Fugas - Viagens

Adriano Miranda

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Omã - Deserto, incenso e luxo

Chegam, às dezenas, camionetas de caixa aberta com cabras, cabritos, ovelhas, vacas e bezerros, atados com cordas ou ao colo dos vendedores, se forem pequenos. No recinto há vários pilaretes onde podem ser amarrados os bichos, e uma espécie de praça no centro, à volta da qual os donos circulam os animais para fazerem uma mistura de leilão com regateio. Às vezes há um animal mais empolgado que arremete contra a multidão, mas nada acontece. As vozes elevam-se, às vezes esganiçam-se, na tentativa de vender um pouco mais caro ou comprar mais barato. Há caras ofendidas com ofertas baixas e contentes com bons negócios.

Saindo deste mercado há um souk normal e o forte de Nizwa, que não é, no entanto, um dos "fortes portugueses", uma das marcas deixadas pelos 143 anos de domínio português de Omã, mas sim construído pelo líder omanita "famoso por ter expulsado os portugueses", Imam Sultan bin Saif bin Malik Ya'arubi.

Noite no deserto
Dormir debaixo de estrelas

Vamos dormir ao deserto? E pode-se ir, nessa mesma noite. As Wahiba Sands não intimidam nem envolvem grande logística. Estão ali, à mão de semear, na estrada entre Mascate e a cidade portuária de Sur. As agências que oferecem alojamento em campos podem apanhar quem se tiver decidido num qualquer ponto da estrada ou perto de Al-Mintirib, o acesso mais fácil. Também é possível ir sem guia (deve ir-se sempre em grupo, com mais do que um carro) e acampar debaixo de uma ou outra árvore ou entre dunas, mas aí é preciso pensar na logística. Sempre são 150 por 80 quilómetros sem estações de serviço: há os campos que organizam viagens e alojamento e há os beduínos, ocupados com a sua vida e que aos turistas só têm para oferecer o que fazem para vender (roupa, bijutaria tradicional, máscaras como as que as beduínas usam para proteger a pele do sol) e mostram enquanto servem café e tâmaras doces como o mel. Se a visita acontecer ao fi m do dia, também se garante que muitas crianças aparecerão para brincar de manhã há uma carrinha de caixa aberta que as leva à escola, para lá das dunas.

As Wahiba Sands não intimidam mas enchem as medidas. Dunas de areia branca e vermelha, assim mesmo, como se imagina, que podem ter mais de 100 metros. Os campos oferecem passeios de camelo, de jipe (para descer e subir dunas a uma velocidade só aconselhável a entendidos) e esqui na areia, para além das visitas aos acampamentos beduínos e dos passeios de camelo (que na verdade são dromedários e frequentemente dromedárias). Têm bungalows cobertos com folhas de palmeira e diante destes estrados para quem quiser dormir ao ar livre, casas de banho, duches e refeições. Há um calendário de corridas de camelos para assistir (os beduínos vivem de criar camelos) e ocasionalmente haverá animação musical, mas não é por isso que as Wahiba valem.

O que vale é mesmo isto: ter a sorte de chegar ao campo escolhido com quem se estiver e não encontrar lá mais ninguém (acontece); ir visitar os beduínos ao fi nal do dia; dormir no estrado a ver as estrelas e a sentir o fresco a chegar; acordar antes do sol e sair para um passeio de jipe sem perder tempo com um grande pequeno-almoço; passar pela carrinha das crianças a caminho das dunas maiores e dizer-lhes adeus; trepar a algumas dunas de jipe, descer outras a pé ou a rebolar, tentar a prancha; dar uma volta de camelo e regressar para um pequeno-almoço de reis que depois das dunas saberá a manjar de deuses.

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