E se à saída da estação de metro de Akihabara desse de caras com um grupo de esbeltas raparigas vestidas de criadas tradicionais europeias? Como descodificaria a mini-saia preta, o avental branco de rendas em forma de semi-lua, a blusa preta de mangas em balão e a bandolete de renda branca? Fique a saber que se trata de raparigas vestidas como um dos tipos de personagem de banda desenhada japonesa (manga). Estão a distribuir panfletos tentando convencer clientes, por norma homens, até a um dos muitos cafés mais próximos onde a atracção é poderem ser servidos por uma destas criadinhas de servir; também existe a versão cabeleireiro.
A meca de todos as parafernálias electrónicas em Tóquio fica em Akihabara (também conhecida como cidade electrónica) e aqui se junta o mundo a perder de vista do material tecnológico made in Japan ao universo omnipresente do manga e dos anime (desenhos animados nipónicos). No mesmo edifício pode encontrar electrodomésticos no rés-do-chão e na cave banda desenhada para adultos. O local é considerado a sede da cultura otaku, que se traduz por uma fixação pelo universo manga.
Quem não quer comprar mas apenas ler ou ver manga aqui encontra os chamados ‘manga cafés'. Trata-se de locais que casaram o acesso à Internet com um local para recatadamente folhear manga. Muitos não se vêem à vista desarmada, é preciso procurá-los, são sítios discretos para um prazer que se usufrui em sossego.
À entrada de um destes cafés, sítio encafuado pejado de estantes de aspecto barato onde se acumulam centenas de volumes, pedem-lhe a identificação, diz quanto tempo quer fica, pode comprar um balde de massa chinesa instantânea e instalar-se em cadeiras reclináveis juntas ao chão, separado dos seus vizinhos por divisórias. Os olhares oscilam entre o computador e as páginas do livro na mão, ao lado estão empilhados um molho de três ou quatro livros, os auscultadores estão nos ouvidos, reina o silêncio.
A publicidade japonesa também tornou o mundo dos desenhos animados omnipresente nos anúncios que coloram a metrópole, por mais que os seus destinatários sejam adultos e o assunto de que se fala seja de seriedade. Mesmo tratando-se de um anúncio a um banco podem serem usados desenhos animados, como um super-yen com uma capa e um capacete; a melhor solução financeira pode ter como ilustração de público-alvo uma família de ursos.
Um mundo que parece infantilizado pode também encontrá-lo percorrendo a larga avenida Omote-Sando, preenchida de elegantes lojas e cafés. Aqui tanto se pode cruzar com mulheres que se vestem de soquetes pelo joelho e sapatos vermelhos de salto alto, cultivando um ar de eternas Lolitas, outras que se cobrem e abrigam do Sol e do indesejável bronzeado com sombrinhas de pano, adolescentes de ganchos coloridos no cabelo e hordas de crianças de escola que vestem uniforme estilo inglês de estampado às riscas; no meio desta multidão surge a ocasional mulher de meia-idade vestindo kimono.
No mundo do faz-de-conta da cidade, Tóquio quis fazer uma praia, onde se pode chegar através de um futurístico mono-rail sem condutor. Na baía de Odaiba foi criado um areal com vista para os arranha-céus acabados, ou em vias disso. Ali perto há parques de diversões para todos os gostos, a praia artificial é apenas mais uma oportunidade de lazer. Dali se percebe que a cidade continua a espraiar-se. Vê-se que é local de gente abonada, tanto que pode encontrar no passeio à beira da praia um casal de ar embevecido a passear o seu canino num carrinho de bebé próprio para cães. Ali mesmo ao pé pode abastecer-se numa loja onde se vendem toilletes duplas, uma delas inclui t-shirts com dizeres a brilhantes, para pôr os donos a condizerem com os cães.