Fugas - Viagens

"Como Eu Vi Todos os Países do Mundo (Menos Um)"

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Conhecer o mundo com José Megre ao volante

Com tudo isto e mais as pequenas coisas que se trazem de qualquer viagem (como as primeiras notas da Eritreia, acabadinhas de imprimir), resta-nos imaginar como seria um museu de viagens de José Megre...

As pessoas e os sítios

Mas as viagens são, também, pessoas. Ilustres, como Jorge Amado, com quem se cruzou na esplanada de um bar de Salvador da Bahia, ou actores de Hollywood, fazendo as suas vidinhas em Los Angeles. Mas, principalmente, os anónimos. O casal de portugueses que chegou à Tanzânia de carro, via Ásia, e que tomava conta de um hotel longe de tudo. Os guardas de um forte português no Gana, chamados Cecília e Manuel. A jovem iraniana Sherazade, que os guiou na cidade de Esfahan e no fim lhes implorou que a tirassem do país...

Mas também Rebecca, 25 anos, norte-americana do Alaska: "Foi uma experiência inesquecível sermos conduzidos por aquela jovem empedernida e completamente instruída a não passar das 40-50 milhas ao longo dos 900 quilómetros da Dalton Highway. Foi um verdadeiro trauma. A Rebecca era totalmente inflexível, radical e by the book. Dramático! E não me deixava fumar. Parava e tocava a buzina em todos os stops, sem qualquer trânsito, e metia a segunda em todas as descidas!"

Adiante. Observador atento, José Megre anota características das tribos africanas com que se cruza, pormenores de comportamento que variam nas antigas repúblicas soviéticas da Ásia, traços físicos dos nativos das ilhas do Pacífico. Nota a reter: as mulheres da zona do Corno de África são as mais belas do continente.

Não foi (só) por isso que o intrépido viajante elegeu a Etiópia como um dos "mais preservados e originais" países africanos. As gentes, as paisagens e os monumentos deixaram-lhe uma impressão muito forte, tal como aconteceu, noutras paragens, com o Iémen, o Butão ou a Samoa. As fotos que ilustram profusamente o livro explicam uma parte deste fascínio. O resto... bom, o resto, só indo lá.

E sair do sofá não é apenas uma questão de estar disposto a gastar tempo e dinheiro. Há que ter a filosofia certa, não desesperar, aproveitar as oportunidades. No livro, Megre relata incontáveis desventuras nas fronteiras, às mãos da burocracia e da corrupção, mas também incidentes mais graves, ameaças de homens armados, rajadas de metralhadora e explosões. O mundo não é um lugar tranquilo.

Até por isso será preciso ter, também, um bocadinho de sorte. Estar em Nova Iorque apenas duas semanas antes dos ataques às Torres Gémeas ainda parece banal, mas passar pelo rancho de Waco, Texas, e 48 horas depois acontecer ali o massacre da seita dos davidianos, isso já faz mais impressão... Megre viajou num helicóptero da Força Aérea Peruana que se despenhou pouco tempo depois, matando todos os ocupantes, e no Pacífico ouviu a notícia da queda do avião que haveria de apanhar no dia seguinte.

Sim, ele enganou a morte várias vezes. Nas areias dos desertos que adorava mais do que tudo e nas lamas das assassinas estradas dos Andes, nos gelos dos Himalaias e nas sufocantes florestas tropicais. Seguiu sempre em frente. Quando os tratamentos ao cancro de pulmão já o enfraqueciam, ainda arranjou força para visitar alguns dos países que lhe faltavam e para ligar o Alaska a São Francisco em quatro rodas.

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