Fugas - Viagens

"Como Eu Vi Todos os Países do Mundo (Menos Um)"

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Conhecer o mundo com José Megre ao volante

É verdade que nem sempre o bom contador de histórias emerge nesta necessidade, quase enciclopédica, de fazer um resumo de cada um dos países visitados. As primeiras impressões são mesmo descoroçoantes, porque o autor alinhou os continentes pela ordem em que foram concluídos e à cabeça aparece a Europa. É um continente rico e cheio de contrastes, mas onde já muito pouco cabe na noção de aventura. Torna-se, por isso, fastidioso ler as curtas notas dedicadas à maioria dos países europeus, sem pormenores, sem novidade.

Mas as coisas mudam logo a seguir. Até graficamente: depois de mais uma sucessão de entradas relativamente curtas sobre uma série de países de África (o segundo continente a ficar "completo"), o fundo das páginas muda de branco para preto. O título não engana ninguém: As Grandes Viagens em África. E é nestas páginas de fundo negro que iremos encontrar, ao longo do livro, os grandes relatos de aventura neste e noutros continentes, as odisseias por pistas impossíveis e fronteiras corruptas, o contacto próximo com locais e pessoas cheios de histórias para contar.

Viajar pelos sete continentes é, também, contactar de perto com a incrível herança histórica dos portugueses. Monumentos, nomes, hábitos. A marca de Portugal no mundo continua por aí, à espera de quem a queira encontrar. Foi o que fez José Megre, um português cuja filosofia de vida esteve bem à altura dos seus antepassados da era dos Descobrimentos.

Coleccionador inveterado

Megre não coleccionava carimbos no passaporte, mas, caramba, coleccionava quase tudo o resto! Seguindo os seus relatos, podemos vê-lo a comprar miniaturas de veleiros na Maurícia - "Fiquei de tal maneira 'vidrado' que comprei nada mais nada menos que 18 modelos de barcos diferentes, que mandei para Portugal de avião". Chegaram bem, mas... "As embalagens eram de tal forma grandes que tiveram de ser desmontadas na rua, pois não cabiam na porta do prédio!"

Já tínhamos sido avisados na página 29, quando o autor confessa, em Moscovo, a propósito das matrioscas e dos jogos de xadrez satírico-políticos, que há "um sem-número de curiosidades" que tem "a mania de juntar"... Por isso não surpreende que tenha "enchido uma mala com vários modelos" de automóveis, feitos a partir de latas de refrigerantes por hábeis mãos de Madagáscar.

Na Etiópia, foram banquinhos de madeira do povo Banna. Na Indonésia, "umas gaiolas lindas" num mercado de Jacarta e "uma série" de miniaturas de templos em Bali. E lá teve de comprar mais duas malas... No Afeganistão, alargou a colecção de jogos de xadrez com dois exemplares em lápis-lazúli.

Só por uma vez o instinto do coleccionador não levou a melhor. Chocado com o facto de se venderem chapas de identificação de soldados americanos (um dólar) e condecorações vietcongue (dois dólares) dos tempos da guerra do Vietname, Megre não alimentou o mercado ambulante das ruas de Ho Chi Minh City. Mas, já que falamos de recordações de guerra, anote-se que só mesmo a resistência do proprietário impediu o português de trazer para Portugal um tanque japonês. Foi na Micronésia.

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