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Noruega - Na terra do Sol da meia-noite

Por Maria João Lopes

Tire um livro encantado da estante, um daqueles contos de fadas à moda antiga, e mergulhe para dentro dessas páginas. Tem vales verdejantes na Primavera? Neve no cume das montanhas mesmo no Verão? Riachos tranquilos e cristalinos? Então está na Noruega.

Afinal, aquelas casas coloridas que pontuam as montanhas verdes na Primavera existem mesmo. As cascatas, os rios, os relvados imaculados. As pequenas aldeias de cores garridas que polvilham os montes, brancos no topo. Afinal não era tudo fruto da nossa imaginação quando éramos crianças. Não são só cenários criados pelos ilustradores de livros infantis.

Na Noruega, são pura realidade. Vamos vendo quadro após quadro através da janela do comboio. Há exclamações de espanto cada vez que as carruagens saem de um túnel escuro e serpenteiam velozes por entre a natureza daquele país da Escandinávia.

Estamos numa das mais populares viagens de comboio da Noruega, a linha-férrea entre Myrdal e Flåm, que se chama Flåmsbanen. A viagem dura cerca de uma hora, com algumas paragens para que os turistas possam fotografar a natureza que existe neste canto tão a norte do mundo: as montanhas, as quedas de água que, mesmo sendo violentas, nos transmitem uma estranha sensação de serenidade. Como se há muito tempo não estivéssemos numa comunhão tão profunda com o que nos circunda.

Ao longo de cerca de 20 quilómetros, não se houve dentro comboio senão "ahhh" quando o comboio rasga o túnel. Esta linha, inaugurada em 1942, atravessa 20 túneis (18 dos quais escavados manualmente) e inclui nove paragens. Construí-la foi um dos maiores trabalhos da história da engenharia norueguesa. Os trabalhos começaram em 1923 e duraram cerca de 20 anos. O objectivo da obra foi o de assegurar o transporte no Sognefjord. Em 1940 começou a funcionar com locomotivas a vapor e, em 1944, com locomotivas eléctricas.

A viagem começa em Myrdal e termina em Flåm, junto à costa. Entre um ponto e outro há 864 metros de altura de diferença. O passeio atrai gente de todo o mundo. Dentro do comboio, as línguas misturam-se, máquinas fotográficas de todas as nacionalidades confundem-se à procura do melhor ângulo para mostrar, mais tarde, que aqueles rios e vales não foram miragens.

Noites brancas

O norte da Noruega é também conhecido como "terra do Sol da meianoite". São as noites brancas do país escandinavo, como eram brancas as noite que Dostoiésvsky escreveu sobre São Petersburgo. Nestas noites, há sempre luz, uma claridade que convida as pessoas a não dormirem. Como de noite ainda é dia, toda a gente fica acordada até mais tarde uma forma de os noruegueses se vingarem dos Invernos escuros e rigorosos. Nesta altura do ano, no Verão, a lua hiberna; os habitantes da Noruega adoram esta época, na qual o Sol se mantém acima da linha do horizonte durante 24 horas.

A paisagem na Noruega é, também por isso, muito diferente consoante a estação. No Inverno, verá neve e escuridão. Nos meses da Primavera e Verão, a pintura é outra. Embora sempre com neve no topo das montanhas, o céu é muito azul e, cá em baixo, tudo é verdejante. Para nós, latinos, a Noruega é quase exótica, irreal, intangível.

O comboio chegou ao destino: Flåm, uma pequena cidade, a cerca de duas horas e meia de Bergen (a segunda maior cidade da Noruega, a seguir à capital, Oslo). Em Flåm, vivem apenas 400 pessoas. É aqui que se apanham os vários "ferries" que partem para mais uma viagem encantada pelos fiordes da Noruega. Há mais gente dentro dos barcos do que em Flåm. Subamos a bordo. O passeio pelo Sognefjorden vai começar.

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