16 mil garrafas, de três séculos diferentes, que ali estão a envelhecer. A mais antiga é de 1868.

O fim da visita faz-se na sala de provas. Com 80 lugares sentados, os visitantes podem optar por uma prova de 12 ou 15 euros. A Sala John Smithes, no piso superior, fica reservada para aqueles que optam por provas entre os 25 e os 45 euros, que incluem Portos Vintage raros e Portos velhos envelhecidos em madeira. 

A loja é o último espaço por onde passamos, antes de chegarmos novamente à recepção. Lá estão vinhos do Porto da gama Cockburn’s e de outras marcas associadas à família Symington: Graham’s, Dow’s, Warre’s, entre outros.
Neste novo centro de visitas, a família Symington, proprietária da Cockburn’s, espera receber cerca de 40 mil pessoas por ano. “Temos recebido essencialmente turistas”, conta André, um dos guias da Cockburn’s. E, até agora, o espaço preencheu as expectativas de quem visita: “Já tivemos cá pessoas que estiveram cá antes da remodelação e gostaram das mudanças no espaço.”

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