Fugas - Viagens

Manuel Roberto

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Parque Biológico de Gaia - Um pouco de campo para as crianças

A revista International Zoo News considerou o Parque Biológico de Gaia "provavelmente o melhor zoo de Portugal". Mas o Parque Biológico não é um jardim zoológico, como também não é uma reserva natural, nem um jardim botânico, nem um eco-museu, nem um parque urbano, avisam os responsáveis mas essa não deixa de ser uma "referência muito interessante", considera Nuno Oliveira, director do parque, "por vir de especialistas em jardins zoológicos. Embora não nos consideremos um jardim zoológico, se os especialistas acham que somos é bom". É, talvez, um pouco de tudo isso e é, de certeza, o primeiro centro permanente de Educação Ambiental do país (foi criado em 1983): em 35 hectares de zona agro-florestal, convivem centenas de espécies de animais (quase todos de fauna portuguesa e nenhum retirado do estado selvagem) e plantas, devidamente enquadradas na paisagem natural e cultural da região.

Percorrem-se florestas e matagais, avistam-se campos cultivados e hortas, passeia-se por quintas e entra-se numa grande casa rural (em ruínas, abriga animais nocturnos), vêem-se açudes e noras, atravessa-se o rio (uma e outra vez) por pontes de madeira e de pedra, descansa-se à beira de lagos. Cavalos, porcos, gansos, galinhas; ervilha de quebrar, trigo, centeio, sorgo; garça-real, perna-longa, bisonte, javali, tartaruga-da-florida, gamos, texugo, pirilampos; carvalho-alvarinho, esponjeira-do-japão , lúcia-lima, zimbro-galego sucedem-se animais domésticos e plantas agrícolas; animais selvagens e flora espontânea. Revelam-se usos e costumes, nas alfaias agrícolas ou no mobiliário da cozinha ou do quarto de um moinho de há cem anos.

É verdade que tudo tem um enquadramento didáctico e que o percurso é todo pavimentado e sinalizado, mas há alturas em que o cheiro é de tal forma forte, há locais em que o silêncio se sobrepõe com tamanha convicção ao murmúrio das vozes barrando o barulho exterior, que é quase possível fingir Gaia não está a passar aqui ao lado.

Mesmo sem ilusões e mesmo chamando a atenção para a transformação da paisagem e para o contraste com a envolvente urbana facilmente se entende o Parque Biológico como um refúgio da memória. "Vivo em Gaia há 30 anos e o parque é o meu escape desde que abriu", confessa Ermelinda Santos, 70 anos, membro da Associação Amigos do Parque desde que este abriu (paga uma anuidade de 15 euros) porque era o único sítio onde se sentia próxima da natureza e do ar puro (cresceu nas planícies alentejanas à porta de Portalegre). Agora os netos, já nascidos e criados na cidade, são visita regular ao domingo a família almoça no parque, o que é bom, diz, "para que aprendam que o leite não vem do supermercado".

As sugestões do director
Nuno Oliveira

É difícil conseguir que o director do Parque Biológico de Gaia, Nuno Oliveira, destaque algum aspecto do parque que dirige. Prefere salientar o conjunto, que é o que o torna único, na sua opinião. "O que o Parque Biológico tem de diferente é a possibilidade de, num mesmo espaço, observar a fauna selvagem, que é abundante, a colecção em cativeiro, a flora e o património rural recuperado", afirma e isto quer dizer tudo, no que toca ao Parque Biológico de Gaia. Mas como são 35 hectares e as distracções são muitas, Nuno Oliveira recomenda especial atenção: à excepcional abundância de aves selvagens, particularmente pássaros, que podem ser observados por todo o lado e, em particular, junto aos comedouros disponíveis; ao rio Febros, agora despoluído, e à sua floresta marginal de amieiros e choupos, que faz dele um dos rios mais bem conservado da região do Porto; ao grande cercado dos corços, pequeno cervídeo português de dificílima observação na natureza e que no parque pode ser facilmente visto; ao moinho, recuperado e a funcionar, memória do passado desta região; ao bisonte-europeu, símbolo da conservação da natureza na Europa, que esteve extinto na natureza e está hoje recuperado; às lontras que estavam a ser criadas para repovoar o rio Febros mas que voltaram naturalmente a este rio, após a despoluição.

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