Há cidades, montanha e, claro, praias. Estas últimas são todas pequeninas, comenta um médico do continente radicado na ilha há mais de 30 anos. Mas acrescenta, à laia de aviso ao forasteiro: "Com bom tempo, são preciosas." Esqueçam, então, praias com areal a perder de vista e horizontes rasgados. E esqueçam também a brancura da areia, que a geologia local não autoriza de todo. Aqui, todos os caminhos levam ao mar, mas a relação deste com a terra rege-se por outras leis que importa apreender.
Perdido por um, perdido por mil. Faça-se então jus ao provérbio e, partindo de Ponta Delgada, tome-se directamente a estrada para a Ponta da Ferraria, na costa oeste da ilha. Olhando para a água a partir do Miradouro da Ponta da Ferraria, o que surpreende é a "hostilidade" do local, integrado no Monumento Natural Regional do Pico das Camarinhas e Ponta da Ferraria - rochas e mais rochas escuras, num amontoado convulso que parece obra de uma mão gigante irada, mesmo quando são vistas muito de cima. Em destaque, um pequeno cone piroclástico formado pela antiga fluência de lava em direcção ao mar.
O que distingue este local de todos os outros - tem um pôr do sol magnífico - é a elevada temperatura atingida pela água do mar numa piscina natural onde é absolutamente aconselhável só mergulhar na maré cheia. A explicação é simples: a água termal da Ferraria, cujas características físico-químicas são conhecidas há muito tempo, jorra a mais de 60 graus Celsius...
O complexo balnear ali existente tinha atingido um avançado estado de degradação, o que levou o Governo regional a investir quatro milhões de euros na sua remodelação e recuperação - alargamento da via de acesso, criação de parque de estacionamento, melhoria da ligação entre o edifício e a zona balnear, equipamento desta última com estruturas de apoio aos banhistas. (spa termal já em funcionamento, mais informação em O spa das águas milagrosas por Luís Maio, 08.05.2011)
A concretização deste plano não agradou a toda a gente e os Amigos do Calhau (associação ecológica pela defesa da natureza, do ambiente e do património) criticaram a substituição da lava pelo betão e o que consideram ser uma descaracterização do local. Pelo que é dado ver no local, não parece que tenham muita razão.
A obra fez-se e, já este ano, foi aberto concurso público para a concessão da exploração comercial e turística das Termas da Ferraria. Ninguém se candidatou e o governo regional optou pela adjudicação directa. As termas abriram no Verão de 2010.
Como ir
A Ponta da Ferraria encontra-se na costa oeste de São Miguel. É o ponto mais ocidental da ilha, distando 62 quilómetros da Ponta da Marquesa, o ponto mais afastado na costa leste. A melhor forma de lá chegar é de automóvel, partindo de Ponta Delgada em direcção ao aeroporto. A estrada, sempre junto ao mar, proporciona uma magnífica vista da costa, passando junto a Relva, Feteiras, Candelária e Ginetes. Nesta última localidade, sair da estrada principal virando à esquerda, em direcção à Ponta da Ferraria. O acesso está bem sinalizado e é impossível perder-se.
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+ E ainda na Ferraria: O spa das águas milagrosas por Luís Maio, 08.05.2011
