Fugas - Viagens

Pedro Cunha

O campo de visita à cidade

Por Maria Lopes

A Quinta do Zé Pinto, em plena Lisboa, consegue arranjar um cantinho para as crianças imaginarem que estão bem mais longe do bulício da cidade. Há póneis para dar uma voltinha, uma (ainda) pequenina horta e um percurso pelos cereais semeados no campo

Não pretende substituir-se ao campo verdadeiro nem sequer fazer de conta que não se está quase no centro de Lisboa. Os promotores da Quinta do Zé Pinto aproveitaram um baldio em Campolide, recuperado no ano passado pela Câmara de Lisboa, para mostrar aos mais novos pequenos retratos do campo. O campo de girassóis deu lugar agora a diversos cereais, uma horta, um picadeiro e um espaço para contos.

Olhando em volta, parece que se está na fronteira entre a cidade e o campo. De um lado estão os prédios baixos de uma parte do bairro de Campolide, do outro há uma via rápida, do outro ainda os arranha-céus de Sete Rios. Só se respira de pulmões mais abertos quando se olha um pouco mais longe, sobre o aqueduto das Águas Livres, a poente, para a mancha verde que é a colina de Monsanto.

O projecto da Quinta do Zé Pinto foi desenvolvido a pensar sobretudo nas escolas, que ali vão nos dias úteis, mas há alguns fins-de-semana reservados para actividades em família e a entrada é gratuita. Pretende-se recrear um campo agrícola para ensinar às crianças coisas sobre cereais e o trabalho no campo, mas também ajudar a desenvolver o respeito pela natureza e promover a educação ambiental, contam os promotores.

Com monitores, faz-se um percurso pedagógico sobre a vida dos cereais, desde a semente, como são produzidos, como se desenvolvem, com que aparência chegam ao nosso prato - sob a forma de pão, massas ou cereais do pequeno-almoço -, e a sua importância na roda dos alimentos. Fala-se também sobre a diversa maquinaria usada na lavoura e respectivas funções, desde o simples tractor e suas alfaias, como a grade de discos para revolver a terra até à ceifeira e à enfardadeira, passando pelo semeador ou pulverizador.

Com a chuva dos últimos tempos, a zona dedicada às searas - dois terços da área da quinta - está verdinha. Ali foram semeados em Outubro e Novembro talhões de cereais de Outono/Inverno: trigo mole, trigo duro, centeio, aveia, cevada, tremocilha e triticale. Quem não conhece ainda não consegue perceber bem a diferença entre estas culturas, mas uma placa assinala cada uma delas.

Mas se não é possível distingui-las pela ervinha, as crianças podem ficar a conhecer cada grão: no chão, junto à cerca, há saquinhas de serapilheira com uns quilinhos de sementes de cereais. As crianças são incentivadas a meter as mãos nos sacos e sentir as cócegas que as sementes provocam na pele.

Mas mais interessante que olhar para os cereais, para a pequena Margarida, de laçarote na cabeça, é cavar a terra e plantar os pequenos rebentos de beterraba. Espera que alguém lhe empreste um pequeno sacho para ajudar a enfiar no chão, já com regos desenhados, as plantinhas de alho francês, de alface ou cebola ainda com um pedacinho de terra em volta da raiz.

A pequena horta é responsabilidade da dona Alice, que quase poderia ser a Alice no País das Maravilhas, tendo em conta os quase milagres que tem que fazer para que as sementes e os pequenos legumes sobrevivam num solo de saibro, pouco propício a culturas. As ervilhas já vão com palmo e meio de altura, quase a pedir umas caninhas que as amparem; as alfaces manchadas e as couves tentam sobreviver no meio das ervilhas. Num canteirinho ao lado, as cenouras estão prestes a despontar, mas os pés das crianças teimam em dificultar-lhes a vida.

--%>