Fugas - Viagens

Rui Gaudêncio

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Nas duas margens do grande diamante por lapidar

Comecemos por dar um salto até Monsaraz. Não fi ca nem a 50 quilómetros da Amieira. Com uma estrutura quadrangular que mistura elementos medievais com seiscentistas, este castelo foi tomado pela última e definitiva vez no século XVIII. Parece uma mini aldeia com casas brancas e portas de madeira, que ajudam a decorar o xisto dos muros e o chão negro. Os vasos pendurados nas paredes e algumas buganvílias ajudam a completar um cenário amoroso.

Apenas alguns telhados bolorentos e casas com a cal a cair destoam, já que todo o restauro e recuperação do interior das muralhas foram feitos pelos populares. Até a calçada do chão tem a assinatura de três conhecidos pedreiros de Monsaraz. Por seu lado, as cúpulas fazem lembrar as chaminés algarvias e as lojas de artesanato transportam-nos até às típicas mantas alentejanas e à colorida cerâmica. Não fossem as antenas da televisão por cabo e alguma roupa estendida visivelmente molhada, quase não se adivinhava que, afinal, o castelo não é apenas uma espécie de museu. Perto do Verão realiza-se o Monsaraz Museu Aberto, com diferentes actividades que dia e noite pintam as históricas muralhas, como torneiros medievais.

A zona mais alta do castelo serve de miradouro, onde na paisagem nem o cemitério atrapalha. Respira-se ar puro. Deixa-se os pulmões encher até não poder mais. Respira-se silêncio. Um silêncio que apenas é interrompido aqui e ali por uma motorizada e por alguns cães que ladram para um movimento ou presença que sonhavam. Também daqui é possível ver cavalos que dão à cauda e tentam afastar as moscas preguiçosas.

Para aqueles a quem uma noite num barco é uma ideia que provoca algumas náuseas, há sempre uma excelente alternativa: turismo rural. No hotel rural Horta da Moura pode comer, dormir e aquecer-se num quarto com lareira e, na manhã seguinte, aproveitar para visitar esta magnífica quinta e, quem sabe, andar a cavalo no picadeiro. Carregadas as baterias, porque não cruzar a fronteira e visitar outro castelo, desta vez na Extremadura? Extremadura?

Ver o vinho nascer

Em Alconchel está o Castillo de Miraflores, para o qual temos a oportunidade de subir quase lado a lado com um rebanho cujos sinos vão tilintando. Os tijolos mais avermelhados não deixam dúvidas de que é espanhol. No entanto, no passado, chegou a ser reconquistado pelo rei D. Afonso I de Portugal e, posteriormente, recuperado por Espanha, tendo também estado nas mãos dos templários durante largos anos. Nos anos 1980 projectou-se aproveitar o interior das muralhas para desenhar um hotel rural. As obras chegaram a avançar mas não houve mais fundos e, neste momento, as estruturas desenquadradas esperam um novo futuro. Aproveitar uma das salas para divulgar a rota dos castelos é uma das hipóteses. Na época do Natal também se fez uma moldura viva e recriam-se alguns eventos medievais.

Não muito longe do castelo encontra-se um local onde, mais do que beber o excelente vinho da região demarcada do Guadiana bem acompanhado por presunto de pata negra, pode respirá-lo. Na Bodega Puente Ajuda há visitas organizadas a todo o processo desde que a uva tinta ali chega até que sai em garrafas apetecíveis e disponíveis em preços para várias bolsas. Ainda antes de provarmos o vinho translúcido e frutado já parece que ele nos corre nas veias. O segredo, dizem os proprietários, é respeitar o saber de antigamente e dar uma grande mãozinha com as novas tecnologias.

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