Fugas - Viagens

Cinco ilhas, cinco mundos dentro dos Açores

Por Carlos Pessoa

Viajar pelos Açores em dias de chuva tem os seus riscos, mas está muito longe de ser uma missão impossível. Carlos Pessoa e Miguel Manso aventuraram-se pelos locais mais e menos conhecidos do Pico, Faial, Terceira, Graciosa e S. Miguel e regressaram rendidos à grandiosidade do arquipélago

Chove a bom chover quando o avião vindo de S. Miguel aterra no aeroporto do Pico num dos primeiros dias de Junho. A montanha encontra-se algures por ali, do lado oposto ao do mar, que se consegue vislumbrar para lá da chuva, e não se deixa ver assim com essa facilidade. Mas está lá, com os 2351 metros que vêm assinalados nos mapas. Fica para mais tarde, bastante mais tarde!, vê-la em todo o seu esplendor, caprichosamente negado ao visitante com a mesma veemência com que é escondido aos residentes.

Há um percalço com parte da bagagem, estranhamente deixada para trás, logo na Portela, e que só será entregue no dia seguinte, quando estamos prestes a atravessar o canal em direcção à Horta. O avião tinha chegado com atraso e o tempo começa a ficar apertado para cumprir todo o programa da viagem. Prolongar a presença no aeroporto com questionários intermináveis e o preenchimento arrastado de formulários de bagagem perdida é a última coisa que apetece a metade dos passageiros...

Uma mala extraviada é uma mala extraviada em qualquer parte do mundo, uma contrariedade com inevitáveis implicações na rotina imediata do viajante. O mesmo se pode dizer de um voo cancelado pelo mau tempo, que nos deixou imobilizados nas Lajes quando devíamos ter seguido até ao Faial e deu cabo de metade da viagem. Nos Açores, porém, estes acidentes de percurso ajudam a perceber mais depressa um aspecto singular da realidade local. Aqui, é preciso muito tempo para tudo - as esperas nos restaurantes são longas, as estradas estreitas e sinuosas impõem deslocações lentas, a prestação dos serviços é morosa e com qualidade insuficiente, o tempo é caprichoso -, mas não se vê ninguém protestar ou impacientar-se. É como se as distâncias curtas dentro da geografia insular promovessem um enigmático (mas nada problemático) alongamento do tempo permitindo que, ao fim e ao cabo, tudo se faça sempre, sem correrias nem pressão.

Pico, o colosso
Saio e dou logo com o Pico, que é eterno. Encontro-o sempre: ao voltar duma esquina, ao sair de casa, ao saltar da cama. Absorvo-me na extraordinária paisagem mineral(Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas)

Foi com uma sábia e persistente utilização de todo o tempo do mundo que a intervenção humana na paisagem do Pico levou ao que hoje se pode ver. O ciclo do vinho "respira" por toda a parte. Fernando Oliveira, director do Parque Natural da Ilha do Pico, conduz-nos até ao Lajido da Criação Velha, na Paisagem da Cultura da Vinha, uma área classificada como património mundial encostada à vila da Madalena. São muros de pedra negra a perder de vista, organizados de forma a protegerem as videiras do ar marinho e proporcionarem a melhor entrada dos raios solares. Currais, canadas, abrigos, traveses e jarões são os termos que legendam uma paisagem belíssima - dão nexo a uma cultura centenária inscrita no basalto e sentido à acção humana para extrair de um solo de rocha os recursos que tornam a vida possível num ambiente tão adverso.

Há outros sinais desse labor. As relheiras (sulcos de rodas) marcam no basalto a passagem imemorial dos carros de bois sobre lajes de lava com os produtos agrícolas. As rola-pipas, rampas talhadas na pedra para facilitar o transporte das pipas de vinho até ao mar, encontram-se espalhadas pela costa. A uns 20 quilómetros de Madalena, na costa norte da ilha, Lajido de Santa Luzia exibe o seu singular património em torno da produção de vinho - adegas, armazéns, poços de maré, casas solarengas, ermidas...

O espaço natural, imagem de marca dos Açores, atinge no Pico o seu apogeu. A montanha tutela tudo, claro, com uma escala de tempo que é impossível de apreender pelo limitado arco temporal humano. Iniciando a subida a partir de S. Roque do Pico, não demoramos muito a alcançar o planalto central, que ladeia a Ponta do Pico (só agora, quando o dia caminha para o ocaso, começa finalmente a dissipar-se a massa de nuvens brancas) no sentido leste-oeste. Lá de cima, as restantes ilhas do grupo central parecem mais próximas, quase ao alcance da mão, acentuando uma sensação paradoxal que é ao mesmo tempo de proximidade e isolamento. Sob sol luminoso e frio e vento cortante, a estrada espreguiça-se por um espaço esmagador que, exceptuando a presença de algum gado que começou a ser deslocado para as pastagens de Verão, parece tão intocado como no acto da criação. É o território de eleição de um turismo de natureza ímpar.

Na descida, o impulso pode levar o visitante até ao interior da terra: a Gruta das Torres, um tubo lávico com mais de cinco quilómetros de comprimento - o maior que se conhece nos Açores - tem entrada nas proximidades de Criação Velha, uma aldeia do concelho da Madalena. Existe no local um Centro de Visitantes que enquadra visitas guiadas durante todo o ano. O geólogo Paulino Costa, responsável pelas áreas protegidas da região, conduz-nos através dos troços que podem ser percorridos em segurança. É um espectáculo deslumbrante de estalactites, estalagmites, paredes estriadas e lavas encordoadas que transformam a descida numa experiência inesquecível. Mas sabe bem voltar a ver a luz do dia...


Faial, a memória
Já vejo a Horta ao fundo da baía limitada por dois morros, o Monte Queimado numa extremidade e na outra o Monte da Espalamaca. É uma cidade de uma só rua, como eles dizem, a branco e cinzento. (Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas)

A travessia do canal é como a transição da noite para o dia. Deixam-se para trás os sinais de um viver rural - os mais directos falarão de vida de província -, pontuado por ritmos e ciclos que parecem impostos pela grande montanha negra tutelar. O visitante que aspira a perder-se na contemplação da natureza ou a vivenciar a experiência do silêncio deve entregar-se à fruição incondicional do Pico. Mas se o desejo é outro, então o melhor é entrar no barco e partir.

Meia hora depois, o casario da Horta tornou-se mais definido, distribuído entre o Monte da Guia e a Ponta da Espalamaca que parecem estabelecer os limites físicos do crescimento urbano. Respira-se aqui cosmopolitismo, talhado por uma localização geográfica estratégica, a meio caminho entre a Europa e a América, e também pela longa história de presenças estrangeiras de que, possivelmente, não há memória em qualquer das outras ilhas. Tudo convida silenciosamente a perder-se no dédalo urbano da cidade, onde são muitos os vestígios dessa passagem antiga.

Ninguém escapa ao poder de atracção do Peter Café Sport (o Peter, mundialmente conhecido), mesmo em frente ao cais. Por ali passam, ao longo dos dias e durante todo o ano, residentes e visitantes, contribuindo para lhe emprestar um colorido que emparelha com as cores vivas da decoração. Sandra Dart, a nossa guia, apresenta José Henrique Azevedo, neto do fundador da casa (Dezembro de 1918). Este conta que o actual nome do café só surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, quando um oficial inglês de passagem pelo Faial conheceu o pai de Henrique Azevedo e passou a chamar-lhe Peter "por lhe lembrar o filho".

Por cima do café existe um museu privado (Museu de Scrimshaw) com centenas de dentes de cachalote com baixos-relevos representando cenas de caça, uma actividade com grande tradição do Pico e Faial até aos anos 1970. "O meu pai começou a guardar este espólio porque percebeu que um dia tudo isto acabaria e era necessário conservar essa memória", diz José Azevedo.

Na ponta oeste está situado um dos maiores motivos de interesse da ilha. Foi ali que ocorreu a erupção dos Capelinhos em 1957-58 e é ali que existe desde o ano passado o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos.

Olhando para a aridez majestosa do lugar, submetido a uma erosão acentuada que lhe tem reduzido o volume, custa a crer que existiram nesta área cerca de 300 casas e dois milhares de pessoas. O impacto dos Capelinhos foi tão forte que levou à emigração de milhares de habitantes para o continente americano. A ilha tem hoje cerca de 15 mil habitantes, metade dos que havia antes da erupção.

O Centro é uma estrutura inteligentemente concebida, com diferentes áreas de exposição temporárias e interpretativas muito informativas, auditório, loja e bar, permitindo o acesso ao farol originário (157 degraus até ao topo, para subir devagar), de onde é possível ver a paisagem vulcânica. Está soterrado para não causar impactos negativos na área.

No regresso à Horta, o visitante não deixará escapar uma passagem pela Caldeira, no centro da ilha. Um túnel permite o acesso ao miradouro interno, de onde se pode apreciar a paleta de cores da vegetação nas vertentes inclinadas. É um dos santuários da floresta de laurissilva que revestia a ilha antes da chegada dos primeiros povoadores.


Terceira, o património
O navio fundeia na Terceira, num vasto semicírculo, fechado ao norte pelo monte Brasil e do outro lado pela ilha das Cabras (...). Demoro-me a olhar a cidade. (Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas)

Pode ser injusto para as restantes ilhas, mas os impérios da Terceira têm uma presença na paisagem e uma tipologia tão exuberantes que se destacam de todos os outros aos olhos do viajante.

Estes pequenos edifícios dedicados ao antigo culto popular do Divino Espírito Santo caracterizam-se nesta ilha por uma clara uniformidade estrutural. Será por isso que é impossível não reparar neles quando se atravessa as povoações ou surpreendem à saída de uma curva da estrada? Estão silenciosos e vazios todo o ano, mas no começo da Primavera são submetidos a um processo de revitalização (limpeza e pintura), lembrando que as Festas Sanjoaninas (de Maio a Setembro) estão a chegar. Isso mesmo nos lembra no princípio de Maio Rui Costa, o nosso guia na Terceira. Como muitos outros habitantes, também ele pertence a uma das 72 irmandades existentes na ilha.

Este tipo de arquitectura popular não é o único sinal distintivo da principal ilha do grupo central dos Açores. Bem no interior da terra fica um dos mais belos monumentos naturais da região - o Algar do Carvão. A primeira descida a esta imponente estrutura vulcânica foi feita em 1893, mas as visitas organizadas só começaram em 1963. A abertura ao público com as características que tem hoje realizou-se em Dezembro de 1968. Sucessivos melhoramentos tornaram a visita mais agradável e funcional.

A chaminé vertical com 45 metros de desnível termina numa lagoa de águas límpidas, situada a cerca de 80 metros de profundidade relativamente à boca do algar. Estudos posteriores confirmaram o alto valor espeleológico do lugar. O povoamento vegetal do cone, cratera e parte considerável da conduta vulcânica é composto por mais de oito dezenas de espécies vegetais diferentes. As estalactites e estalagmites de sílica amorfa estão entre as mais raras, e também mais bonitas, que foram identificadas nos Açores.

Tudo o que ficou dito passa para segundo plano quando o visitante comum percorre o algar. A sensação de grandiosidade é esmagadora e mesmo intimidante quando se está frente-a-frente com a demonstração de capacidade das forças naturais para conformarem espaços como este.

Depois da visita ao Algar do Carvão, apetece andar a céu aberto e respirar a vastidão do espaço. O caminho pode bem levar até à costa norte, onde se situa a praia dos Biscoitos, zona de lazer privilegiada pelos habitantes de Angra do Heroísmo. Plataformas de cimento, com uma área um pouco exagerada, rodeiam as ásperas rochas basálticas e proporcionam um bom espaço de praia. No Verão, ninguém resiste a um mergulho nas águas límpidas.

O regresso à cidade faz-se contornando toda a costa noroeste. Na Ponta do Raminho existe um dos inúmeros miradouros da ilha. A vista não desilude, mas a atenção será rapidamente atraída pelo pequeno bosque que tem de ser atravessado para lá chegar. As árvores, faias do norte da Europa, rangem como mastros de navio, agitadas pelo vento moderado que passa. Têm uma invulgar cor dourada, provocada por fungos que surgem na Primavera, explica Rui Costa.

À enorme destruição provocada pelo terramoto de 1980, seguiu-se o esforço de reconstrução de Angra, que é património cultural da humanidade. A qualidade e originalidade do traçado urbano, agora vivificado, faz da cidade um ex-libris da Terceira e torna obrigatória uma visita com tempo.


Graciosa, a luz
Na luz matutina e fria das quatro horas tenho diante de mim um espectáculo único (...) Graciosa dum verde muito tenro acabando dum lado e do outro em penhascos decorativos (Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas)

É uma bênção aterrar na Graciosa bem cedo, numa manhã clara e límpida de Maio. O melhor dos Açores dá-se deste modo a conhecer depois de um dia desgraçado em S. Miguel, cinzento e chuvoso até à exasperação. Mas o arquipélago é assim mesmo, acolhedor depois de ter sido arisco, por vezes coincidindo os dois estados no mesmo ciclo diário e na mesma ilha, e é bom que isto nunca seja esquecido...

Vista do ar, a ilha parece uma singela marca escura na superfície azul do oceano, onde hoje vivem pouco mais de quatro mil habitantes. Encanta pela terna dimensão humana que tudo aqui tem, sem construções desproporcionadas, circulação rodoviária ruidosa ou fontes de poluição irreparável. Dizem-nos que é a ilha mais clara do arquipélago, quase sem nevoeiros, muitos dias de sol e pouca chuva, ao ponto de a escassez de água ser por vezes um sério problema. A pureza do ar sente-se em cada inspiração e o tempo quase parece suspender o seu voo enquanto o olhar sobrevoa a paisagem a partir do alto da Nossa Senhora da Ajuda, sobranceiro à vila de Santa Cruz da Graciosa.

Lizete Albuquerque, filha de emigrantes no Canadá que veio para a ilha com um mês de idade, acompanha-nos na viagem pela Graciosa e não se cansa de lhe enaltecer as qualidades e virtudes. Em qualquer outro lugar, tudo o que diz soaria a argumentário para uso de turistas apressados, mas basta percorrer a ilha e ver com olhos de ver para confirmar que não há exagero nas considerações. A Graciosa, segunda ilha mais pequena do arquipélago, é um santuário onde quem estiver cansado do viver urbano pode encontrar um porto de abrigo seguro. Quando o silêncio e o sossego começarem a tornar-se insuportáveis, há sempre a possibilidade de apanhar o avião e ir embora.

O que nos trouxe até à Graciosa foi a Furna do Enxofre. Fica no sul da ilha, dentro de uma Caldeira a que se acede através de um túnel com uma centena de metros de comprimento. No interior, o viajante depara-se com uma vegetação exuberante que quase deita por terra a imagem de ilha dos Açores com clima mais "continental".

A exploração da caldeira, que dará a conhecer algumas agradáveis surpresas, pode ficar para mais tarde, pois estamos a chegar à Furna. Passando pelo Centro de Visitantes, o acesso faz-se através de uma torre construída para o efeito no início do século passado. Tem 37 metros de altura e uma escadaria em caracol com 183 degraus. Vale a pena o sacrifício para ver uma caverna lávica fantástica - considerada pelos especialistas única no panorama vulcano-espeleológico internacional - com quase 200 metros de comprimento e uma altura máxima de 40 metros na sua parte central. Além de um lago de água fria, tem uma fumarola com lama que liberta emanações de dióxido de carbono. O local, de grande beleza natural, está devidamente monitorizado para impedir que os gases libertados ameacem os visitantes.

Seria muito injusto reduzir a Graciosa ao seu monumento mais emblemático. Uma viagem sem pressas pela ilha, integrada na rede mundial de reservas da biosfera da Unesco desde 2007, levará à descoberta de outros locais poderosos, como o Lugar do Carapacho e as suas termas, a zona da Caldeirinha ou os ilhéus que rodeiam a ilha. Depois, muna-se de um guia costeiro da ilha e parta à descoberta da enorme variedade de habitats - tem programa para dias.

S. Miguel, a cor
Há nesta ilha duas coisas maravilhosas: as Furnas e as Sete Cidades. Quase tenho medo de falar duma paisagem que hoje mais do que nunca me parece irreal... (Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas)

Por mais que isso custe a aceitar pelas restantes ilhas, S. Miguel é a porta de entrada grande no arquipélago, a maior da região e também aquela que concentra a maior parte da população, da economia e da cultura. É uma apreciação puramente subjectiva, mas pode acrescentar-se ainda que é também uma ilha muito bela e onde dá prazer estar. É um pouco dessa magia que Eduardo Elias da Silva, o nosso guia em S. Miguel, se encarrega de revelar com conhecimento, afabilidade e humor.

Os ícones turísticos são incontornáveis, deslumbrantes e únicos de cada vez que se lá vai - Lagoa das Sete Cidades, Lagoa das Furnas, Lagoa do Fogo. (Se o topo desta última, visível de Ponta Delgada, estiver oculto pelas nuvens, não vale a pena a deslocação...) Outras, menos mediáticas, não perdem nada no confronto directo - Congro, Canário ou Santiago, por exemplo.

Um dos mais fantásticos jardins botânicos de Portugal está nesta ilha e chama-se Parque Terra Nostra (Furnas). Foi fundado há mais de dois séculos e tem flora única. É imperdoável não aproveitar a visita para um banho na piscina de água quente ferruginosa do parque - use um fato de banho velho, pois o mais certo é ficar irremediavelmente tingido de castanho.

A construção de uma nova estrada até ao Nordeste complica muito a exploração da costa norte a partir da Ribeira Grande. Não desanime e use os acessos da costa sul seguindo, a partir de Ponta Delgada, por Lagoa, Vila Franca do Campo, Furnas, Povoação, Nossa Senhora dos Remédios e Nordeste. Uma advertência: a estrada é estreita, alcantilada e sinuosa, exigindo as maiores cautelas.

Os sinais do povoamento vão-se tornando mais esparsos e a natureza impõe a sua presença. Páre no Miradouro da Ponta do Sossego, primorosamente tratado, poucos quilómetros antes de chegar à vila de Nordeste. A paisagem é de sonho. No regresso, opte pela estrada florestal, em terra batida mas em muito bom estado, que atravessa a serra da Tronqueira e corta distância para Nossa Senhora dos Remédios. Páre para desenferrujar as pernas no miradouro da Tronqueira, onde dispõe de uma vista assombrosa sobre o Pico da Vara e a infindável massa florestal de criptomérias. Quando chegar a Ponta Delgada, quase 90 quilómetros e duas horas depois, ficará com uma pequena ideia de como pode ser distante o que parece tão próximo.

E depois, há as muitas praias da ilha. Sugestão primeira, por invulgar: um mergulho na água oceânica quente (sim, quente!) da Ferraria, na costa oeste da ilha, perto de Ginetes. Na costa sul, encostadas a Ponta Delgada, as praias do Pópulo são um valor seguro. Mas um pouco de audácia pode levar o viajante, com evidente proveito, até à praia da Amora, no final de Ponta Garça.

Atravessar S. Miguel no sentido sul-norte é uma revelação de contrastes. À relativa amenidade da costa sul, em geral menos agreste, contrapõe-se a insistência do vento, a costa escarpada e uma menor densidade humana a norte. Há por aí boas praias à espera de serem descobertas - a da Viola, por exemplo, antes de chegar à Lomba da Maia.

O traçado urbano não deve ser desprezado. Ponta Delgada é uma cidade agradável que acolhe em si monumentos e museus merecedores de descoberta. Há ainda o jardim António Borges para passear, a marina para conviver, o mercado para comprar queijos, ananás e bolos lêvedos. Na Marginal fica a Livraria Solmar, onde pode manter dois dedos de conversa com José Carlos Frias. É o melhor livreiro dos Açores.

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