Fugas - Viagens

Rui Gaudêncio

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Nas duas margens do grande diamante por lapidar

Depois de um almoço nesta adega, o ideal é voltar ao contacto com a natureza. Percursos pedestres, observação de pássaros... ideias não faltam para continuar o dia em terras espanholas. Uma paragem obrigatória na Puente Ayuda. Mandada construir por D. Manuel no início do século XVI para ligar Elvas a Olivença, ficou conhecida pela sua robustez e construção inovadora. Uma resistência que, contudo, acabou por ceder às várias investidas do lado português e espanhol, ligados pela ponte, da qual agora só restam ruínas, apesar de dar para ver bem os arcos que um dia uniram os dois países.

Terminado o passeio, porque não ir, por exemplo, comer irresistíveis enchidos e uma técula mécula (uma sobremesa de ovo e amêndoa) até Olivença

Olivenza? - a polémica terra que tanto portugueses como espanhóis reclamam ser sua e que já trocou várias vezes de donos. Olivença foi oficialmente portuguesa durante mais de 500 anos, de 1297 a 1801 (com alguns intervalos pelo meio), ano em que foi ocupada durante a Guerra das Laranjas, tendo o confronto ficado assim conhecido pelo facto de o invasor, o general Godoy, ter enviado à sua suposta amante, a rainha Maria Luísa, uma cesta de fruta colhida em Elvas. Os portugueses reclamam, contudo, a força do Tratado de Viena, de 1815, que obrigava à restituição do território, mas os espanhóis guiam-se pelo anterior Tratado de Badajoz, que dizem ter mais validade. Apesar da polémica, do lado da diplomacia a questão tem sido, essencialmente, ignorada para não acender mais problemas.

Chegados à pequena terra amuralhada há vários indícios da cultura portuguesa, a começar pela calçada que decora o chão. Mas as senhoras mais velhas aperaltadas e a jogar cartas no café com vozes ruidosas não deixam grandes dúvidas que o coração de quem aqui vive já habla castellano. Os avós e bisavós ainda trocam umas palavras de português, em especial quando não querem ser entendidos pelos mais novos. Mas não passa disso.

Este pueblo converteu-se. O português deixou marcas nos monumentos e nas casas, mas a maioria foi eliminada. Mesmo assim, vale a pena pernoitar no recuperado Palácio Arteaga para ter tempo para procura-las nas várias igrejas e capelas que aparecem a cada esquina e onde ainda resistem azulejos centenários. E, para os mais saudosistas, nada como visitar o Museu Etnográfico González Santana, instalado num anexo ao castelo de estilo pombalino onde ainda sobrevive um escudo português.

Nesta verdadeira casa de bonecas não falta nada: mais de 7000 peças transportam-nos até um tempo onde o grande lago ainda nem era sonhado e mostram-nos diferentes actividades da altura. Um tempo em que as secretárias das escolas ainda eram de madeira, em que os professores tinham estrado e em que as canetas se molhavam na tinta. Em que o consultório médico parecia uma casa de terror, em que os brinquedos não eram de plástico, em que o barbeiro ainda tinha muitos utensílios para cortar a barba e mecanismos para arrancar os dentes.

Como ir

Vindo de Sul, apanhar a A2. Vindo de Norte, a A6 é a melhor opção. A partir de Évora ou Beja, seguir a indicação para Portel, via IP2. Ao chegar a Portel, sair do IP2 e seguir a direcção de Alqueva Moura via N384. Nesta estrada virar à esquerda para a Amieira quando surgir a indicação, via R255. Por fim, na rotunda da Amieira seguir a indicação "acesso local" e Amieira Marina.

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